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Introdução

Professores de educação física ocupam hoje diferentes posições no mercado de trabalho. Em linhas gerais a formação em nível superior dos profissionais desta área destina-se ao bacharelado e/ou a licenciatura, desta forma a escola aparece como uma grande oportunidade de atuação.

Novas tendências educacionais vão surgindo direcionando o trabalho do professor, o que os impulsiona na busca de novos saberes/fazeres. Sendo a escola historicamente um importante lócus de formação humana, devemos pensá-la em todas as suas potencialidades. O espaço/tempo da lucidade tem presença marcante no contexto educacional, porém inúmeros educadores não o valorizam e até mesmo o desprezam. Como então dar ao jogo e as atividades lúdicas um lugar de destaque no campo educacional? Analisar e discutir as teorias de jogos e suas implicações com a educação se faz necessário, principalmente em cursos de formação de professores da educação básica. O presente trabalho tem como proposta refletir sobre o "lugar" do professor de educação física no contexto escolar e sua relação com os demais educadores na busca das contribuições dos jogos no processo educacional.

A escola e professor de educação física

A educação física escolar é uma área que vem colecionando diversas críticas quanto ao trabalho e desempenho dos professores neste espaço/tempo. Resíduos de uma fase tecnicista ainda acompanham algumas práticas pedagógicas da educação física, o que de certo modo contribui para a resistência deste tipo de trabalho na escola.

Paulo Ghiraldelli Júnior vem desenvolvendo uma pesquisa com alunos da Universidade Estadual Paulista, UNESP, Rio Claro que pretende esboçar as possibilidades de uma " nova Educação Física". Um trabalho, que segundo o autor, pretende ser um ponto de partida para a superação das diversas concepções de Educação Física vinculadas a ideologia dominante.

Com uma breve passagem pela história, podemos compreender que certas tendências pedagógicas não se incorporaram no trabalho docente do professor de educação física por acaso. O período militarista pós 1964 deixou marcas tecnicistas no trabalho de muitos profissionais. Ghiraldelli classifica este período como "Educação Física Competitivista"(1998), pois o objetivo central que direcionava o trabalho escolar nesta área era a caracterização da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados pela sociedade da época.

A educação física escolar alinhou-se facilmente a esses desígnios. Não foi por acaso que a Reforma Universitária de 1968, com a Lei 5.540, veio acompanhada de um parecer que confere ao profissional de educação física o título de técnico desportivo.

Fato curioso, no entanto previsível, foi o enquadramento da educação física com a educação moral e cívica num mesmo artigo da Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71. Os corpos dos futuros cidadãos tornavam-se assim "dóceis" à ideologia dominante, como nos sugere Foucault (1987). A educação física passava pela moralidade, respeito e disciplina atribuídos aos jogos desportivos na escola. Em contrapartida neste período se eleva o nível e o conceito dos professores de educação física, incentivando-se estudos, pesquisas e elaboração de trabalhos na área, embora as faculdades de Educação Física ainda mantivessem um currículo muito mais voltado para a "desportivização", caracterizando o modelo tecnicista do período da Ditadura Militar. Marcos Taborda Oliveira (2003), tenta compreender se o alinhamento do trabalho escolar do professor ao perfil militarista foi por adesão, resistência ou alienação.

Se observarmos a legislação da educação física no período em questão, poderemos entender as propostas curriculares e suas relações com as práticas dos professores.O decreto nº 69.450/71 valoriza a atividade recreativa, mas apresenta no Título I , art. 1º um caráter moral e cívico para a educação física. Desta forma a intenção desportiva e recreativa da educação física passa a nortear o trabalho de grande parte dos professores. Mas até quando, onde e de que forma?

A legislação autoritária da Educação Física entra no interior das escolas e na maioria delas parece vigorar até hoje. No imaginário de grande parte dos atores escolares a educação física continua sendo física (ou melhor, só física), cabendo aos demais docentes a formação intelectual e cultural do aluno. Estarão os professores acomodados com suas práticas? Estão sem uma identidade profissional? O que na verdade predomina como proposta pedagógica para a educação física escolar?

Com tantas reformas educacionais, principalmente com a LDB 9394/96, novas concepções do trabalho escolar da educação física vem surgindo. Cabe-nos ainda perguntar: Por que a grande maioria das escolas ainda hoje não compreende o trabalho do profissional desta área? Estaria ele preso aos moldes tecnicistas, confinado a uma disciplina do currículo, ou seu trabalho é de descomprometimento com a cultura da escola? Por que a cultura da escola e a educação física não se imbricam?

Reflexões quanto ao caráter recreativo ou desportivo das atividades desenvolvidas nas aulas de educação física, vem apontando novas concepções e novos modos de pensar o fazer pedagógico desta área de conhecimento. Inúmeras publicações, discussões e propostas chegam à área da educação física. Influências da antropologia, da filosofia, da sociologia, da pedagogia e da psicologia podem nos levar a busca de um novo paradigma para nossas práticas educativas. Precisamos (re) reconstruir nossos fazeres e saberes em educação física.

Propostas de transdisciplinaridade, muitas vezes, levam a educação física a estar à disposição de outra disciplina do currículo. É com freqüência que professores de diferentes disciplinas, nas diferentes séries da educação básica (e também nos cursos superiores de formação de professores), recorrem a jogos para a transmissão de um conteúdo de sua matéria, são os conhecidos jogos didáticos que muito atraem alguns professores. Seria então a educação física, com sua prática por meio de jogos, um fim ou um meio no processo educacional? Que novos caminhos que também sejam interdisciplinares, ou mesmo transversais, podem levar a educação física a ter uma legitimidade no contexto escolar? Como dentro de um principio técnico que norteia a área não atuar de forma tecnicista?

