Contração estática e o impacto do treino isométrico na hipertensão arterial
Resumo
Uma revisão da literatura mostra que o exercício isométrico pode ser uma alternativa eficaz na redução da pressão arterial, em comparação aos exercícios aeróbicos tradicionais.
Integra
Entenda o essencial
- A hipertensão arterial é um fator de risco relevante para doenças cardiovasculares.
- O treino isométrico (TI) tem se mostrado eficaz na redução da pressão arterial, com resultados promissores em comparação com exercícios aeróbicos tradicionais.
- A intensidade, a frequência e a duração do TI são variáveis importantes na prescrição do exercício.
- Os mecanismos pelos quais o TI reduz a pressão arterial ainda não estão totalmente esclarecidos, mas apontam para adaptações vasculares e autonômicas.
- Mais pesquisas são necessárias para determinar a segurança e a efetividade do TI a longo prazo, assim como sua aplicabilidade em diferentes populações.
Introdução
O sedentarismo e a hipertensão arterial são problemas de saúde pública que afetam milhões de pessoas no mundo. Como tal, profissionais de Educação Física se deparam com clientes hipertensos em sua prática diária. Mas como encaminhar?
Tradicionalmente, as diretrizes mais amplamente aceitas recomendam exercícios aeróbicos e treinamento resistido como primeira linha de tratamento não farmacológico. No entanto, o treino isométrico (TI) surge como uma alternativa promissora, mostrando resultados consistentes para a redução redução da pressão arterial.
Relembrando, o treino isométrico refere-se a uma contração muscular sustentada na qual o comprimento do músculo não muda. Além de sua eficiência em termos de tempo (11 a 20 minutos por sessão), sua praticidade, com exigências mínimas de equipamento e de locais para realização (como ambientes domésticos e de trabalho) torna-o especialmente atrativo.
O recente artigo "Isometric Exercise Training and Arterial Hypertension: An Updated Review" (Treinamento de Exercícios Isométricos e Hipertensão Arterial: Uma Revisão Atualizada, em tradução livre), publicado na prestigiosa revista Sports Medicine, aborda o uso do TI no manejo da hipertensão arterial, analisando a eficácia, os protocolos de prescrição, a qualidade da evidência, o estímulo cardiovascular agudo e os mecanismos fisiológicos subjacentes aos seus efeitos anti-hipertensivos.
Os autores concluem que o TI é uma intervenção eficaz para reduzir a pressão arterial, com potencial para ser utilizada como ferramenta complementar no tratamento da hipertensão.
Como foi feito o estudo?
A pesquisa consistiu numa revisão sistemática da literatura, incluindo metanálises e ensaios clínicos randomizados. Os autores realizaram uma busca em bases de dados eletrônicas, como PubMed, Cochrane Library e SPORTDiscus, utilizando termos relacionados ao treino isométrico e à hipertensão arterial. A qualidade dos estudos incluídos foi avaliada utilizando a ferramenta TESTEX.
E o que o estudo diz?
Os resultados indicam que o TI é capaz de reduzir a pressão arterial de repouso, ambulatorial, assim como sua variabilidade.
Dessa forma, o TI pode ser tão eficaz quanto o exercício aeróbico tradicional e, em alguns casos, superior à monoterapia anti-hipertensiva.
Os autores sugerem protocolos de TI com base na intensidade, frequência e duração, utilizando diferentes modalidades, como handgrip (preensão de punho, wall squat (cadeirinha) e leg extension (extensão de joelho).
Por outro lado, as preocupações com a segurança do treino isométrico (TI) tradicionalmente se baseiam no aumento agudo da pressão arterial sistólica, diastólica e do produto frequência-pressão durante a contração, levantando questionamentos sobre sua adequação para algumas populações clínicas. Embora contraindicado em indivíduos com distúrbios do tecido conjuntivo ou doenças da aorta torácica, não há evidências sólidas que justifiquem sua exclusão para pacientes hipertensos sem outras comorbidades.
Além disso, o TI é reconhecido por induzir uma resposta hipotensiva pós-exercício, especialmente em exercícios de membros inferiores, o que pode atenuar os efeitos do aumento agudo da pressão e contribuir para benefícios crônicos na redução da hipertensão.
Em síntese, recomenda-se que o TI seja realizado três ou mais vezes por semana, por um período igual ou superior a três semanas. As sessões podem ser compostas por quatro séries de dois minutos, com intervalos de descanso entre um e quatro minutos.
Diretrizes profissionais
Profissionais de Educação Física devem considerar o TI como uma ferramenta adicional no manejo da pressão arterial de seus clientes, sempre com acompanhamento médico.
É muito importante avaliar o risco cardiovascular individualmente e realizar uma anamnese detalhada, considerando o histórico de doenças, medicamentos em uso e a capacidade física individual.
Assim, a prescrição do TI deve ser individualizada, respeitando a intensidade, frequência e duração adequadas para cada caso.
De qualquer forma, é fundamental monitorar a pressão arterial e a percepção subjetiva de esforço do cliente durante e após o treino, buscando feedback constante e ajustando o programa de exercícios conforme necessário.
No universo da pesquisa
Futuros estudos podem considerar:
- Exploração dos mecanismos fisiológicos subjacentes aos efeitos do TI na redução da pressão arterial.
- Análise de diferentes tipos de hipertensão, isto é primária e secundária, e a repercussão em tratamentos personalizados.
- Eficácia em diferentes faixas etárias e condições clínicas, como idosos ou pacientes com comorbidades associadas à hipertensão.
- Variações nos protocolos de TI, com diferentes combinações de intensidade, frequência e duração dos exercícios.
- Avaliação das variáveis de adesão e aderência ao treinamento, assim como efeito de prescrição individualizada.
- Investigação dos efeitos do treino isométrico sobre a saúde cerebrovascular.
Considerações
O TI se apresenta como uma ferramenta promissora no manejo da hipertensão arterial. Sua praticidade e baixo custo o tornam uma alternativa viável para diferentes populações.
Finalmente, ressaltar que o tratamento não medicamentoso inclui a cessação do tabagismo, adoção de uma dieta saudável, a redução do consumo de sódio na alimentação e a moderação no consumo de álcool. Neste sentido, a prática regular de atividade física, incluindo o treino isométrico deve ser considerado numa abordagem mais holística.
Referência bibliográfica
EDWARDS, J. J. et al. Isometric exercise training and arterial hypertension: an updated review. Sports Medicine, p. 1-34, 8 abr. 2024. DOI 10.1007/s40279-024-02036-x. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s40279-024-02036-x. Acesso em: 10 abr. 2024.