Resumo
O objetivo da pesquisa foi verificar os correlatos do comportamento sedentário de escolares de uma comunidade do Pantanal sul-mato-grossense. Trata-se de um estudo transversal, realizado com adolescentes de 11 a 18 anos de idade, matriculados na rede pública de ensino da cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Participaram do estudo 1,692 adolescentes (861 moças) que responderam um questionário sobre atividades do comportamento sedentário pelo instrumento Helena, incluindo os fatores ambientais, intrapessoais e interpessoais relacionados ao tempo de tela (televisão, computador e jogos eletrônicos), a prática de atividade física dos adolescentes pelo PAQ-A, e questões sociodemográficas. Foi utilizado o ponto de corte de ≥2 horas/dia para o tempo de tela. A prevalência do comportamento sedentário em diferentes contextos e os correlatos em adolescentes foram analisados pela regressão logística binária. Houve diferença significativa (P<0,001) no uso dos jogos eletrônicos durante a semana e nos finais de semana entre os sexos (moças=27,8% e rapazes= 53,1%; moças= 44,5% e rapazes= 73,5%, respectivamente). O estudo também verificou a associação entre fatores ambientais (uso de tela pelos pais), fatores sociais (contexto familiar, apoio social e controle dos pais) e tempo de tela dos adolescentes, com ênfase em possíveis fatores mediadores intrapessoais (expectativa e autoeficácia), por meio do modelo de equação estrutural. Adotaram-se os coeficientes de ajuste e seus valores aceitáveis, sendo eles CMIN/DF<4, RMR<0,08, RMSEA<0,06 e GFI>0,9. As análises foram realizadas no programa estatístico SPSS 23.0 e AMOS 23.0, adotando P<0,05. Observou-se que a disponibilidade de aparelhos eletrônicos no ambiente doméstico teve efeito direto positivo no tempo total de tela entre as moças (P<0,05). O uso de tela pelos pais teve associação significativa com o tempo de tela dos adolescentes (P<0,05). A expectativa exerceu efeito direto no tempo de tela entre as moças e os rapazes (β=2,841 e 4,021, respectivamente, P<0,001). O apoio social manifestou efeito direto positivo entre os rapazes no tempo de tela (β=1,119, P<0,001) e o controle dos pais identificou efeito direto inverso ao tempo de tela em moças e rapazes (β= -0,495 e -0,603, respectivamente, P<0,05). A expectativa foi mediada pelo apoio social entre os adolescentes (P<0,001) e a autoeficácia foi mediada exclusivamente pelo contexto familiar em relação ao tempo de tela (β= 0,491 moças e 0,282, rapazes, P<0,001). O controle dos pais teve parte do efeito no tempo de tela e a expectativa exerceu maior efeito sobre o desfecho observado, em ambos os sexos (P<0,05). Conclui-se que a prevalência do comportamento sedentário em diferentes contextos foi elevada entre os adolescentes do Pantanal. Os ajustes dos modelos teóricos elaborados foram considerados aceitáveis e explicaram que a expectativa e a autoeficácia mediaram parcialmente à relação entre o fator ambiental doméstico e o tempo de tela em adolescentes. A disponibilidade de aparelhos eletrônicos apresentou efeito direto positivo para o tempo de tela entre as moças. O controle dos pais teve associação inversa ao tempo de tela dos adolescentes e o apoio social mostrou associação inversa ao tempo de tela entre os rapazes. Resumindo, a expectativa exerceu forte influência no tempo de tela dos adolescentes.