Encontramos no interior dos cursos de formação de professores (de educação física e outros) um campo de intervenção e debates bastante fértil. O processo de formação de professores implica em transformações em suas práticas. A educação e a ludicidade são temas pertinentes em qualquer curso de formação de professores. Neste sentido suas práxis devem ser permeadas com atividades de jogos. Ma que jogos são estes e que contribuições no processo de formação do indivíduo eles trazem?

Os jogos escolares não são apenas de responsabilidade social do professores de educação física( Ferreira,1992) , os demais professores também são por eles responsáveis, pois em seus fazeres pedagógicos muitos o utilizam de modo consciente ou não e com ou sem intencionalidade. É preciso que estes professores internalizem os sentidos dos jogos para compreenderem o significado que eles tem para o aluno. A compreensão do professor sobre determinado tema (neste caso o jogo), vai além do domínio das técnicas e do acúmulo de informações, mas atinge sua capacidade de fazer associações, de organizar essas informações e de identificar as formas como elas se materializam (Ferreira, apud Votre1995), desta forma torna-se relevante o oferecimento de vivências lúdicas na formação docente.

O lugar do professor de educação física na formação de professores da educação básica

Apontando as inúmeras possibilidades de atuação dos profissionais de educação física e considerando-os em seus diferentes campos de atuação como pensadores de novas propostas pedagógicas, pretendo neste trabalho, refletir sobre sua inserção nos Cursos de Formação de Professores.

Ao tratar da educação física escolar, não podemos afastar nosso olhar da escola compreendendo-a como um espaço instituído em que a formação dos sujeitos ocorre de forma complexa, levando a educação física a contribuir nos aspectos bio-psico-sócio-culturais dos alunos.

Os jogos e as brincadeiras infantis ocupam grande espaço no cotidiano escolar, podendo fazer parte de uma aula de educação física, de uma atividade recreativa promovida pela professora do ensino fundamental ou simplesmente de forma espontânea nos intervalos das aulas e no recreio. Suas contribuições devem fazer parte de movimentos sócio educativos e cultural que lhes confiram lugar de destaque na formação de professores, sejam eles de educação física ou professores de outras disciplinas da educação básica.

Iduína Mont’Alverne Chaves (2000) nos propõe "pensar a escola como um sistema aberto às múltiplas dimensões da realidade " bio-psico-sócio-cultural". Este pensamento vem de encontro a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 que em seu artigo 26 § 3º integra a Educação Física como componente curricular à proposta pedagógica da escola, assim como os PCNs que reconhecem a importância da educação física , não só no aspecto fisiológico , como por sua dimensão cultural, política , afetiva e social.

"Entendendo a Educação Física como cultura corporal, a escola passa a lhe atribuir um papel relevante e os jogos e brincadeiras se revelam como ferramentas metodológicas, não só para os profissionais da área , como para os demais educadores. Desta forma, as atividades lúdico/educativas são ora consideradas como atividades com um fim em si mesmas, ora como meio no processo ensino-aprendizagem, onde os jogos e as brincadeiras não podem ser considerados pertencentes apenas a área da Educação Física, visto que inúmeros educadores da educação básica os tem incluído em seu fazer pedagógico , seja como instrumento didático, seja como recreação."(NHARY,2004)

Como então as propostas da educação física escolar poderiam se imbricar com a cultura da escola? Que possibilidades têm o professor de educação física de atuar em integração com os demais professores? Não esperamos que estas parcerias gerem prestação de serviços, pois é muito comum o professor de educação física ser aquele que alivia as tensões dos alunos que estão concentrados em disciplinas tidas como sérias tendo as atividades por ele desenvolvidas um caráter recreativo. Seria com este mesmo caráter que os demais professores se utilizam dos jogos em sala de aula? Como se pode perceber o trabalho da educação física, a recreação e até mesmo os "jogos educativos" (refiro-me aqueles que o professor trabalha com um conteúdo de uma disciplina do currículo), fazem parte do cotidiano escolar com ou sem intencionalidade, o que nos leva a uma gama de reflexões.

Considerações finais

Nos Cursos de formação de professores encontramos um espaço de valorização do trabalho com ludicidade. Disciplinas que abordam a cultura infantil, a sociologia da infância, a psicologia do desenvolvimento e a organização dos espaços e tempos escolares, passam pelo viés da utilização de jogos e pelo reconhecimento da importância da brincadeira na infância. São diferentes lugares de interlocução entre professores e alunos/professores, tornando-se importante a representação de profissionais de educação física nestes espaços.

Esta perspectiva de trabalho para o professor de educação física nos cursos de formação de professores deve ganhar visibilidade nos fóruns de discussões sobre educação. Volto assim a perguntar: Conseguiria a cultura da escola se imbricar com a educação física?

Esperamos que com a ampliação destas discussões a ludicidade, os jogos, as brincadeiras e a cultura corporal possam nos levar a uma ação/reflexão/ação que possibilite a educação física ter um lugar de destaque no contexto educacional.

Obs. A autora, Tania Marta Costa Nhary é da UERJ / FFP - São Gonçalo e é mestranda em educação na UFF.

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