Resumo

Nas décadas de 1980 e 1990, clubes e seleções brasileiras de basquetebol obtiveram conquistas expressivas a nível internacional, que definiram a perspectiva de nossa comunidade acerca da prática da modalidade. Porém, a ciência do esporte produziu pouca literatura acerca dessas conquistas, gerando imprecisões quanto a interpretação desses fatos esportivos. Objetivo: Analisar as tendências tático-técnicas das principais conquistas do basquetebol brasileiro nas décadas de 1980 e 1990 nos naipes masculino e feminino. Métodos: Esta pesquisa possui caráter transversal, observacional, realizada por meio de análise notacional. Partidas analisadas: i) final do mundial masculino de clubes 1981; ii) final do mundial masculino de clubes de 1985; iii) final do campeonato Pan-americano masculino de 1987; iv) final do campeonato Pan-americano feminino de 1991; v) final do mundial feminino de clubes de 1993; vi) semifinal do mundial feminino de seleções de 1994; vii) final do mundial feminino de seleções de 1994. Os vídeos das partidas estão disponíveis na plataforma digital youtube.com. Os dados foram coletados por um treinador de basquetebol com experiência de três anos em análise de jogo de alto rendimento. A reprodutibilidade intra-observador foi avaliada e certificada como excelente. As variáveis analisadas no estudo foram: i) indicadores de desempenho discretos tradicionais (e.g., arremessos, rebotes); ii) indicadores das redes de interação – Grau de entrada médio: número de arestas direcionadas para um determinado nó do grafo (onde cada nó representa um atleta), indicando as conexões que cada atleta recebe; Grau de saída médio: número de arestas que partem do atleta, indicando quantas conexões cada um realiza; Centralidade de intermediação média: medida de quantos dos caminhos mais curtos entre pares de nós passam pelo atleta, indicando o papel de cada atleta como intermediário nas comunicações. Foi realizada análise descritiva e inferencial por meio Equações de Estimativa Generalizadas (alfa de 0,05) para comparação do desempenho entre as equipes em cada partida. Resultados: Resultados dos indicadores de desempenho revelaram que na partida entre Brasil e Estados Unidos no Pan-americano masculino de 1987, a seleção brasileira teve cinco jogadores com índice de eficiência superior a 14. Dos 120 pontos convertidos, 54 foram dentro do garrafão e 31 de contra-ataque, algo contra-intuitivo considerando o destaque tradicionalmente manifesto em relação ao contra-ataque nessa partida. Os indicadores de interação social apontaram tendência não-significante (p > 0,05) de maior colaboração por parte dos Estados Unidos (Brasil e Estados Unidos, respectivamente, 8 nós – 40 arestas; 13 nós – 63 arestas). Na partida em que o Brasil se sagrou campeão mundial feminino em 1994, a seleção brasileira teve cinco jogadoras com dez ou mais pontos. Dos 96 pontos convertidos, apenas 18 foram de jogadoras não titulares. A interação entre as brasileiras apresentou tendência de ser menor que das chinesas, respectivamente, 8 nós – 39 arestas; 10 nós – 59 arestas. Já a colaboração em pequenos grupos teve tendência a ser maior. Demais partidas apresentaram igualmente nuances entre as equipes. Conclusão: A análise quantitativa e fundamentada do desempenho das equipes mostrou-se adequada para fundamentar as conquistas históricas do basquetebol brasileiro na perspectiva da ciência do esporte, contribuindo para uma compreensão precisa dos êxitos esportivos.

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