Resumo

Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura brasileira, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. A exemplo do que acontece em França, Itália, Espanha e Portugal, propõem-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos.

Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. História

Integra

O LUGAR DO ESPAÇO NO LAZER

 
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No oferecimento de atividades de recreação e lazer faz-se pensar no espaço destinado à essas atividades, em decorrência das funções básicas do lazer:

função educativa, caracterizada pelo interesse próprio dirigido para a ampliação dos horizontes mentais, busca de novas experiências e de novo conhecimento;

função de ensino, caracterizada pela assimilação ou aprendizagem das normas culturais, de ideais filosóficos ou políticos, das normas de convivência social ou de comportamentos;

função integrativa, que tem por objetivo solidificar ou integrar os grupos, principalmente os familiares, de amizade-companhia, de interesses comuns;

função recreativa, que compreende atividade relacionada com o descanso psicológico e físico;

função cultural, refere-se à compreensão e assimilação dos valores culturais ou à criação de novos;

função compensadora, seriam as atuações que, de alguma forma, nivelam as insatisfações das outras áreas da vida.

MARCELLINO (1983) considera que, muito embora as pesquisas realizadas na área das atividades desenvolvidas no tempo livre enfatizem a atração exercida pelo tipo de equipamento construído, deve-se considerar que, para a efetivação das características do lazer é necessário, antes de tudo, que o tempo disponível corresponda  um espaço disponível.

De que espaços falamos? Dos espaços de:

interesses sociais – quando os sujeitos se propõem a estarem juntos, face a face, e relacionarem-se, antes de tudo que possa acontecer decorrente do encontro;

 

interesses físicos – quando a proposta é feita em função de atividades corporais onde prevaleçam os exercícios do corpo;

interesses intelectuais – que têm como primeira instância o desenvolvimento do domínio cognitivo na atividade, não considerando o elemento criativo e sim o concreto, o racional, o lógico;

interesses artísticos – onde o produzido gera o encantamento (STUCCHI, 1997).

O espaço que nos interessa, são os espaços dos interesses turísticos, que têm como finalidade: mudança de paisagem, ritmo (saída do cotidiano), observação e sensação de outros estilos de vida, e também o turismo social se caracterizando por uma dimensão menor (STUCCHI, 1997).

Estes interesses, que também mostram uma dimensão concreta traduzida como lugares, podem ter significados diferentes em função da forma como cada sujeito os vê e os utiliza. Daí a preocupação com os estudos dos equipamentos de recreação e lazer deve ter como objetivos classificá-los segundo suas características físicas de construção, aspectos físicos estéticos e dimensões proporcionais aos locais geográficos em que serão implantados, como também agradar aos olhos de que os utilizará, inspirando confiança.

CAMARGO (1984) classifica os equipamentos de lazer segundo suas características físicas, seus oferecimentos e sua demanda. Adotando sua nomenclatura e classificação, STUCCHI (1997) apresenta-nos a seguinte descrição:

 

Equipamentos específicos

A frequência de determinado equipamento vai depender do local em que se situa e da demanda existente pela facilidade de acesso. As formas de existência dos equipamentos podem ser visualizados quanto à dimensão física do espaço e suas finalidades programáticas, como segue:

Equipamentos especializados

Conceito: são equipamentos destinados a atender uma programação especializada, ou uma faixa de interesses culturais específicos. Como exemplo, a “ academia de ginástica”;

Programação: voltada para um segmento dos interesses socioculturais da clientela. estruturada sobre uma modalidade específica de animação. Exemplo: os “parques aquáticos”;

Localização: em áreas urbanas, de grande concentração populacional;

Público: delimitado pelo interesse e pela localização;

Composição: geralmente de uma quantidade limitada de instalações para atividades;

Exemplos de equipamentos especializados: teatros, auditórios, cinemas, academias de ginástica, centros esportivos voltados para um interesse específico (natação, futebol, tênis, voleibol), bibliotecas, parques aquáticos, campos de golfe e/ou de minigolfe.

  1. Equipamentos polivalentes
  1. De dimensões e capacidades médias

Conceito: equipamentos destinados a receber uma programação diversificada, ou para atender variados interesses socioculturais. Com dimensões e capacidades para atender até 2.500 pessoas/dia, nas atividades permanentes, e até 5.000 pessoas simultaneamente, em eventos especiais ou de fins de semana;

Programação: atividades permanentes, temporárias e eventuais diversificadas, segundo públicos e interesses culturais;

Localização: preferentemente em áreas urbanas, próximas ao centro da cidade ou em regiões comerciais. Ou então em regiões de grande concentração populacional;

Atendimento: durante os dias da semana, período integral. E com ênfase nos finais de semana;

Público: de toda uma cidade, ou de uma região importante de uma grande cidade;

Composição: várias instalações para atividades, diversificadas por interesses socioculturais, por públicos e por conteúdos, de dimensões e capacidades entre média e grande, conforme o caso;

Exemplos: centros culturais em geral, quando associam instalações diversificadas – teatro, áreas de exposição, bibliotecas. Centro poliesportivo em geral. Parques urbanos. Centros culturais e esportivos.

  1. Equipamentos polivalentes grandes

Conceito: equipamentos destinados a atendimentos de massa, em uma programação diversificada, abrangendo variados interesses socioculturais. Com instalações de grandes dimensões e grande capacidade;

Programação: permanentes, temporária e de eventos, amplamente diversificada, segundo públicos, interesses socioculturais e conteúdo;

Localização: em uma região importante de um estado ou de uma grande cidade. Pode também se localizar em regiões da periferia das cidades, devido às dimensões de terreno necessário;

Atendimento: preferentemente nos fins de semana. Durante a semana, principalmente nos grandes eventos;

Público: de toda uma cidade, ou de uma região do estado;

Composição: várias instalações de grande capacidade, complementada por algumas instalações menores, diversificadas por interesses socioculturais, conteúdos e públicos. De preferência, priorizar as áreas verdes.

  1. Equipamentos de turismo

Conceito: equipamentos destinados a programação turística em geral, associando hospedagem e atividades recreativas;

Programação: além das programações tipicamente de hotelaria – recepção, hospedagem e alimentação, programações diversificadas de lazer e recreação;

Localização: preferencialmente em áreas de interesse turístico, pelas características geográficas-naturais e/ou histórico-culturais;

Atendimento: em temporadas de férias, em períodos determinados, em feriados e nos fins de semana. Ou nos períodos de pacote turístico programado;

Público: genericamente o mais amplo, do estado, do país e do exterior;

Composição: instalações para hospedagem, para alimentação (restaurantes, lanchonetes), e instalações para atividades de lazer, de preferencia diversificadas;

Exemplos: hotéis de lazer, resorts, colônia de férias, grandes parques em escala regional, estadual e nacional, quando têm unidades de hospedagem, camping, acampamentos, pousadas em locais retirados (praias, montanhas, reservas ecológicas), pousadas em cidades turísticas.

BIBLIOGRAFIA

BRUHNS, Heloisa Turini. Introdução aos estudos do lazer. Campinas : Unicamp, 1997.

CAMARGO, Luís Octávio Lima. O que é lazer. São Paulo : Brasiliense, 1984.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e humanização. Campinas : Papirus, 1983

STUCCHI, Sérgio. Espaços e equipamentos de recreação e lazer. in BRUHNS, Heloisa Turini. Introdução aos estudos do lazer. Campinas : Unicamp, 1997, p.105-122.

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O JOGO DAS ARGOLINHAS: O INÍCIO DO ESPORTE EM MARANHÃO

 
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Uma função essencial do calendário é a de ritmar a dialética do trabalho e do tempo livre. Trata-se de permitir o entrecruzamento do tempo mais disciplinado, mais socialmente controlado, com o tempo cíclico das festas e, mais flexível, do jogo.

Uma das funções do calendário está em articular os tempos de trabalho e de não-trabalho, ou ainda, articular o tempo linear-regular do trabalho com o tempo cíclico da festa, do jogo e, do mesmo modo, do esporte.

O calendário seria o resultado complexo de um diálogo entre a natureza e o homem; diálogo este não estranho ao lazer, ao esporte e ao jogo. (Le GOFF, 1992; GEBARA, 1997, 1998).

Em São Luís do Maranhão, a Câmara tinha que mandar celebrar, além da procissão de Corpus Christis, quatro festas anuais: a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro. Fora essas datas, só se realizavam cerimônias festivas quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo

Esses tempos de festa serviam para regular o calendário do trabalho. Ao contrário do uso do tempo após a  revolução industrial, o tempo era regulado pela natureza. O ritmo do trabalho era dado pelo ritmo do homem no comando de ferramentas e instrumentos de trabalho (GEBARA, 1997, 1998).

