Como as mudanças urbanas redefinem o futebol de várzea
Por Christina Queiroz (Autor).
Resumo
Modalidade esportiva se transforma diante do crescimento das cidades e da escassez de terrenos para jogos
os finais de semana, o Campo de Marte, no bairro paulistano da Casa Verde, reúne centenas de pessoas em torno de seis campos de futebol de terra batida. Calcula-se que ao menos 200 partidas são disputadas ali aos sábados e domingos, enquanto torcedores acompanham os jogos em cadeiras dobráveis e crianças correm pelo espaço. Alguns times chegam uniformizados, outros jogam sem camisa e certos atletas arriscam entrar nas partidas descalços. Essas cenas, que há mais de um século se repetem país afora, estão se tornando cada vez mais raras, na medida em que as cidades crescem e a especulação imobiliária avança. Assim, o futebol de várzea, que nasceu da ocupação espontânea de terrenos e da mobilização comunitária, precisa lidar com a escassez de áreas disponíveis para jogos e disputar espaço com condomínios, estacionamentos e centros comerciais.
Os primeiros registros da prática de futebol no Brasil datam do final do século XIX. Nessa época, migrantes, imigrantes, afrodescendentes e operários organizavam partidas em campos improvisados nas várzeas de rios, ao lado de linhas de trem ou em terrenos baldios. No caso de São Paulo, uma das primeiras partidas noticiadas em jornais aconteceu em 1895, quando o brasileiro de ascendência britânica Charles William Miller (1874-1953) promoveu um jogo na Várzea do Carmo, no bairro do Cambuci. “Esse espaço, que mais tarde se tornou um reduto do futebol amador paulistano, marcou o início da difusão do esporte pela cidade”, afirma o geógrafo Alberto Luiz dos Santos, um dos curadores da mostra Vozes da várzea, em cartaz no Museu do Futebol, em São Paulo, até o final de abril.