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Introdução

Esta pesquisa surge no interior de um processo de formação continuada para professores de Educação Física na Rede Municipal de Uberlândia que vem sendo realizado desde o ano de 1996. Durante este período várias experiências de ensino denominada de "Estratégia de Ensino" foram sistematizadas por este grupo de professores. Entretanto, se percebeu algumas dificuldades na organizar e planejamento de determinados conteúdos, como por exemplo o esporte, na perspectiva filosófica adotada por este coletivo (perspectiva esta baseada nas teorias críticas da educação).

Uma das questões debatida no grupo, em função dessas dificuldades, diz respeitos a escassez de materiais didático-curriculares mais reflexivos como textos de apoio, áudio visual, entre outros aspectos, que ajudasse no desenvolvimento dessas Estratégias de Ensino.

Assim que, passamos a nos interessar em investigar a respeito desta temática (materiais didático-curriculares) para contribuir com os professores na definição de conteúdos, na organização de ciclos de aulas e na construção de um acervo e elaboração de materiais didático-curriculares necessários ao trabalho que desenvolvem.

O que se entende por materiais didático-curriculares em educação física

Na literatura educativa, de uma maneira geral, quando se fala de materiais didático-curriculares esse é entendido como aquele que auxilia o professor no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. De fato os materiais didático-curriculares, segundo Gimeno Sacristán (1991, p.10), são aqueles "instrumentos ou objetos que possam servir como recursos para que, frente a sua manipulação, observação ou leitura, ofereça oportunidades de se aprender algo (...) e podem servir para estimular e dirigir o processo ensino-aprendizagem".

Por outro lado, os materiais didático-curriculares possuem dois momentos: aquele material utilizado pelo professor para planejar sua aula e aquele que o professor utiliza junto aos alunos para que os mesmos aprendam um determinado conteúdo.
No âmbito escolar os materiais que, normalmente, aparecem como sendo os mais utilizados são aqueles impressos como livros, apostilas e etc. Entretanto, na área da educação física quando se fala de material curricular, seu entendimento muitas vezes se restringe àqueles materiais "convencionais" como parte dos equipamentos utilizados na prática da atividade física como: bolas, cordas, aparelhos de ginástica, bastões, cones e etc. Além do mais seu sentido normalmente fica restrito à sua utilidade como fator de manipulação e destreza física.

Os materiais didático-curriculares no âmbito desta disciplina, não deve estar restrito à utilização convencional nem tão pouco ao aspecto utilitário para o aprimoramento de habilidades corporais. Sigo uma definição mais ampliada, como por exemplo, os textos, os cartazes, os murais, as fotos, recortes e etc. que, como em qualquer outra disciplina podem contribuir na aprendizagem dos alunos e no seu desenvolvimento intelectivo.

Neste sentido compreendemos como materiais didáticos, "todos aqueles recursos que contem informações que exemplificam, expõem idéias, relata experiências práticas, etc., que definitivamente, contribuem a facilitar e fundamentar a tomada de decisões em que o professor precisa levar adiante no desempenho de suas funções na elaboração e desenvolvimento do currículo. Além disso este conceito de materiais curriculares incluem aqueles recursos (livros, esquemas, mapas conceituais, painéis, cadernos, etc.) que facilitam a aprendizagem dos alunos e das alunas no desenvolvimento do programa da disciplina" (Martínez Gorroño, 2001, p.8).

Compreender os materiais didático-curriculares nesta perspectiva significa dizer, de uma maneira geral, que existe uma pré-disposição em conectá-los com a totalidade das práticas sociais, não deixando reduzir o planejamento a uma listagem de atividades e de materiais nas dimensões específicas dos conteúdos ministrados.

Podemos dizer, baseada na maior parte da literatura em educação física que a menção que fazem à utilização de recursos materiais tem servido como um instrumento de motivação para torna as aulas mais alegres - princípio do ativismo.

Encontramos assim literaturas técnicas como aquelas que especificam e relacionam uma série de atividades para a recreação de uma dada modalidade esportiva. Por exemplo, 1000 atividades para jogos recreativos; o handebol e etc. Seus conteúdos estão sempre relacionados ao como fazer a atividade prática que neste caso já está definida e determinada, restando ao professor somente a sua reprodução.

