Resumo
A expressão Promoção da Saúde tem sido utilizada com significados diversos. Desde 1986, com a Carta de Ottawa, pode ser entendida como o processo de capacitação da comunidade para atuação na melhoria da qualidade de vida e saúde. Com o amadurecimento das práticas, o conceito aproximou-se da perspectiva dos determinantes sociais em saúde, ou seja, os elementos de ordem econômica e social que afetam a situação de saúde de uma população, destacadamente, renda, educação, condições de habitação, trabalho, saneamento e meio ambiente. Juntamente com essas formas de ação, estão sendo articulados os conceitos de empowerment, advocacy, accountability e governance. Partindo desse quadro de referências, buscou-se desenvolver estudo qualitativo, alinhado a obtenção da compreensão de como se dá a relação saúde-atividade física (AF) na comunidade do Complexo São Marcos, Campinas ? SP, bem como a exploração dos fatores do acesso limitado aos programas de atividade física. Para coleta dos dados, utilizou-se a técnica de grupos focais, realizados com mulheres freqüentadoras de instituições assistenciais locais. Para análise do material foi construído os respectivos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC), a partir do aplicativo QualiQuantiSoft®, desenvolvido na Universidade de São Paulo. Do imenso volume de informações apreendidas nesta investigação, bem como de reflexões por elas sugeridas à luz da respectiva literatura técnica, avultam alguns aspectos para consideração. Dessa forma, os resultados e discussão são apresentados de acordo com três temas de interesse: Saúde Coletiva e Atividade Física (SCAF); aspectos atuais do Sistema Único de Saúde e Desigualdade Sociais; e Políticas Públicas e Participação Popular, nos quais são destacados os DSC resultantes. As conclusões do presente estudo destacam i) distanciamento da população estudada tanto para com as condições básicas de saúde e moradia como para demandas relacionadas à AF sistemática; ii) receptividade da inserção, num processo de empoderamento dos protagonistas sociais locais, do diálogo a partir de questões relacionadas à cotidianeidade; iii) de forma geral, a dependência a programas governamentais que viabilizam verba mínima para manutenção de necessidades prioritárias à vida. Quanto à relação AF e saúde pode-se apontar a existência da compreensão de que AF é benéfica, a depender das características da sua prática, bem como relativo discernimento quanto ao atual aumento do sedentarismo, no entanto, apesar disso, ausência de AF no dia-a-dia das pessoas. Tais constatações são entendidas pelas próprias condições sociais descritas, mostrando que necessidades básicas para a cidadania, como situação de moradia e alimentação, são naturalmente priorizadas pelas comunidades carentes, à medida em que não são solucionadas por ações governamentais.