Resumo
Idealizada pelo professor francês Pierre Parlebas, a Praxiologia Motriz recebeu as primeiras orientações teóricas no final da década de 60. Já são mais de 30 anos de estudo e reflexão sobre uma área que se debruça em desvelar o mundo dos jogos (esportes, brincadeiras, exercícios, etc.) a partir das normas das atividades. Foram criados instrumentos, categorias e modelos para facilitar a compreensão do mundo dos jogos, que tanto nos encanta. Mas como esses elementos poderão ser aplicados ao contexto escolar? Isso é que se pretende responder no presente trabalho. Por ser uma questão ampla, optou-se por começar do início. Significa estudar o documento que norteia as ações dos educadores em todo o Brasil, no caso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Assim, a questão ganhou maior especificidade, e originou três objetivos: analisar, com lentes praxiológicas, a estrutura dos blocos de conteúdos e das atividades sugeridas em cada bloco para o Ensino Fundamental; com base nas análises das atividades e no conhecimento praxiológico, interpretar os alicerces teóricos da área de Educação Física dos PCN para o Ensino Fundamental; e, por fim, elaborar uma proposta de conteúdos de Educação Física para o referido documento. Foram utilizados dois instrumentos da teoria da ação motriz para orientar os objetivos propostos. O primeiro está relacionado à forma de interação dos participantes (sem interação, cooperação, oposição e oposição-cooperação) e ao meio de prática (estável e instável). A outra matriz de análise organiza as grandes situações motrizes da Educação Física, no caso, jogos tradicionais, esportes, exercícios didáticos e atividades livres. Na análise dos blocos e propostas de conteúdos foi possível constatar: o descuido que ainda existe no trato com os jogos tradicionais; a força com que é enfatizado o esporte; imprecisão terminológica; concentração de atividades com estruturas similares, como os jogos de cooperação-oposição e, conseqüentemente, ausência de práticas do tipo cooperativa e as atividades na Natureza. Ao interpretar o documento, verificou-se que existe uma proximidade da concepção de cultura corporal às bases teóricas antropológicas que deram origem à teoria da ação motriz. Por outra via, pode-se verificar que existe uma lacuna entre as bases teóricas e os conteúdos, ao ponto de se combater aulas esportivizadas e, como principal conteúdo do bloco dos jogos tradicionais e esportes, propor atividades predominantemente esportivas, ou que preparam para o esporte. Por fim, a proposta para a organização dos conteúdos de Educação Física para o Ensino Fundamental partiu dos três blocos do documento: jogos tradicionais e esportes (a terminologia foi adequada); atividades rítmicas e expressivas; conhecimentos sobre o corpo. Cada bloco foi estruturado em função do Sistema de Classificação, que organiza as atividades a partir do tipo de interação e do meio de prática (no caso dos jogos e esportes), seguidas das formas de organização das grandes situações motrizes da Educação Física. Com isso, sugere-se que os conteúdos sejam orientados pela lógica interna dos blocos, e não por atividades específicas. Essa proposta implica também a inclusão e discussão de novos conceitos relativos aos jogos como meio de prática instável, cooperação, oposição, práticas psicomotrizes, tomada de decisão, entre outros. Os resultados da investigação delimitam uma série de questionamentos, dentre esses, o diálogo entre teoria e prática da Educação Física, a partir do conhecimento que estuda o mundo dos jogos, denominado Praxiologia Motriz.