Este tipo de prática repetitiva e rotineira passa, unicamente, pela listagem de materiais disponíveis para uma ação mais eficaz impossibilitando o crescimento e desenvolvimento do sujeito em formação e daqueles que estão à frente do ato educativo (Martínez Bonafé, 2002).

Se o contexto das relações da prática educativa for considerado dinâmico e complexo, não é possível entender que a utilização dos materiais didático-curriculares seja destituída de um sentido/significado mais profundo, relacionada à realidade social. Isto significa dizer que os alunos devem ter possibilidades de identificar as contradições existentes e debater as divergências para que não seja transmitido um conhecimento estático e descontextualizado. Chamo a atenção, pelo fato de que a diversificação de materiais didático-curriculares deve estar atendendo a esta concepção.

Segundo Martínez Bonafé (2002, p. 25), existe "uma tradição pedagógica muito comum nos textos escolares que é o tratamento não conflitivo do conteúdo científico. Todos sabemos que a controvérsia e conflito estão presentes no modo de elaboração do conhecimento no interior das comunidades científicas, entretanto desaparecem dos textos escolares, onde muitas vezes se apresenta uma única e inquestionável verdade".

Este autor faz relevantes comentários sobre esses meios didáticos, destacando que, muitas vezes, excluem da escola os conteúdos mais essenciais da vida cotidiana. Conectar o saber da escola com a realidade social é algo que deveria ser considerado na construção e definição dos materiais curriculares, lembrando que existe pouca consideração na construção de materiais curriculares, já que os livros, não trazem nenhuma reflexão neste sentido, e seria imprescindível refletir sobre o assunto.

Para Martinez Bonafé (op cit. p.67) "o valor do uso do material didático-curricular não deverá medir-se somente pelo modo que este facilita a atividade profissional do docente, se não também pelo seu potencial como instrumento interpretativo da experiência docente e, portanto, como ferramenta de aprendizagem e de desenvolvimento profissional".

López Rodriguez (2001), também orienta neste sentido dizendo que a utilização de materiais curriculares, independentemente da área de conhecimento, deveria estar em consonância à uma determinada perspectiva de modelo curricular, à as bases que o sustentam, e conseqüentemente no desenvolvimento de uma aula.

Os materiais didático-curriculares, por fim, devem ser vistos como uma referência que sugere um modo de trabalho diferente de selecionar e organizar o conhecimento, bem como devem despertar a curiosidade, a qualidade na reflexão, no debate e na emissão de juízos críticos comprometidos com a tarefa de educar (Peiró, 2001).

O esporte como eixo norteador na construção de materiais curriculares
No esboço curricular adotado pelos professores em questão, os conteúdos estão apresentados em cinco eixos temáticos. Estes são resultantes da análise coletiva das experiências docentes, sistematizadas na forma de estratégias de ensino durante o processo de formação continuada. São eles: Escola e Educação Física; Jogo; Esporte, Indivíduo e Sociedade; Expressão Corporal; e Exercício, Lazer e Qualidade de vida.

A partir de um levantamento realizado entre os professores detectamos que o maior número de estratégias sistematizas está concentrada, nos eixos: Jogo, Escola e Educação Física, Exercício Lazer e Qualidade de Vida, Esporte, Indivíduo e Sociedade e Expressão Corporal.

Para desenvolvimento deste projeto escolhemos o eixo Esporte, Individuo e Sociedade para ajudar na elaboração de materiais didático-curriculares porque existe ainda uma carência na sistematização de estratégias de ensino com este conteúdo. Além disso, poderia afirmar que o esporte ainda é um dos conteúdos mais utilizado nas aulas de educação física e é aquilo que os professores mais dominam.
Contraditoriamente, é curioso perceber que este eixo está pouco descrito/elaborado nas estratégias de ensino dos professores. Fato este que pode estar relacionado à insuficiência de referências (reflexões teórico-práticas e experiências de aula) que ajudem os professores nesta construção; à dificuldade dos professores na compreensão dessas referências teóricas; e/ou à distância dessas referências com a realidade do cotidiano e da prática pedagógica do professor.

Vale destacar que, no processo de formação continuada, os professores percebem que o texto sobre esporte que compõem as Diretrizes Básicas de Ensino da Rede Municipal de Ensino de Uberlândia apresenta-se frágil de argumentos quando confrontado com as necessidades para a elaboração de estratégias ensino.

