Resumo
Introdução: O treinamento de força promove adaptações importantes no sistema neuromuscular, contudo, pouco se sabe sobre as alterações provocadas por esse tipo de treinamento na contratilidade do miocárdio remanescente de ratos infartados. Objetivo: Avaliar o efeito do treinamento de força na contratilidade do ventrículo esquerdo de ratos infartados. Métodos: Após a indução das cirurgias falsa nos animais do grupo C e oclusão coronária nos grupos IM com confirmação do IM por ecocardiografia todos os animais permanceram em repouso por seis semanas para completa cicatrização da área infartada. Após o período de cicatrização todos os animais com infarto maior que 35% do ventrículo esquerdo foram selecionados e randomizados nos grupos IM e IMT. Dessa forma 27 ratos machos wistar foram distribuídos em três grupos sendo controle (C, n:7), infartados (IM, n:10) e infartados treinados (IMT, N: 10). Os animais do grupo C e IM permaneceram em repouso durante todo o período de estudo, contudo, os animais do grupo IMT foram submetidos a um programa de treinamento de força (escalada) constituído por um período total de 12 semanas, 5 dias por semana, 12 series diárias com 90 segundos de intervalo e intensidades crescentes semanalmente em bloco. O programa de treinamento foi organizado em três mesociclos de quatro semanas cada, com incremento de carga de treino organizado de forma linear (60%, 65%, 70% e 75%) a cada bloco, considerando o peso estabelecido no teste de carga máxima. Os seguintes parâmetros foram avaliados: força máxima (carga máxima levantada), massas cardíacas, teor de água nos pulmões, parâmetros da contratilidade miocardica, volume nuclear e concentração de colágeno no miocárdio remanescente. Para fins comparativos, foi utilizado o teste ANOVA-one com nível de significância de p<0,05, sendo os valores apresentados em média ± erro padrão da média. Resultados: Não foi encontrado diferenças significativas (p < 0,05) entre os grupos no tamanho do infarto (IM: 45,20 ± 4,96 %, IMT: 45,40 ± 5,81 %). O grupo C (215 ± 17 g) apresentou força maior no início do protocolo de treinamento, e os grupos IM (198 ± 14 g) e IMT (205 ± 14 g) que não diferiram entre si. Porém somente IMT apresentou ganho (p<0,05) de força ao final do programa de treinamento (1o: 365 ± 10, 2o: 468 ± 19, 3o: 526 ± 20; g). Não foi identificado diferenças na massa corporal dos animais antes e após as 18 semanas do protocolo, porém ambos grupos aumentaram de peso ao longo do protocolo. Os animais do grupo C (77,80 ± 0,46 %) apresentou valores do teor de agua pulmonar menores (p<0,05) que os grupos IM (81,67 ± 0,50 %) e IMT (79,89 ± 0,26 %) que também diferiram entre si. A massa absoluta (A) e relativa (R) dos átrios do grupo C (A: 27,60 ± 1,21 mg; R: 0,10 ± 0,00 mg/g) foi menor (p<0,05) que nos grupos IM (A: 90,78 ± 13,65 mg; R: 0,35 ± 0,05 mg/g) e IMT (A: 82,22 ± 15,66 mg; R: 0,32 ± 0,06 mg/g) que não diferiam (p>0,05) entre si. Considerando a massa ventricular direita absoluta e relativa, os valores do grupo IM (A: 296,10 ± 29,93 mg; R: 1,16 ± 0,12 mg/g) foram superiores (p<0,05) aos grupos C (A: 156,20 ± 8,22 mg; R: 0,61 ± 0,02 mg/g) e IMT (A: 222,20 ± 18,71 mg; R: 0,87 ± 0,06 mg/g) que não diferiram (p>0,05) entre si. As massas do ventrículo esquerdo absoluta e relativa do grupo C (A: 487,60 ± 9,41 mg; R: 1,92 ± 0,04 mg/g) foram menores (p<0,05) que os grupos IM (A: 793,10 ± 19,35 mg; R: 3,12 ± 0,08 mg/g) e IMT (A: 673,00 ± 6,15 mg; R: 2,67 ± 0,07 mg/g) que também diferiram (p<0,05) entre si. De maneira similar a massa ventricular esquerda, a massa cardíaca do grupo C (A: 643,80 ± 9,86 mg; R: 2,53 ± 0,04 mg/g) apresentou valores inferiores aos grupos IM (A: 1089,00 ± 28,72 mg; R: 4,29 ± 0,12 mg/g) e IMT (A: 895,20 ± 21,62 mg; R: 3,54 ± 0,08 mg/g) que também diferiam (p<0,05) entre si. Os valores dos parâmetros da TD, +dT/dt e -dT/dt respectivamente do grupo C (6,24 ± 0,27 g/mm2, 61,56 ± 4,75 g/mm2/s; 45,47 ± 3,22 g/mm2 /s) foram superiores (p<0,05) que a dos grupos IM (2,36 ± 0,28 g/mm2; 18,83 ± 2,85 g/mm2/s; 11,32 ± 1,66 g/mm2/s) e IMT (3,81 ± 0,24 g/mm2; 35,01 ± 1,64 g/mm2/s; 21,94 ± 1,33 g/mm2/s) que também diferiram (p<0,05) entre si. Os valores do TPT e do TR50% respectivamente dos grupos IM (259,90 ± 9,74 ms; 217,20 ± 14,36 ms) e IMT (233,30 ± 10,37 ms; 204,40 ± 12,84 ms) não diferiram (p>0,05) entre si, contudo foram superiores (p<0,05) ao do grupo C (174,00 ± 7,02 ms; 139,7,72 ± 7,72 ms). Não foi observado diferenças (p>0,05) nos valores da TR entre os grupos. A contração pos pausa relativa para pausa de 60 segundos foi significativamente inferior (p<0,05) no grupo IM (0,96 ± 0,01) comparado aos grupos C (1,39 ± 0,03) e IMT (1,21 ± 0,05) que também diferiram (p<0,05) entre si. Após a troca de solução de Ca2+ de 1,5mmol para 2,5 mmol foram encontradas diferenças significativas na TD, +dT/dt e -dT/dt somente nos grupos C e IMT. Não foi encontrado alterações significativas no grupo IM. O volume nuclear do grupo C (140 ± 4,40 μm3 ) foi menor (p<0,05) que IMT (212,6 ± 2,57 μm3) que também diferiu (p<0,05) do grupo IM (249,60 ± 9,20 μm3). De maneira similar, o conteúdo de colágeno foi significativamente (p<0,05) maior no grupo IM (3,24 ± 0,15 %) comparado aos grupos IMT (2,16 ± 0,22 %) e C (1,44 ± 0,11 %) que também diferiram (p<0,05) entre si. Conclusão: animais infartados submetidos a programa de treinamento de força exibiram aumento da força, atenuação do aumento da massa ventricular esquerda e da cardíaca total. Em relação a contratilidade miocárdica, os animais do grupo IMT exibiram atenuação do desempenho contrátil, da potenciação pós pausa e da sensibilidade ao cálcio sem apresentar alteração nos parâmetros da curva estiramento tensão. Estruturalmente, os animais do grupo IMT também apresentaram atenuação do aumento do volume nuclear e do deposito de colágeno no miocárdio remanescente.