Resumo

Instrumentos psicométricos foram desenvolvidos com o intuito de avaliar a insatisfação corporal ou a checagem corporal. No entanto, vale ressaltar que estas ferramentas foram construídas com base na população geral. Considerando que os atletas demonstram “dupla” imagem corporal (e.g., geral e esportiva), estes instrumentos podem não ser suficientemente sensíveis para detectar atletas insatisfeitos com o corpo, nem atletas com elevada frequência de comportamentos de checagem corporal. Logo, faz-se necessário construir escala psicométrica que busque analisar componentes de imagem corporal no âmbito esportivo. Diante do exposto, o objetivo da investigação foi construir e validar as versões feminina e masculina da “Escala de Insatisfação e Checagem Corporal nos Esportes” (EICCE). Utilizou-se o método dedutivo para a elaboração da escala. Assim, a criação inicial dos itens foi baseada na teoria sociocultural da imagem corporal, nos achados de três estudos qualitativos e nos apontamentos de autores de sete revisões sistemáticas. Foram selecionados seis doutores, considerados especialistas na área de imagem corporal, para compor o grupo de peritos. Os peritos apontaram necessidades de alterações, bem como acréscimo de diversos itens em ambas as versões da escala (feminina e masculina). Em seguida, confeccionou-se a segunda versão da EICCE. Em razão de todos os itens da escala atingirem média igual ou superior a quatro (“Entendi quase tudo”), aplicou-se a segunda versão da EICCE em uma amostra diversificada de atletas (50 do sexo feminino e 65 do masculino) e treinadores (futebol, natação e basquetebol). A versão final da EICCE foi idêntica a segunda versão, em razão de atletas e treinadores indicarem média acima de quatro na compreensão verbal e peritos na compreensão verbal e conceito. A EICCE foi aplicada em 484 atletas do sexo feminino (versão feminina) e 713 do sexo masculino (versão masculina). Para avaliar a insatisfação corporal direcionada para a magreza foi aplicado o Body Shape Questionnaire (BSQ). Utilizou-se a subescala Muscularity-oriented body image da Drive for Muscularity Scale (DMS) para avaliar a insatisfação com a muscularidade. Os comportamentos de checagem corporal no sexo feminino foram avaliados pelo Body Checking and Avoidance Questionnaire (BCAQ). Os comportamentos de checagem corporal no sexo masculino foram avaliados pelo Male Body Checking Questionnaire (MBCQ). Utilizou-se o Eating Attitudes Test (EAT-26) para avaliar o comportamento alimentar de risco para os transtornos alimentares. O percentual de gordura foi avaliado para classificar a adiposidade corporal dos atletas. Para a avaliação da fidedignidade da EICCE, utilizou-se intervalo de 2 semanas para o reteste. O tratamento dos dados foi conduzido no software SPSS 21.0, adotando-se nível de significância de 5%. Os achados demonstraram estrutura fatorial que explicou mais de 40% da variância da escala e consistência interna com valores superiores a 0,70 e 0,65 para todos os fatores das versões feminina e masculina, respectivamente. Além disso, as versões da EICCE indicaram validade concorrente, bem como reprodutibilidade adequada, avaliada com o intervalo de duas semanas. Por fim, os resultados evidenciaram validade discriminante e preditiva da EICCE a partir das classificações de adiposidade corporal e da relação com os escores do EAT-26, respectivamente. Concluiu-se que a EICCE indicou boas propriedades psicométricas para a população de atletas. O presente estudo traz inovação científico-prática para os profissionais que atuam no contexto esportivo. A EICCE pode ser utilizada para se detectar distúrbio de imagem corporal em atletas.

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