Em 1678, D. Gregório de Matos – primeiro bispo do Maranhão (1679-1689) – foi recebido com uma festa. Teve lugar, no adro da igreja, uma comediazinha. Finda ela, foi D. Gregório para a casa de Manuel Valdez, onde, por oito dias consecutivos, ou mais, houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria. (MEIRELES, 1977).

A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile de que fala um documento da Câmara de Coimbra, citado por Viterbo, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. (CÂMARA CASCUDO,1972).

Esse autor registra o termo “cavalhada” referindo-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha (CÂMARA CASCUDO,1972). Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria, como afirma GRIFI (1989), ao referir-se às atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas.

Ao descrever as distrações na Idade Média, Oliveira Marques ensina que, uma vez a cavalo, o nobre medieval podia entrega-se a uma série de exercícios desportivos. Desses, os mais vistosos e conhecidos eram sem dúvida as justas e os torneios, embora seja difícil distinguí-los. Em princípio, a justa travava-se entre duas pessoas, enquanto o torneio assumia foros de contenda múltipla.

No dizer de GRIFI (1989), a “giostra” era disputada somente entre dois cavaleiros, diferente do torneio que era combate em times. Eram usadas “armas corteses”, isto é, armas desapontadas ou cobertas por uma defesa. O confronto consistia de uma corrida a cavalo de um contra o outro, lança em riste, com o objetivo de desequilibrar o adversário, melhor ainda, de fazer cair, ao mesmo tempo, cavalo e cavaleiro.

Em torno do século XIV espalhou-se o mau costume de usar lanças ou armas desapontadas. Variante das justas eram as chamadas canas. Em vez de lanças, os jogadores, a cavalo, serviam-se de canas pontiagudas com que se acometiam. O jogo possuía as suas regras, evidentemente muito diferentes das que regiam os torneios. Popularíssimos no fim da Idade Média mostrava-se espetáculo quase obrigatório nos festejos públicos, ao lado das justas e das touradas.

O jogo das canas, de antiga tradição nacional, continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza. Da cavalaria medieval, que durante longo tempo conservou a tradição dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas.

As cavalhadas constituíram nos tempos coloniais e no Império um atraente exercício. Embora quase privativo dos jovens afortunados. Ao povo habituado à pasmaceira elas valeram por oferecerem espetáculos ou, como Fernando Azevedo escreveu, ‘memoráveis torneios de opulência aristocrática’.

Será preciso distinguir as cavalhadas que os mancebos ricos disputavam daqueles outros jogos que no Rio de Janeiro foram conhecidos como o jogo das manilhas e em tantos outros cantos do país com o jogo das argolinhas.

A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e, de acordo com GRIFI (1989), a corrida dall’anello – corrida do arco – consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos.

No Brasil, desde o século XVI se corre a argolinha, e chegou a estender-se até meados do século XIX. MARINHO (s.d.) refere-se a uma cavalhada realizada em abril de 1641, no Recife. Portugal estava sob o domínio da Espanha e esta em guerra com a Holanda. Os holandeses haviam invadido o Brasil quando sobreveio a trégua entre estes e os espanhóis, a qual, naturalmente, se estendeu às colônias. Para festejá-la, foram organizados torneios eqüestres em que portugueses e brasileiros competiram contra holandeses. Já CÂMARA CASCUDO (1972) registra uma encamisada realizada em março desse mesmo ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV.

Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão.

Para LOPES (1975), nesses torneios do tempo colonial os corcéis eram árdegos, de viçosa estampa e traziam arreios de preço. Os cavaleiros e seus ‘peões’ vestiam com esmero trajes de cores vivas e os primeiros, montados à gineta ou bastarda, exibiam a sua destreza na arte nobre de bom cavalgar.

Além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha (LOPES, 1975).

Concluindo, encontramos no Maranhão, ainda no Século XVII, como parte da herança cultural portuguesa, além das danças e comédias representadas no adro das igrejas, o entrudo e as cavalhadas, estas sob as formas de encamisadas, do jogo das canas e do jogo das argolinhas.

É a argolinha a primeira “manifestação esportiva” praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado (citado por CÂMARA CASCUDO, 1972), referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 – ou abril, conforme MARINHO (s.d.) -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses.

 

 

BIBLIOGRAFIA

CÂMARA CASCUDO, Luís da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. 3a. ed. atual. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.

GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org). Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Unicamp, 1997, p. 61 -81

GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98).

GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto,  1989.

Le GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1992

LOPES, Antônio. Meios de transporte na ilha de São Luís. in LOPES, Antônio. DOIS ESTUDOS MARANHENSES. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1975, p. 45-58.

MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo: Cia. Brasil Ed.(s.d.).

MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/ SIOGE, 1977.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS… São Caetano do Sul: CELAFISCS: UNIFEC, 1992, p 27.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial in ONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS… . Belém: UFPA, 1993, p 137.

VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. HOMO LUDICUS – ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA  CULTURA PORTUGUESA. vol. 2. Lisboa: Compendium, (s.d.).

 

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AS CAVALHADAS NO MARANHÃO

 
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A “Festa do Divino Espírito Santo” foi trazida para o Brasil ainda no século XVI. Em Portugal, a “Festa do Divino” aparece desde as primeiras décadas do século XIV e foi estabelecida pela Rainha D. Izabel (1271-1336), casada com D. Diniz (1261-1325) e começou com a construção da Igreja do Espírito Santo em Alenquer.

O cerimonial consta de passeio pela cidade, levantamento de mastro enfeitado de frutas naturais, feita por um grupo de caixeiras (tocadoras de caixa). Esta festa até hoje é realizada em Alcântara, com muita pompa e honraria. Mas sem as cavalhadas…

No processo de colonização do Maranhão a Igreja teve um importante papel, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É na igreja que essa população encontra uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia. Essa alegria era representada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso: O Te-Deum, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente.

Em 1678, o primeiro bispo, D. Gregório de Matos (1679-1689), foi recebido com uma festa foi,… “onde, por oito dias consecutivos houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria.”

As encamisadas constituíam-se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas-feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices. Primitivamente foi ataque de guerreiro, onde os soldados punham camisas sobre as couraças como disfarce. Depois, mascarada noturna, com archotes. Tornou-se desfile, incluído nas festividades públicas.

A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile, de que fala um documento da Câmara de Coimbra, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas.

O termo cavalhada refere-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria e se constituíam em atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Os principais e mais famosos jogos cavalheirescos eram: o torneio, o bigorno, a giostra, o carosello, o passo d’arma, a gualdana, a quintana, a corrida dall’anello.

As primeiras cavalhadas realizadas no Brasil acontecerem em abril de 1641, no Recife, embora haja registro de uma encamisada realizada em março daquele ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV.

Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão. Para Antonio Lopes, além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha.

A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. Originária de antiqüíssima justa, desde o século XVI que se corre a argolinha no Brasil.

No Mapa Cultural do IBGE, encontra-se a descrição de cavalhadas realizadas em Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba como cortejo e torneio a cavalo em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha com a ponta de lança, em plena corrida.

Jomar Moraes registrar em seu “Guia de São Luís” que cavalhadas, congadas, fandangos, cheganças e mascaradas, tivemo-los durante o período colonial

No Maranhão já as tivemos, as cavalhadas. Aliás, essa é uma frase que se costuma muito ouvir. Já tivemos…

A argolinha é a primeira “manifestação esportiva” praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado, referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 – ou abril -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses.

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O LÚDICO E O MOVIMENTO COMO ATIVIDADE EDUCATIVA

 
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O LÚDICO E O MOVIMENTO COMO ATIVIDADE EDUCATIVA[1]

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Introdução

A limitação da possibilidade crítica expressa na recente produção teórica da educação física brasileira (GAYA, 1994; TAFFAREL e ESCOBAR, 1994; BRACHT 1995) pode ser explicada pela ausência da categoria “atividade” no sentido marxista, explicativa das mudanças trazidas pelo modo de produção capitalista, pois a atividade lúdica do homem, entendida como toda atividade humana, aparece como um sistema incluído no sistema de relações da sociedade, não existindo em absoluto fora destas relações (TAFFAREL e ESCOBAR, 1994). Para essas autoras, quando se analisa  a atividade temos que assinalar que a atividade objetiva gera não somente o caráter objetivo das imagens senão também a objetividade das necessidades, das emoções e dos sentimentos. Argumentações como as que vem sendo utilizadas por alguns autores explicam-se pela não consideração da Educação Física  como produção não material que, em determinados estágios e pela influência de certos fatores próprios do sistema capitalista, sofre o mesmo processo de privação das suas qualidades sensíveis sofrido pela produção material.