Ainda que a discussão do esporte na educação física escolar não seja nova, persistem muitas dificuldades na compreensão de sua prática como elemento transformador. Existem diferentes leituras a esse respeito, que levam a distintos entendimentos sobre como deve ser a prática da educação física na escola, o seu planejamento e intervenção pedagógica.

Consideramos pertinente investigar sobre a construção de materiais didático-curriculares sobre o esporte, que possam ajudar os professores no planejamento de estratégias de ensino e de sua aplicação nas aulas. Construir currículo, e mais especificamente, tratar o esporte como conteúdo pedagógico, vem sendo um desafio para os professores que buscam uma formação na perspectiva de educação crítico-reflexiva. Tal como Souza Júnior (2001, p. 33) entendo que a "Educação Física Escolar deve ajudar a formar pessoas que possam usufruir o esporte como um praticante e sujeito ativo, a começar pela sua apropriação, por meio da escola, como um conhecimento elaborado".

A partir das considerações de como surge o tema da pesquisa e da justificativa sobre a necessidade e relevância de seu desenvolvimento, o objetivo que propomos nesse estudo pode ser resumido em: auxiliar, teórica e praticamente, na construção de materiais didático-curriculares relativos ao conhecimento esportivo na escola, com a finalidade de colaborar, tanto com o planejamento e desenvolvimento de estratégias de ensino dos professores participantes da formação continuada na Rede Municipal de Ensino, como no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, numa perspectiva crítica de educação física.

Metodologia

Para Rodrigues (1999, p.99) a eleição de uma determinada metodologia deve estar relacionada e articulada com o objetivo, referencial adotado e instrumental necessário para a extração qualitativa da informação. Assim, identificamos na perspectiva qualitativa crítica a possibilidade de um esquema teórico aberto, de visão ampliada, para dar conta desse objetivo complexo que é a preocupação com a construção de materiais didático-curriculares coerente com uma prática pedagógica de caráter crítico.

Considerações finais

Ainda que o projeto somente terá inicio em agosto de 2005 e no momento não possamos realizar nenhuma reflexão mais aprofundada do tema, entendemos a pertinência do mesmo, tanto para este coletivo de professores como para a área da Educação Física escolar, contribuindo assim para um maior aprofundamento sobre o tema e subsidiando investigações nesta perspectivas.

Finalmente, entendemos que a possibilidade de discussão do projeto neste evento poderá contribuir para diferentes análises e reflexões pertinente tanto ao seu conteúdo como também nos metodológicos, já que na época de realização deste evento já teremos outros dados para debater tanto em função das análises dos artigos como também das entrevistas que serão realizadas neste espaço.

Obs. Os autores professoras Camila Silva de Aguiar, Paula Pereira Roteli e Dinah Vasconcellos Terra lecionam na FAEFI/UFU

Referências bibliográficas

  • Gimeno Sacristan, J. (1991). Los materiales y la enseñanza. In: Cuardenos de Pedagogía. Nº. 194. p.10-15.
  • López Rodrigues, Ángeles. (2001). Los materiales curriculares en educación física como colaboradores del proceso enseñanza y aprendizaje. In: Revista Tándem: Didáctica de la Educación Física. Barcelona: Editorial Graó. Nº 4, julio. p. 34-44.
  • Martínez Bonafé, Jaume. (2002). Políticas del libro de texto escolar. Madrid: Morata.
  • Martínez Gorrono, Maria Eugênia. (2001). Currículum de Educación Física y características de los materiales curriculares. In: Revista Tándem: Didáctica de la Educación Física. Barcelona: Editorial Graó. Nº 4, julio. p. 7-17.
  • Peiró, Carmen Verlet. (2001). Materiais curriculares en educación física como colaboradores del proceso de enseñanza e aprendizaje. In: Revista Tándem: Didáctica de la Educación Física. Barcelona: Editorial Graó. Nº 4, julio. p. 19-32.
  • Rodrigues, G. G. et al. Metodología de la investigación cualitativa. Málaga: Ediciones Aljibe. 1999.
  • Souza Júnior, Marcílio. (2001). A Educação Física no currículo escolar e o esporte: (im)possibilidade de remediar o recente fracasso esportivo brasileiro. Revista Pensar a Prática. Goiânia, v. 4, jul/jun. 2000/2001. p. 19-33.