Considerações finais

Parte de Manual de atividade física adaptada para pessoas com esquizofrenia . páginas 25 - 26

Resumo

Atualmente, as políticas de saúde mental, disseminadas internacionalmente, são instrumentos poderosos para promover o bem-estar dos indivíduos, em diferentes países, culturas e sociedades. As evidências, cientificamente sustentadas, sobre o impacto da AF na redução dos encargos e custos de saúde pública relacionados com a doença mental, têm sido incorporadas nas diretrizes das agências nacionais e internacionais. As recomendações para a inclusão da AF e do exercício como abordagem terapêutica no tratamento da DMG e, particularmente, na esquizofrenia, são inequívocas. Está comprovado que a AF e o exercício têm múltiplos benefícios para a pessoa com esquizofrenia. Por outro lado, as abordagens multimodais são fundamentais para ultrapassar as barreiras e melhorar os níveis de adesão às intervenções focadas no exercício. No entanto, é tempo de seguir em frente e concretizar todas as recomendações e orientações que apontam para a emergência das intervenções na área da AF, exercício e estilos de vida saudáveis na população com esquizofrenia.  Considerando o impacto da saúde física no alcance de parâmetros ótimos de saúde mental e de bem-estar geral, é crucial a inclusão do profissional do exercício físico nas equipas multidisciplinares, responsáveis pelos serviços de saúde mental. A adesão aos programas de exercício físico, por parte da população com doença mental, está relacionada com a qualidade do serviço oferecido e com os atributos dos profissionais. As intervenções desenvolvidas em contexto inclusivo, tendo por base programas holísticos (i.e., que visam o desenvolvimento global e multilateral da pessoa) e implementadas por profissionais com excelentes competências de liderança, são as mais valorizadas pelos participantes105. A investigação demonstrou que as qualificações dos profissionais do exercício físico são o preditor mais significativo para o abandono da atividade106. Ou seja, as taxas mais baixas de desistência/abandono por parte dos participantes, em programas de exercício físico, estão relacionadas com a intervenção de profissionais qualificados, versados no desenho, prescrição e implementação do exercício para pessoas com doença mental, capazes de promover formas autodeterminadas de motivação para o exercício e de estabelecer uma relação de apoio, encorajadora, sem censuras ou críticas com o participante107. No entanto, em Portugal, a inclusão da AF e exercício na prática clínica tem sido lenta e, em muitos casos, inexistente. A incorporação de profissionais do exercício com formação especializada ao nível da AF adaptada e com conhecimento específico na psicopatologia não é uma prática generalizada. Como tal, urge mudar esta situação.