GHIRALDELLI JUNIOR (1990) servindo-se de Marx – Capítulo Sexto (Inédito) de O Capital – diferencia dois tipos de produto: (a) aquele que é de fato o produto material, e que tem todas as possibilidades de se integrar à lógica do valor de troca e se transformar em mercadoria à medida que se instauram relações sociais capitalistas; e (b) aquele que é o produto não material, e que, pela sua própria natureza, coloca resistência à sua integração no âmbito das relações sociais capitalistas à medida que não se adapta à forma de mercadoria tão confortavelmente como o primeiro (p. 199). Para esse autor, o produto material é produzido para consumo posterior. Quanto ao produto não material, aparece uma nova divisão: existem aqueles que podem ser consumidos posteriormente, como o livro, o quadro, mas existem aqueles que são essencialmente consumidos no ato de produção, como o trabalho clínico do médico, a aula do professor, a efetivação na Educação Física do movimento corporal humano (em forma de aula, jogo, desporto, espetáculo, etc.). Aqui, neste segundo caso, é que o capitalismo e seu processo de mercadodização encontram mais resistência e só as vencem, dentro de certas medidas, alterando profundamente o produto em suas qualidades mais íntimas.

O nosso problema se concentra justamente nesse tipo de produto não material que se consome no ato de produção. O movimento corporal humano da Educação Física é singular, se realiza e, concomitantemente, vai sendo consumido por praticantes e assistentes. Não pode ser reproduzido de forma alguma. Um jogo, uma dança, etc., são situações históricas onde transcorrem subjetividades e relações objetivas particulares que jamais poderão se repetir.

Pergunta-se, então, o que é Educação Física? A pergunta pelo que é a Educação Física pode ser  interpretada como uma busca do ser da Educação Física, da essência. Mas o que é, então, a essência de algo ou de uma prática social? (BRACHT, 1995). Esse autor  coloca, como  Heidegger, que a essência da Educação Física seria aquilo que a define enquanto tal e concomitantemente a distingue de outras práticas ou fenômenos. Identidade é tomada como aquelas características que distinguem a educação física enquanto uma prática social específica, portanto conjunto de características que definem seu estatuto próprio e ao mesmo tempo a diferenciam (BRACHT, 1992). Buscando uma definição de termos básicos que delimitem, num primeiro momento, concretamente, um campo/objeto, esse autor advoga a utilização do termo educação física  para se referir a “prática pedagógica que tem tematizado elementos da esfera da cultura corporal/movimento” (1995, p. 35).

A corporeidade como objeto da educação física

No entendimento de ALVES (1997), as ações humanas se manifestam e se expressam corporalmente quando se pensa na multidmensionalidade do sujeito. Volta-se o olhar, em primeiro lugar, para a corporeidade.

SANTIN (1987, 1990, 1992, 1996) afirma que a corporeidade, sob o ponto de vista filosófico, não corresponde a um elemento mensurável, mas a uma imagem que construímos na mente. Após consultar dicionários e manuais, conclui que estes são ambíguos ao definir o que seja corporeidade: “a qualidade do ser corpóreo”, ou “aquilo que constitui o corpo como tal”, ou simplesmente,  como “a idéia abstrata do corpo”. Portanto, “a corporeidade seria a propriedade básica que nos garante a compreensão do corpo” (1990, p. 137). Em sua analise, parte de três atitudes para buscar os aspectos filosóficos da corporeidade: uma, ontológica, em que a corporeidade significaria exatamente aquilo que constitui o corpo como tal (1990, p. 137); outra, epistemológica, onde a corporeidade é tomada como a concretude espaço-temporal do corpo humano enquanto organismo vivo, a partir das descobertas das ciências experimentais, sendo assumida essa tarefa pela biologia, pela genética, pela anatomia e pela fisiologia (1990, p. 137-138); e uma terceira, que chama de fenomenológica, não está preocupada nem em garantir as bases ontológicas, nem construir uma epistemologia objetiva e rigorosa da corporeidade, mas tentar descrever as imagens de corporeidade que o imaginário humano construiu ao longo da história da humanidade, incluídas também as imagens metafísicas e científicas. Ela tenta captar as possíveis implicações culturais, sociais, educacionais, políticas e ideológicas que tais imagens geraram nos indivíduos e na sociedade. A corporeidade, portanto, sob o ponto de vista dessa atitude, não se constitui num elemento mensurável, ela é apenas a imagem construída na mente a partir da maneira como os corpos são percebidos e vivenciados (1990, p. 138). Conclui que o importante não é definir corporeidade, mas compreender as diferentes corporeidades que inspiram e determinam o tratamento dos corpos humanos, desenvolvidos pelas culturas humanas, em geral, e pelas atividades da Educação Física, em especial.

Para BRACHT (1992), a materialidade corpórea foi historicamente construída e, portanto, existe uma cultura corporal, resultado de conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumulados pela humanidade. Já PEREIRA (1988) fala de uma cultura física como toda a parcela da cultura universal que envolve exercício físico, como a educação física, a ginástica, o treinamento desportivo, a recreação físico-ativa, a dança, etc. BETTI (1992) lembra que Noronha Feio já se referiu a uma cultura física como parte de uma cultura geral, que contempla as conquistas materiais e espirituais relacionadas com os interesses físico-culturais da sociedade. E KOFES (1985) afirma que o corpo é expressão da cultura, portanto cada cultura vai se expressar através de diferentes corpos, porque se expressa diferentemente enquanto cultura.

Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA (1982) considera que a transformação da realidade objetiva é um processo material onde se entrechocam contradições de vária ordem que se torna imperioso superar e resolver, na linha da construção do Homem por si mesmo. Para esse autor, a Educação Física possui um objeto específico: as condutas motoras. Ao se referir às Culturas Física e Desportiva, afirma que esta advém daquela, entendendo por Cultura Física o aspecto criativo, subjetivo, original da pessoa, manifestado através da conduta motora do indivíduo. Do ponto de vista antropológico, Manuel Sérgio considera Cultura Física a maneira como os homens exprimem a sua conduta motora, em conformidade com a tradição e o modo de expressão grupal ou societária:

   “… Se a Cultura, na acepção usada neste passo, é o conjunto de comportamentos e de modos de pensar, próprios de uma sociedade, a Cultura Física não pode compreender-se desinserida de um clima gregário que preservou e perpetuou determinados valores e determinadas técnicas corporais. (…)

   “Daí que a Cultura Física, sob o ângulo de visão de que nos ocupamos agora, apresente os seguintes elementos culturais: usos e costumes, crenças, a linguagem, as tradições, a música, a dança, os padrões de comportamentos, etc. – e seja, por isso, o veículo transmissor de uma das feições, da conduta motora, que vão dar originalidade às Atividades Corporais de um povo. (…)

   “E, dessa forma, é possível descobrir na Cultura Física a história motora de uma comunidade e daqui partir em demanda da cultura e das estruturas sociais. A motricidade surge sempre carregada de sentido. Afinal, porque é ela a estar em jogo em qualquer actividade humana. (…)

   “… a cultura desportiva (…) representa um domínio da cultura física que sintetiza  as categorias, as instituições e os bens materiais, criados para a valorização da actividade física, nos quadros da pedagogia, do lazer ou da competição, com o fim do aperfeiçoamento biopsicológico e espiritual do homem…”.  (p. 62-63).     

O termo Cultura Corporal tem duplo sentido: no primeiro, se pressupõe uma técnica sobre o corpo, com a palavra cultura significando sinônimo de treinamento, adestramento do corpo; é nesse sentido que termos como culturismo e fisioculturismo são utilizados. O sentido de Cultura Corporal  parte da definição ampla de Cultura e diz respeito ao conjunto de movimentos e hábitos corporais de um grupo específico (DAÓLIO, 1995). Para esse autor, é evidente que o conjunto de posturas e movimentos corporais representam valores e princípios culturais. Ao falar das técnicas corporais, serve-se de Mauss,  que as definiu como as maneiras de se comportar de uma sociedade; esse antropólogo francês considerou os gestos e os movimentos corporais como técnicas próprias da cultura, passíveis de transmissão através das gerações e imbuídas de significados específicos: “… Técnicas corporais culturais, porque toda técnica é um hábito tradicional, que passa de pai para filho, de geração para geração”. Só é possível falar em técnica, por ser cultural.  (MAUSS, 1974, v.2, apud DAOLIO, 1995 : 26).

SOARES (1987), ao refletir sobre o esporte, considerando-o objeto do aparelho cultural num contexto de análise althusseriana, verifica que esta atividade está sempre a serviço das ações e relações sociais subjetivas de aprendizagem dos “saberes práticos” (“dessavoir fair”). Essas ações e relações são veiculadas através de sua prática, e, geralmente, estão em consonância e no contexto da proposta da classe dominante, com igual disseminação de chauvinismo de primeira ordem:

Então, poderíamos usar de mediação para a transformação, negando um objeto para substituí-lo por outro, ou seja, será negando totalmente o modelo-padrão de esporte elitista que daremos um salto para sua democratização ? Acreditamos que não. Adotando uma linha de pensamento Luckácsiana, não será através da ruptura com a cultura burguesa, em sua totalidade, que se fará emergir uma nova cultura. Mas, com a revisão crítica da cultura burguesa se resgatarão os elementos culturais válidos para qualquer situação de mudança.” (p. 36).

Atividade deve ser entendida como uma forma de apropriação da realidade e de modificação dessa, que mediatiza a ação humana na natureza. É, portanto, uma propriedade inerente à vida e que se torna humana quando consciente. A atividade produz a consciência e esta se apresenta como uma linguagem psíquica que revela ao sujeito o mundo que o rodeia (GOELLNER, 1992). Entende ser relevante, ao discutir a apropriação do conhecimento, abordar a questão da internalização, que nada mais é do que a reconstituição interna de uma operação externa, e que não se dá apenas numa transição simples da atividade externa para o plano interior da consciência, mas na formação do próprio plano; daí ser possível afirmar que  a construção do conhecimento e da cultura se dá, a princípio, num plano social e posteriormente, num plano individual. Serve-se de Marx para afirmar que a prática é a base do conhecimento humano, um processo que no decorrer do seu desenvolvimento faz surgir tarefas cognitivas que originam a percepção e o pensamento: a atividade humana, na sua forma inicial e básica é sensorial, prática, durante a qual os homens  se põem em contato prático com o mundo circundante, experimentam em si mesmos as resistências desses objetos e atuam sobre eles, subordinando-se às suas propriedades objetivas (p. 290).

SILVA (1985) entende ser a prática o processo capaz de servir para transformar a natureza e as relações entre os homens; devendo se orientar por um conhecimento que sirva de luz para o operar e agir da prática. A unidade teórico-prática deve se constituir numa totalidade dialética, a qual não privilegia nenhuma isoladamente. A prática é fundamental, pois é no concreto das relações sociais que o homem transforma e se transforma.

Conclusão

Marx, nos Fundamentos da crítica à economia política, já afirmava que “economizar tempo de trabalho é aumentar o tempo livre, isto é, o tempo que serve ao desenvolvimento completo do indivíduo. O tempo livre para a distração, assim como para as atividades superiores, transformará naturalmente quem dele tira proveito num indivíduo diferente”.

Ao se indagar qual a importância do lúdico e do movimento no processo educacional, se quer saber qual é a importância das atividades que se realizavam no tempo do não-trabalho, pois é na prática das atividades lúdicas e do movimento – atividades recreativas e desportivas culturais – que o homem conforma seus pontos de vista, seus juízos, suas convicções. Durante a atividade desenvolve suas capacidades de homem, sua iniciativa, sua individualidade. É nela que se dá a assimilação das normas de vida em comum, com a aproximação dos jovens com a riqueza material e espiritual criadas pelas gerações precedentes.

É na corporeidade que se situa o ponto central de encontro do homem consigo mesmo. Ela é “a presença  e a manifestação do ser humano…”. (SANTIN, apud ALVES, 1997, p. 939). Daí ser a corporeidade a condição primeira para que se reinstaure a presença  do ser humano (ALVES, 1997).

Referências bibliográficas

ALVES, Vânia de Fátima Noronha. Desvendando os segredos de um “programa de índio”: a linguagem corporal lúdica Maxakali. In CONGRESSO BRASILEIROS DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, X, Goiânia, 20 a 25 de outubro de 1997, p. 938-945. ANAIS… Goiânia : CBCE : UFGO, 1997, vol. II.

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GAYA, Adroaldo. Mas afinal, o que é Educação Física? REVISTA MOVIMENTO, Porto Alegre, 1 (1), setembro 1994, Separata, p. 1-6.

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GOELLNER, Silvana Vilodre. A categoria da atividade e suas implicações no desenvolvimento humano. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13 (2), Janeiro de 1992, p. 288-292.

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SANTIN, Silvino. EDUCAÇÃO FÍSICA : TEMAS PEDAGÓGICOS. Porto Alegre : Edições EST /     ESEF -UFRGS, 1992

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SOARES, Antônio Jorge G. Reflexões sobre as dimensões do esporte. REVISTA ARTUS, Rio de Janeiro, n. 20, dezembro de 1987, p. 36-39.

VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio. A PRÁTICA E A EDUCAÇÃO FÍSICA. 2ª ed. Lisboa : Compendium, 1982.

[1] Trabalho final da disciplina Problemas Fundamentais da Pedagogia, ministrada pela Dra. Ida Hernandez DEZEMBRO DE 1997; CONVÊNIO CEFET-MA/ISPETP-CUBA – CURSO DE DOCTORADO EM CIÊNCIAS PEDAGÓGICAS – INSTITUTO SUPERIOR PEDAGÓGICO PARA A EDUCAÇÃO TÉCNICA E PROFISSIONAL

ISPETP -CUBA

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O PROFISSIONAL DE TURISMO E LAZER

 
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O PROFISSIONAL DE TURISMO E LAZER[1]

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Mestre em Ciência da Informação

Introdução

O turismo é uma das atividades que mais cresce no Mundo. Por permitir rápido retorno do investimento, gerar empregos diretos e indiretos e por sua ligação com os mecanismos de arrecadação, o turismo é a atividade que mais contribui para o desenvolvimento de diversos países.

Para obter resultados é imprescindível que este turismo seja feito de forma organizada e racional. O Maranhão possui grande vocação para o turismo e o tem como símbolo de suas melhores expectativas de integração e desenvolvimento, graças às condições territoriais, climáticas e culturais. A participação do turismo no PIB brasileiro já é de 8%. Porém, o fluxo turístico em direção ao Brasil está muito aquém de nossas potencialidades. O momento exige a transformação do potencial latente em novos negócios e vantagens competitivas.

O que determina este quadro

O turismo envolve uma multiplicidade de serviços: transporte, hospedagem, alimentação, agenciamento, trabalho de intérprete e tradutor, guias turísticos, organização de eventos, entretenimento, etc. São muitas empresas e profissionais envolvidos, diversas interações e etapas a serem percorridas, tornando a atividade complexa e de difícil mensuração.

No Brasil, as estimativas da EMBRATUR, referentes ao ano de 1990, indicam 1,7 milhões de pessoas diretamente empregadas no turismo.

O despreparo desse enorme contingente de trabalhadores e a dificuldade de acesso que têm as pequenas e microempresas às novas tecnologias são grandes dificuldades a serem superadas no turismo.

Oportunidades

Investimento na formação da cultura do turismo, aqui incluídas a formação profissional e gerencial, é a grande lacuna que deve ser preenchida. Atuar neste cenário é propiciar a um maior número de investidores, empresários, técnicos e trabalhadores o ingresso no mercado de trabalho, favorecendo a geração de trabalho e renda, contribuindo inclusive para um melhor equilíbrio social.

Histórico do Lazer

A palavra lazer provém do verbo francês “loisir”, que tem origem por sua vez, na forma infinitiva latina de “licere”, que significa o permitido. O francês “loisir” dá origem à expressão inglesa “leisure“, que se utiliza tecnicamente para significar tempo livre. (DUMAZEDIER, 1979; JIMENEZ GUSMAN, 1986; SUE, 1992).

JIMENEZ GUZMAN (1986), ao analisar o sentido etimológico do lazer, detecta três tendências: para a primeira, o que caracteriza o lazer é a idéia de permissão para atuar – o lazer seria um conjunto de atividades nas quais predomina a ausência de restrições, de censuras, de proibições, de repressão; para a segunda, derivada do sentido etimológico do lazer, seria a ausência de impedimentos de ordem temporal – o lazer seria, antes de tudo, um tempo livre, sem restrições, sem ataduras, sem compromissos; já para a terceira tendência, seu sentido etimológico radicaria em uma qualidade de ordem subjetiva – o lazer seria constituído por uma série de atividades livremente escolhidas, atividades autônomas e agradáveis, benéficas física e psicologicamente.

Para quem busca o sentido de lazer em sua evolução, esse autor as agrupa em duas fundamentadas posições histórico-evolutivas: a noção de lazer se origina na noção grega de “scholé“, tempo ocupado por atividades ideais e nobres para o ser, por atividades livres como a contemplação teórica, a especulação filosófica e o ócio; para a segunda posição, o sentido atual de lazer provém da noção romana de “otium“. O lazer hoje, não seria outra coisa que a transferência corrigida no tempo do “otium” romano, isto é, um fenômeno elitista, carente já de sentido filosófico, diferenciador de classes e ostentatório.

O lazer não tem sido o mesmo, nem será, sempre igual, pois cada modelo de organização social lhe imprime suas funções e características, de acordo com o sistema de aspirações, necessidades e valores imperantes nesses momentos e válidas para toda a organização (JIMENEZ GUSMAN, 1986). O lazer tomou a dimensão de hoje após a Revolução Industrial, quando então a jornada de trabalho começou a diminuir paulatinamente, muito embora “os fundamentos históricos do Lazer sejam anteriores à sociedade industrial, porque sempre existiu o trabalho e o não-trabalho em qualquer sociedade” (CAVALCANTI, 1981).

A conquista de oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer marcou o início da humanização do trabalho e transformou a recreação e o lazer como um fato social (MARINHO, 1979, 1984; CUNHA, 1987).  Com o reconhecimento das horas livres entre uma e outra jornada de trabalho, dos repousos semanais remunerados, das férias anuais e da cessação da vida de trabalho (aposentadoria) – (REQUIXA, 1969, 1976) – gerou-se, então, tempo de lazer compulsório – (TOYMBEE, citado por MARINHO, 1979, 1984).

Profissionais do Lazer

Considera-se liderança recreacional ao conjunto de profissionais que se empenham na realização de programas na área de lazer (GAELZER, 1985). Em alguns países a profissão de recreador já está regularizada e valorizada. No Brasil, as profissões ligadas à educação física, aos esportes e à recreação e lazer foi recentemente regulamentada – Lei 9696/98. Só poderá exercer a função, profissional habilitado. Tão importante como a regularização profissional devem ser também as condições de formação dessa liderança que deverá levar a bom termo os programas recreacionais.

As experiências universais têm demonstrado que a orientação das atividades recreativas, e, portanto, a ação da liderança recreacional é mais importante que instalações, equipamentos e material adequado. Por esse motivo a liderança deve desenvolver uma base cultural e de conhecimentos teóricos e práticos que lhes garantam êxito na orientação dos programas.

Daí a importância de ser considerado, pela liderança recreacional, que a orientarão e o planejamento dos programas de atividades deva estar fundamentado na filosofia dos direitos humanos à liberdade. Por essa razão é que GOUVEIA (1969) tenha afirmado que a primeira atitude do recreador é planejar e elaborar programas com os que se recreiam e não para eles.

Unidades de recreação não terão vida longa nem cumprirão seus objetivos se não houver pessoas responsáveis pelo bom andamento dos programas e pela subsistência do material.  A função primordial da liderança na recreação é de direção e supervisão dos programas. Estes são variados e complexos, e as preferências dos vários tipos de grupo e de indivíduos requerem muita habilidade de realização que deve ser observada e considerada de suma importância.

Para cada tipo de atividade de lazer existe um equipamento específico. Os equipamentos de turismo caracterizam-se como equipamentos destinados a programação turística em geral, associando hospedagem e atividades recreativas. Além das programações tipicamente de hotelaria – recepção, hospedagem e alimentação, são executadas programações diversificadas de lazer e recreação, construídas segundo as características geográficas-naturais e/ou histórico-culturais. Quanto ao tempo em que ocorrem geralmente o são em temporadas de férias, em períodos determinados, em feriados e nos fins de semana. Ou nos períodos de pacote turístico programado.

No estudo da liderança recreacional deve ser considerado o fato de PARKER (1978) ter feito a observação de que “a recreação é um sistema de controle social e, como todos os sistemas de controle social é até certo ponto manipulável, coercitivo e doutrinador. O lazer não é nada disso”, e declarado que a recreação, renovando o ego e preparando para o trabalho, tem levado os críticos a comparar desfavoravelmente a recreação e o lazer.

Analisando essa posição deve-se primeiro ter em mente que o lazer, no estudo de Parker, é um termo freqüentemente utilizado para designar algo semelhante à recreação, tanto que o autor assim se expressa: “a recreação sempre indica algum tipo de atividade e como o lazer e o jogo não possui forma única”. Com tal posicionamento, recreação, lazer e jogo se caracterizam como atividade.

Atividades de Lazer

As atividades de lazer são classificadas por DUMAZEDIER (1979)  em

– lazeres físicos – aqueles que implicam esforço e exercício de tipo corporal;

– lazeres práticos – são os que exigem uma habilidade manual e especial;

– lazeres intelectuais – que têm que ver com o cultivo do intelecto e da cultura;

– lazeres artísticos – que têm a ver com a prática específica de uma arte;

– lazeres sociais – são os relacionados com aquelas atividades de diversão, descanso e desenvolvimento, praticadas de uma forma coletiva.

 

Funções do Lazer

No oferecimento de atividades de lazer, além dos espaços destinados a essas atividades, devem ser levadas em consideração as funções básicas do lazer:

– função educativa, caracterizada pelo interesse próprio dirigido para a ampliação dos horizontes mentais, busca de novas experiências e de novo conhecimento;

– função de ensino, caracterizada pela assimilação ou aprendizagem das normas culturais, de ideais filosóficos ou políticos, das normas de convivência social ou de comportamentos;

– função integrativa, que tem por objetivo solidificar ou integrar os grupos, principalmente os familiares, de amizade-companhia, de interesses comuns;

– função recreativa, que compreende atividade relacionada com o descanso psicológico e físico;

– função cultural, refere-se à compreensão e assimilação dos valores culturais ou à criação de novos;

– função compensadora, seriam as atuações que, de alguma forma, nivelam as insatisfações das outras áreas da vida.

A atividade, seja ela recreação, lazer ou jogo, pressupõe uma multiplicidade de trabalho tanto individual como coletivo. Por sua própria natureza exige condições mínimas de realização, modo de procedimento e maneira de execução, pois não se pode entender atividade no plano teórico. Para realizá-la o indivíduo precisa pensar, estudar e aprender; necessita encontrar seu próprio ritmo e equilíbrio testando a si mesmo e se organizando interiormente.

Espaços de Lazer

MARCELLINO (1983) considera que, muito embora as pesquisas realizadas na área das atividades desenvolvidas no tempo livre enfatizem a atração exercida pelo tipo de equipamento construído, deve-se considerar que, para a efetivação das características do lazer é necessário, antes de tudo, que o tempo disponível corresponda um espaço disponível.

De que espaço falamos? Dos espaços dos interesses sociais – quando os sujeitos se propõem a estarem juntos, face a face, e relacionarem-se, antes de tudo que possa acontecer decorrente do encontro; dos espaços dos interesses físicos – quando a proposta é feita em função de atividades corporais onde prevaleçam os exercícios do corpo; dos espaços dos interesses intelectuais – que têm como primeira instância o desenvolvimento do domínio cognitivo na atividade, não considerando o elemento criativo e sim o concreto, o racional, o lógico; dos espaços dos interesses artísticos – onde o produzido gera o encantamento (STUCCHI, 1997).

O espaço que nos interessa, são os espaços dos interesses turísticos, que têm como finalidade: mudança de paisagem, ritmo (saída do cotidiano), observação e sensação de outros estilos de vida, e também o turismo social se caracterizando por uma dimensão menor (STUCCHI, 1997).

Equipamentos de lazer

Estes interesses, que também mostram uma dimensão concreta traduzida como lugares, podem ter significados diferentes em função da forma como cada sujeito os vê e os utiliza. Daí a preocupação com os estudos dos equipamentos de recreação e lazer deve ter como objetivos classificá-los segundo suas características físicas de construção, aspectos físicos estéticos e dimensões proporcionais aos locais geográficos em que serão implantados, como também agradar aos olhos de que os utilizará, inspirando confiança.

CAMARGO (1984) classifica os equipamentos de lazer segundo suas características físicas, seus oferecimentos e sua demanda. Adotando sua nomenclatura e classificação, STUCCHI (1997) apresenta-nos a seguinte descrição:

 

Equipamentos específicos

A freqüência de determinado equipamento vai depender do local em que se situa e da demanda existente pela facilidade de acesso. As formas de existência dos equipamentos podem ser visualizados quanto à dimensão física do espaço e suas finalidades programáticas, como segue:

Equipamentos especializados

Conceito: são equipamentos destinados a atender uma programação especializada, ou uma faixa de interesses culturais específicos. Como exemplo, a “academia de ginástica”;

Programação: voltada para um segmento dos interesses socioculturais da clientela. estruturada sobre uma modalidade específica de animação. Exemplo: os “parques aquáticos”;

Localização: em áreas urbanas, de grande concentração populacional;

Público: delimitado pelo interesse e pela localização;

Composição: geralmente de uma quantidade limitada de instalações para atividades;

Exemplos de equipamentos especializados: teatros, auditórios, cinemas, academias de ginástica, centros esportivos voltados para um interesse específico (natação, futebol, tênis, voleibol), bibliotecas, parques aquáticos, campos de golfe e/ou de minigolfe.

Equipamentos polivalentes
  1. De dimensões e capacidades médias

Conceito: equipamentos destinados a receber uma programação diversificada, ou para atender variados interesses socioculturais. Com dimensões e capacidades para atender até 2.500 pessoas/dia, nas atividades permanentes, e até 5.000 pessoas simultaneamente, em eventos especiais ou de fins de semana;

Programação: atividades permanentes, temporárias e eventuais diversificadas, segundo públicos e interesses culturais;

Localização: preferentemente em áreas urbanas, próximas ao centro da cidade ou em regiões comerciais. Ou então em regiões de grande concentração populacional;

Atendimento: durante os dias da semana, período integral. E com ênfase nos finais de semana;

Público: de toda uma cidade, ou de uma região importante de uma grande cidade;

Composição: várias instalações para atividades, diversificadas por interesses socioculturais, por públicos e por conteúdos, de dimensões e capacidades entre média e grande, conforme o caso;

Exemplos: centros culturais em geral, quando associam instalações diversificadas – teatro, áreas de exposição, bibliotecas. Centro poliesportivo em geral. Parques urbanos. Centros culturais e esportivos.

Equipamentos polivalentes grandes

Conceito: equipamentos destinados a atendimentos de massa, em uma programação diversificada, abrangendo variados interesses socioculturais. Com instalações de grande dimensões e grande capacidade;

Programação: permanentes, temporária e de eventos, amplamente diversificada, segundo públicos, interesses socioculturais e conteúdo;

Localização: em uma região importante de um estado ou de uma grande cidade. Pode também se localizar em regiões da periferia das cidades, devido às dimensões de terreno necessário;

Atendimento: preferentemente nos fins de semana. Durante a semana, principalmente nos grandes eventos;

Público: de toda uma cidade, ou de uma região do estado;

Composição: várias instalações de grande capacidade, complementada por algumas instalações menores, diversificadas por interesses socioculturais, conteúdos e públicos. de preferência, priorizar as áreas verdes.

Equipamentos de turismo

Conceito: equipamentos destinados a programação turística em geral, associando hospedagem e atividades recreativas;

Programação: além das programações tipicamente de hotelaria – recepção, hospedagem e alimentação, programações diversificadas de lazer e recreação;

Localização: preferencialmente em áreas de interesse turístico, pelas características geográficas-naturais e/ou histórico-culturais;

Atendimento: em temporadas de férias, em períodos determinados, em feriados e nos fins de semana. Ou nos períodos de pacote turístico programado;

Público: genericamente o mais amplo, do estado, do país e do exterior;

Composição: instalações para hospedagem, para alimentação (restaurantes, lanchonetes), e instalações para atividades de lazer, de preferência diversificadas;

Exemplos: hotéis de lazer, resorts, colônia de férias, grandes parques em escala regional, estadual e nacional, quando têm unidades de hospedagem, camping, acampamentos, pousadas em locais retirados (praias, montanhas, reservas ecológicas), pousadas em cidades turísticas.

Gestão do Lazer

Para MARCELLINO (1995), a presença do profissional é importante nos equipamentos de lazer: centros culturais, centros esportivos, clubes, museus, bibliotecas, parques, academias esportivas, hotéis de lazer ou resorts.

Constituem a alma dos equipamentos de lazer, e suas funções profissionais vão muito além da simples organização de algumas atividades para o público. O quadro de pessoal de um equipamento de lazer, quaisquer que sejam as suas características tipológicas, de dimensões, de capacidade, de composição de suas instalações  deve ser estruturado de acordo com os seus processos de gestão:

– administração: administração geral do equipamento de lazer e serviços administrativos em geral;

– programação e animação: planejamento, realização e animação de todas as atividades do centro. A programação pode incluir atividades permanentes, atividades temporárias e eventos;

– manutenção: compreende todos os sistemas destinados a manter em condições ótimas de funcionamento todas as instalações do equipamento: quadras, piscinas, auditórios, salas, etc., e instalações de apoio às atividades: vestiários, depósitos, sanitários.

O profissional de Turismo e Lazer deverá demonstrar aptidões intelectuais como capacidade de pensar em termos de símbolos abstratos, exatidão e atenção concentrada, cultivando ainda a sociabilidade, a meticulosidade, a liderança, desenvolvendo principalmente a coordenação motora.

Tal profissional não poderá ser apenas mero repetidor de modelos estereotipados mas, um agente transformador da teoria e da praxes, com o objetivo de não violentar a prática do turismo e do lazer.

[1] Texto apresentado no Simpósio de Turismo da UFMA, março de 1999

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Educação Física no Maranhão no CEV Novidades

 
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CEV Novidades

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Educação Física no Maranhão: Construção de Uma Antologia de Textos Desportivos da Cultura Brasileira: Proposta e Contribuições

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Educação Física no Maranhão: Aluízio Azevedo e a Educação (física) Feminina

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Educação Física no Maranhão: Trabalho, Tempo Livre e Lazer

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Educação Física no Maranhão: Esporte com Identidade Cultural

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CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES

 
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CONSTRUÇÃO DE UMA ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA BRASILEIRA: PROPOSTA E CONTRIBUIÇÕES

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

Resumo

Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura brasileira, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física no Brasil. A exemplo do que acontece em França, Itália, Espanha e Portugal, propõem-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos.

Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. História

Abstract

Through the rescue and the registration of sportive cultural manifestations in brailian literature, one tries to reconstruct the history of sport, leisure and physical education in Brazil. From the example of what happens in France, Italy, Spain and Portugalit is proposed to gather in our country, with the construction of a brazilian anthology of sport texts.

Key-words: Physical Education. Sports. Literature. History.

Introdução:

Em 1994, o Ministério da Educação e do Desporto – MEC – constituiu Grupo de Trabalho (MEE/INDESP, 1996) para elaborar a aproximação conceitual de Esporte e Cultura, iniciando-se, no Brasil, uma discussão sobre “Esporte de Criação Nacional”. Com a identificação do problema conceitual, se fez necessário desenvolver a dissecação do título. No instante em que se separa a idéia “Esporte” de um lado e “Criação Nacional” de outro, percebe-se a possibilidade de um desdobramento fértil. Enquanto o “esporte” pode ser entendido como um jogo, uma brincadeira, uma dança, um ritual, etc., o atributo de “criação nacional” por sua vez, pode ser entendido como de “Criação Cultural”, ou com “Identidade Cultural” (SANTIN, 1996).

SILVA (1987), ao levantar a questão da perda dos valores culturais e da identidade cultural, afirma que somos um povo mesclado pelas mais diversas influências raciais, cujos traços são refletidos nas mais variadas formas de expressão artística:

“Neste aspecto, é importante relembrar que os jesuítas foram os primeiros a transformar os hábitos culturais dos nossos índios, obrigando-os, pelo processo de catequese, a aprenderem os hinos e os sermões da Igreja Católica e, justamente com isso, os falsos preceitos de pecado e moral.

“Assim como os índios, nossos irmãos escravos, vindos da África, sofrendo sob as garras da opressão dos senhores de engenho, tiveram de fazer seus cultos e brincadeiras às escondidas, sob a ameaça dos chicotes. Em suma, a cultura ibérica, através dos portugueses, infiltrou-se e aculturou-se na nossa realidade, clima e vegetação.

“Sobre a questão da perda dos valores culturais, é importante deixar claro que a nossa atitude passiva de receptores de outras culturas é histórico, pois até hoje guardamos o peso dessa herança advinda da colônia que parece ainda não ter passado…”. (p. 20-21)

Considera, ainda, que a perda da identidade cultural traz como conseqüência a minimização da criatividade popular, tornando, assim, a sociedade imitativa e caricaturista de valores culturais estrangeiros, com o que concordam DIECKERT; KURZ & BRODTMANN (1985) quando afirmam que no Brasil deve haver uma educação física brasileira e critica o modelo internacional do esporte corporal do povo brasileiro, que possui a capoeira como uma das maiores riquezas, além de outros jogos, danças e ritmos. DIECKERT (1987) destaca ainda o quanto é importante que essas manifestações sejam resgatadas, para não se transformarem em peças de museu.  Da mesma forma, Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA (1985), ao analisar um tipo de esporte baseado na cultura, enfatiza o significado dos jogos tradicionais das diversas formas de desporto popular e ainda das pequenas agremiações locais, que cedem lugar ao imperialismo do desporto-instituição, reprodutor e multiplicador das “taras do ter”.

Para SILVA (1987), a perda desses valores levou a sociedade a explorar o corpo dos cidadãos como se fosse objeto e não sujeito, imprimindo-lhe gestos e movimentos ginástico-desportivos padronizados, reduzindo o acesso às danças e aos jogos da lúdica popular e resultando na perda da ludicidade, que deve ser compreendida como o estado de espírito que dispõe o homem a ser alegre e brincar livremente.

O primeiro grande impasse surge quando se pergunta o que se entende por esporte e por lazer, dada a abrangência dos termos. Deve-se entender como esporte apenas as atividades lúdicas praticadas sob a orientação da ciência e da técnica? Apesar do costume vigente de tratar o esporte, o jogo e o brinquedo como três categorias distintas de atividades, não restam dúvidas de que se pode unificá-las sob o manto da criação cultural, embora reflitam valores culturais diversificados (HUIZINGA, 1980; SILVA, 1987; SANTIN, 1996; DAMASCENO, 1997).

O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos:

“Durante a realização dos Jogos, desaguavam em Olímpia tudo o que na Grécia havia de artístico, filosófico e desportivo. Os poetas escancaravam o que lhes medrava na alma, os sofistas dialogavam com auditórios eruditos e os atletas competiam entre sí. Enfim, arte, filosofia e desporto num conúbio que muito enriqueceu a literatura grega. Já Homero poetizara as corridas de carros, mas literatura centrada no desporto… foi Píndaro o primeiro” (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d: 9).

Depois dele, muitos outros. “E no gaiato tagarelar das ruas de Atenas, o desporto nascia como verdadeiro fenômeno cultural”. Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna. VIEIRA E CUNHA & FEIO (s.d.) justificam a feitura de uma antologia portuguesa de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do senso-comum que se tem dessa manifestação, não se resume a “uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expresso apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura” (p. 7). Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; um meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um “fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana” (p. 8):

“Ainda integrado na luta pela compreensão do desporto, permitimo-nos recordar que a Cultura Física é uma Ciência do Homem e como tal deve ser analisada, estudada, praticada, difundida e… defendida! Daí que, ao nível da interdisciplinaridade com outros ramos do saber, não seja demasiado encarecer quanto à educação física e os desportos dialecticamente se relacionam, quer com as outras Ciências do Homem, quer com as Ciências da Natureza e as Ciências Lógico-Dedutivas…” (VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.: 8).

Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática desportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (FAVERO, 1994).

A Atenas brasileira

Na literatura dos viajantes, ABBEVILLE (1975:236) foi quem primeiro registrou, no Maranhão, as atividades dos primitivos habitantes da terra. Para esse autor é por não terem ambições materiais que os índios da Ilha do Maranhão têm na dança o primeiro e principal exercício; além da dança, têm como exercício a caça e a pesca. Já SPIX e MARTIUS afirmam serem os Jês hábeis nadadores, havendo o registro de serem também grandes corredores:

“… timbiras de canela fina (corumecrãs)… famosos pela velocidade na corrida, esses índios enrolavam suas pernas com fios de algodão que acreditavam afinar-lhes as pernas e proporcionar-lhes leveza para correr…” (citados por CALDEIRA, 1991:77-78).

A literatura maranhense tem início com o surgimento da imprensa. RAMOS (1986), escrevendo sobre o seu aparecimento no Maranhão registra, no período colonial, que “… jornalista era o magnífico João Tavares com sua ‘Informação das recreações do Rio Munin do Maranhão’…”. No período imperial registra-se o aparecimento de inúmeros jornais políticos e literários, coletâneas de poesia e de peças teatrais, sendo publicados entre 1821 e 1860, 183 jornais (RAMOS, 1986, 1992), a grande maioria de caráter político.

Os jornais com objetivo de recrear – de caráter literário, recreativo, científico e/ou instrutivo – foram: a “Folha Medicinal”, de 1822; oMinerva”, de 1827; “A Bandarra”, 1828.  Apenas esses dois últimos, dos 21 jornais do período de 1821 a 1830 dedicaram-se a divulgar literatura. Alguns periódicos tiveram contribuições de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa (RAMOS, 1986). RAMOS (1992) ainda registra o aparecimento em 1831, do  “Atalaia dos Caiporas”; em 1839, do  “O Recreio dos Maranhenses”; 1840, de “A Revista”;  “O Jornal Maranhense” aparece em 1841. Periódico oficial, trazia como epígrafe uma frase de Tímon: “a verdadeira educação de um Povo livre faz-se nos jornais”. De 1842, são o “Museu Maranhense”, ” O Publicador Maranhense”; de 1845, o “Jornal de Instrução e Recreio”,. “O Almazém”; de 1846, O Arquivo Maranhense”, contando com Gonçalves Dias, ainda jovem e interessado em teatro, dentre seus colaboradores. Escreveu em seu primeiro número: “Fiéis ao nosso programa, o nosso fim continua a ser – a Instrução e o Recreio -…” (RAMOS, 1992: 121). De 1849, a “Revista Universal Maranhense”. O “Jornal de Tímon”, publicado em fascículos de 1852 a 1854, foi, no dizer de  Viveiros de Castro (citado por RAMOS, 1992),  “revista literária, de publicação mensal, na qual João Francisco Lisboa conquistou muito justamente a nomeada de um dos primeiros prosadores da língua portuguesa” (p. 189). Ainda desse ano de 1852, “A Marmotinha”. Nos anos seguintes aparece “A Violeta” (1853); “O Botão de Ouro” e “A Sentinela” (1854); de 1855 é o “Diário do Maranhão”; em sua edição de 23.10.1855, número 41, é informado que “tivemos a satisfação de ler um novo jornal recreativo intitulado “A Saudade”, dedicado ao belo sexo maranhense”. (RAMOS, 1991: 213). De 1857 éA Estrela da Tarde”; de 1858, o “Jornal do Comércio. O “Verdadeiro Marmota”, jornal literário, foi saudado, em 1860, nestes termos elogiosos: “reaparece este interessante jornal, depois de ter por algum tempo, pela indolência e lassidão, que geralmente ataca os jornais recreativos nesta província…” (citado por  RAMOS, 1992:237).

Em 1860, contando com uma população de 35 mil pessoas, São Luís tinha matriculado em suas escolas primárias 2 mil rapazes e 400 moças e no secundário, 180. Esses poucos números mostram que era muito reduzido o número de pessoas que acediam à leitura. O ensino primário havia se desenvolvido desde a independência. Em 1838 é inaugurado o “Liceu Maranhense”, dirigido pelo famoso gramático Francisco Sotero dos Reis. O Liceu passou a substituir os preceptores dos filhos da burguesia comercial e da oligarquia rural (MÉRIAN, 1988). No entender de Dunshee de Abranches, a fundação desse colégio, logo seguido do colégio das Abranches, do Colégio do Dr. Perdigão e de tantos outros, contribuiu para com o progresso da educação mental da juventude, levando o Maranhão tornar-se, de fato e de direito, a Atenas brasileira.

Dois autores maranhenses

Dunshee de Abranches

João Dunshee de Abranches Moura nasceu à Rua do Sol, 141, em São Luís do Maranhão. Advogado, polimista, historiador, sociólogo, crítico, romancista, poeta, jornalista, parlamentar e internacionalista. Dentre seus escritos, destaca-se a trilogia constituída pelo “A Setembrada”, “O Captiveiro”, e “A Esfinge do Grajaú” (GASPAR, 1993).

Em “A Setembrada”, escrita sobre a forma de romance histórico, relata de forma viva e humana a face maranhense da Revolução Liberal de 1831. Publicado em 1933, confere uma atuação de primeiro plano a dois ascendentes seus: Garcia de Abranches, seu avô e Frederico Magno de Abranches, seu tio. Referindo-se ao Fidalgote, como era conhecido Frederico Magno, seu sobrinho relembra que:

“… Os dois namorados [Frederico e Maricota Portinho] tiveram assim, momentos felizes de liberdade e de alegria, fazendo longos passeios pelos bosques, em companhia de Milhama, ou passando horas inteiras a jogar a péla de que o Fidalgote era perfeito campeão” (DUNSHEE DE ABRANCHES, 1970:31).

GRIFI (1989), ao se referir aos jogos de bola, encontrou que Galeno, “o famoso médico grego”, recomendava tal prática para fins higiênicos e até mesmo escreveu um tratado específico sobre “o jogo da pequena bola”. Mas os jogos de bola, na Grécia, já aparecem nos poemas homéricos (p. 68). Mais adiante, afirma que nos séculos XIV, XV, e XVI destacou-se mais que os outros os jogos da bola, que se se fundiu às manifestações folclorísticas, no novo contexto das estruturas renascentistas:

“Na França, particularmente, a bola (de dimensões maiores da normal), nascido no tardo-medievo, como instrumento de contenda incruenta, torna-se momento lúdico e agonístico, aberto a todos. Os jogos mais conhecidos são a paume, o pallone, a soule, a crosse, aos quais seguiram-se, na Itália, o calcio-fiorentino, o pallone al bracciale, a pallacorda, a palla al vento, a palla-maglio, o tamburello (…) A paume (jeu de paume) consiste em bater a bola com a mão e substituiu os ludus pilae cum palma romano; conhecido já no século XII foi jogado melhor no período sucessivo, até dar vida ao atual tênis. “ (p. 188).

O “O Captiveiro”, não é apenas um livro de memórias. Escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trava-se, na verdade de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993). Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a “Arcadia Maranhense”, e de uma sua dissidência, a “Aurora Litteraria”. Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado “Aurora Boreal”: “… só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizéssemos, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos”. (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de ABRANCHES (1941) em suas memórias:

“E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (…) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos … Apezar de só ter uma filha, agasalhava na sua hospitaleira residência uma parentella basta e jovial, em que superabundava o sexo frágil. Não faltavam pianistas, violinistas, e cantores nesse grupo variegado de moças casadeiras e gentis. Os saraus ali se succediam desde as novenas de N. S. dos Remédios á véspera de Reis. Era que, todos os annos, a família Travassos armava um presépio. Os ensaios das Pastorinhas iniciavam-se desde fins de Outubro; e, depois delles fatalmente seguiam-se dansas até á meia-noite…”. (p. 187-188).

Nessa mesma obra, Dunshee de ABRANCHES (1941) lembra que o “Velho Figueiredo, o decano dos fígaros de São Luís” (p. 155), mantinha em sua barbearia – a princípio na Rua Formosa e depois mudada para o Largo do Carmo – um bilhar, onde

“ahí que se reuniam os meninos do Lyceo depois das aulas, e, às vezes, achavam refúgio quando a polícia os expulsava do pátio do Convento do Carmo por motivos de vaias dadas aos presidentes da Província e outras autoridades civis e militares. Essas vaias era quasi diárias…”. (p. 157).

Em “A Esfinge do Grajaú”, também livro de memórias (ABRANCHES, 1993), deparamo-nos como uma abordagem eminentemente política, tendo como pano de fundo as teses republicanas (GASPAR, 1993). Lembra dos passeios a cavalo que fazia pelas manhãs, acompanhando o Dr. Moreira Alves, então Presidente da Província:

“… Adestrado cavaleiro, possuindo um belo exemplar de montaria, incumbira-se ele (Anacleto Tavares) na véspera de conseguir para o ilustre político pernambucano um valente tordilho, pertencente ao solicitador Costa Santos e considerado o mais veloz esquipador da capital. Para fazer frente a esses reputados ginetes, Augusto Porto, meu futuro cunhado e sportman destemido, havia-me cedido o seu Vesúvio… Moreira Alves ganhara logo fama de montador insigne… o novo Presidente da Província conhecia a fundo a equitação… Para o espírito estreito de certa parte da sociedade maranhense, afigurava-se naturalmente estranho que fosse escolhido para ocupar a curul presidencial da Província um homem que se vestia pelos últimos figurinos de Paris, usava roupas claras, gostava de fazer longos passeios a pé pelas ruas comerciais…”. (p. 16-17).

Aluísio de Azevedo

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luís do Maranhão. Em sua infância e adolescência foi caixeiro e guarda-livros, demonstrando grande interesse pelo desenho. Torna-se caricaturista, colaborando em “O Fígaro”, “O Mequetrefe”, “Zig-Zag” e “A Semana Ilustrada”, jornais do Rio de Janeiro. Obrigado a retornar ao Maranhão, em 1878, pela morte do pai, abandona a carreira de caricaturista e inicia a do escritor. Publica em 1879 “Uma lágrima de mulher”. Com a publicação de “O Mulado”, em 1881, introduz o Naturismo no Brasil. Publica, ainda : Memórias de um condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Coruja (1990); O Cortiço (1890); Demônios (1893);  A Mortalha de Alzira (1894); Livro de Uma sogra (1895). Em 1895, abandona a carreira de escritor e torna-se diplomata (AZEVEDO, 1996).

Aluísio Azevedo, em conto autobiográfico, afirma que, aos doze anos, estudante do Liceu, havia uma coisa verdadeiramente série para ele: “era brincar, estabelecendo-se entre minha divertida pessoa e a pessoa austera de meus professores a mais completa incompatibilidade”. Narra as estripulias da época, em companhia dos amigos de infância:

“Criado a beira-mar na minha ilha, eu adorava a água. Aos doze anos já era valente nadador, sabia governar um escaler ou uma canoa, amarrava com destreza a vela num temporal, e meu remo não se deixava bater facilmente pelo remo de pá de qualquer jacumariba pescador de piabas.” (citado por MÉRIEN, 1988: 47).

Um dos fundadores de “O Pensador” (1879), jornal anticlerical, publica várias crônicas onde traça um perfil da mulher maranhense, e sua condição de mulher em uma sociedade escravocrata, cujo papel reservado era apenas o de mãe. Compara a mulher da burguesia maranhense à lisboeta desocupada, denunciando o ócio em que viviam. Como igualmente denunciava “o ócio dos padres que viviam do trabalho de pessoas honestas e crédulas” (MÉRIEN, 1988:158), sendo estes, os padres, também “culpados pelo atraso da instrução pública” (p. 159).

Aluísio considerava que todo o mal vinha do ócio e da preguiça das mulheres e apenas uma mudança na educação e na concepção do casamento poderia permitir a realização da mulher:

“Do procedimento da mulher (…) depende o equilíbrio social, depende o equilíbrio político, depende todo o estado patológico e todo o desenvolvimento intelectual da humanidade (…) Para extinguir essa geração danada, para purgar a humanidade desse sífilis terrível, só há um remédio: é dar à mulher uma educação sólida e moderna, é dar à mulher essa bela educação positivista, que se baseia nas ciências naturais e tem por alvo a felicidade comum dos povos. É preciso educá-la física e moralmente, prepará-la por meios práticos e científicos para ser boa mãe e uma boa cidadã; torná-la consciente de seus deveres domésticos e sociológicos; predispor-lhe o organismo para a procriação, evitar a diásteses nervosa como fonte de  mil desgraças, dar-lhe uma boa ginástica e uma alimentação conveniente à metiolidade de seus músculos, instruí-la e obrigá-la principalmente a trabalhar… “. (Aluísio AZEVEDO, Crônica, “O Pensador”, São Luís, 10.12.1880, citado por MÉRIEN, 1988:166,  167).

O mesmo tema é retomado quando da publicação de “O Mulato”, criando-se enorme polêmica na imprensa, ora acusando o autor, ora vozes se levantando para defendê-lo acerca de sua posição sobre a condição feminina. Aluísio tinha consciência que parte dos leitores em potencial era constituída pelas mulheres da pequena burguesia portuguesa e maranhense da cidade e pelas filhas dos fazendeiros que encontravam na leitura uma diversão contra o tédio que pesava sobra a vida cotidiana e ociosa que tinham. No entender de MÉRIEN (1988), os discursos de Raimundo sobre a condição feminina, o papel da esposa e da mãe na educação das crianças, são dirigidos mais a elas do que a Manuel Pescada:

“O senhor tem uma filha, não é verdade? Pois bem! Logo que essa filha nasceu o senhor devia ter em vista prepará-la para vir a ser útil… dar-lhe exercícios, alimentação regular, excelente música, estudos práticos e principalmente bons exemplos; depois evitar que ela fosse como é de costume aqui, perder nos bailes o seu belo sono de criança…”. (Aluizio AZEVEDO, O Mulato, 1881).

Dois amigos de Aluísio Azevedo, Paulo Freire e Luís de Medeiros, fazem publicar cartas sob pseudônimo – Antonieta (carta a Julia, “Diário do Maranhão”, São Luís, 6.6.1881) e Júlia (carta a Antonieta, “Pacotilha”, São Luís, 9.6.1881), respectivamente – falando “de suas impressões e do impacto que o livro lhes causara” sobre a condição de vida de Ana Rosa, que lembrava a vida que as mocinhas maranhenses levavam (MÉRIEN, 1988:291).  Julia/Luís de Medeiros faz longas considerações sobre a condição da mulher maranhense, “lastimando-se da educação retrógrada que recebera em sua família e no colégio” (p. 290), onde fora do português, não se ensinava mais nada às moças além de algumas noções de francês, de canto, de piano e de bordado. Para ela, “a falta de exercícios físicos é a origem das perturbações do sistema nervoso que atingem a maioria das moças maranhenses” (p. 290).

A preocupação social é um traço marcante na obra de Aluízio, que buscava, com aguda capacidade de observação, compreender científicamente os elementos determinantes da realidade do Brasil. Em “O Mulato”, faz uma descrição permenorizada dos costumes da São Luís nos idos de 1880, época em que aparece seu romance:

“As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhangas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventres amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel.” (p. 9).

Conclusão

A literatura ajuda-nos a compreender melhor o mundo que nos cerca, quando descreve a sociedade em que a história se passa. Pode ser usada como fonte de pesquisa, ao se identificar, na narrativa, as manifestações de caráter esportivo, recreativo e de lazer.

Buscou-se em dois autores maranhenses – Aluízio Azevedo e Dunshe de Abranches – trechos em que se referem à cultura corporal no Maranhão, no século XIX, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos.

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