Resumo

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Integra

PRIMEIRA AULA ABERTA NO FACEBOOK

Dia 17 de novembro de 2011
Tema: Cooperação e Competição
Horário: 20:00
Coordenador: Prof. João Batista Freire

Às vinte horas do dia 17 de novembro de 2011, comecei a primeira aula aberta no meu Facebook, uma experiência que faço de usar as redes sociais para compartilhar conhecimentos. A ideia é realizar aulas em que muitas pessoas, de diversas formações, compartilhem suas experiências em torno de um tema previamente definido. As opiniões são livres, não são censuradas, e não há julgamentos sobre certo e errado. Isso não impede que haja divergências e debates. Na sala de aula da aula aberta, todos são professores e alunos ao mesmo tempo.

No começo da aula, publiquei um pequeno texto sobre Competição.

"O montanhista, experiente, queria subir o Everest. Preparou-se durante anos. Foram milhares de horas de exaustivos treinamentos. Quando se sentiu pronto, empreendeu a aventura, junto com uma equipe. Durante dias enfrentou frio, tempestade, falta de oxigênio. Quase morreu. Finalmente chegou ao pico, venceu. Era um esportista, um competidor. Porém, o Everest foi vencido? Continuou como era? O que o esportista venceu? Com quem competiu?"

Durante a aula foram realizadas 485 intervenções. Por ser impossível transcrever todas, faço um apanhado delas, tentando dar sentido de conjunto ao que foi dito, e mantendo a fidelidade aos comentários. Na íntegra os comentários podem ser lidos em meu Facebook (João Batista Freire) do dia 17 de novembro de 2011.

O texto publicado no início sugeriu comentários iniciais a respeito da competição, quase sempre interpretando a situação do montanhista. Algumas pessoas afirmaram que o montanhista competiu com ele mesmo e venceu foi seus limites. O Everest não se modificou, continuou lá, como sempre foi. As adversidades opostas ao esforço do montanhista teriam sido várias e o Everest representou apenas uma delas.

No início esse tipo de opinião prevaleceu, com algumas variantes. Por exemplo, a de que o montanhista não lutou contra alguém, mas a favor dele mesmo. Interessante é observar que, enquanto algumas pessoas achavam que o montanhista competiu com ele mesmo, outras diziam que ele lutou a favor dele mesmo.

Quando sugeri pensarem a mesma questão, agora no futebol, surgiram opiniões de que no futebol, a diferença é que o adversário é vivo. Além disso, no futebol, além de vencer seus limites o atleta tem que vencer os limites dos adversários. O número de variáveis seria muito maior no futebol que no montanhismo.

Os participantes da aula passaram, a partir de certo momento, a confrontar cooperação e competição, dizendo, por exemplo, que o jogo competitivo é também cooperativo. Ou seja, há cooperação entre os integrantes de uma mesma equipe.

A ideia de vitória não fica clara no montanhismo, pois o montanhista diz que "venceu" o Everest, sem esclarecer o que significa isso. A ideia de vencer é muito presente no esporte, não importa se no montanhismo, se no futebol. De modo que podemos colocar em questão o que significa "vencer". Quem vence, vence o que? Para algumas pessoas, para subir o Everest os montanhistas podem se preparar vendo o feito como uma competição, enquanto outros, como a possibilidade de um encontro com algo mais íntimo, mais profundo.

Voltando às comparações entre competição e cooperação, houve quem dissesse que é preciso destacar a importância do outro na competição, porque, sem ele, não se compete, e isso é sintoma de cooperação.

As comparações entre cooperação e competição estiveram tão presentes durante a aula aberta, que, frequentemente, os participantes diziam que antes de qualquer coisa o atleta tem que superar a si mesmo, seus limites, caso contrário, não há sentido em superar o outro. Houve, inclusive, quem dissesse que o montanhista criou seu próprio adversário na figura da montanha. Isto é, é como se esse adversário estivesse nele mesmo e ele o projetasse na figura da montanha.

Fora das variantes cooperação e competição, surgiram outras contribuições. Como a de sugerir que o montanhista, quando se lança ao desafio de escalar o Everest, busca destaque no grupo social. Mesmo quando se trata de uma conquista sem valor algum, os desafios revelam nossa inquietude de conquistadores.

De modo geral, nessa primeira parte da aula, os participantes concordavam que nos esportes há, ao mesmo tempo, cooperação e competição, pois os desafios do esporte não podem ser vencidos individualmente, um vez que as dificuldades do esporte exigem sempre trabalho de equipe.

Alguns alunos-professores da aula aberta levantaram o papel da mídia no esporte, que valoriza, acima de tudo, a vitória, e relaciona a derrota com fracasso. As pessoas que lidam com educação não deveriam fazer o jogo da mídia e aproveitar mesmo as situações de derrotas para educar. Essa história do ganhar a qualquer custo tem a ver com a importância da exposição na mídia e com os altos salários pagos em alguns esportes.

O papel do coletivo no empenho do montanhista é destacado por muitos participantes. Alguns mencionam, entre as adversidades, sentimentos como o medo.

A questão da adversidade, que coloquei como sendo o outro lado do montanhista, ou do jogador de futebol, é colocada por alguns como não sendo aquilo que deve ser superado. A ser superado, para esses participantes, está o desafio.

Há mesmo aqueles que acham que, ao subir o Everest, o montanhista deixa para trás uma montanha que já não será a mesma, pois o Everest era algo para o montanhista, e não como algo em si. E, sendo assim, ao ser escalado, passou a ser diferente para aquele que o escala.

Insisti na questão da adversidade, e um dos participantes levanta a questão de não ser possível haver competição sem adversário, seja esse adversário, uma pessoa, um acontecimento, ou qualquer outra coisa que represente esse adversário.E, para alguns, esse adversário pode ser algo construído por nós, algo que não está fora de nós, mas dentro de nós e construído.

Em alguns momentos a questão da competição e cooperação foi levada para o âmbito da educação. Há quem ache que é possível valer-se da competição para educar, mas aí a ênfase deve recair na cooperação, sempre presente quando há competição.A competição poderia provocar, na educação, algo muito importante, que é reconhecer a existência do outro. Destacou-se também a importância da educação para lidar com a competição, uma realidade em nosso cotidiano.

Aproveitei o momento para colocar outro pequeno texto:
"Várias crianças brincavam de casinha. Uma delas pegava pedrinhas pequenas e empilhava, compondo sua fantasia. De repente cismou de colocar uma pedra grande ao lado das pequenas. Tentou e não conseguiu. Era pesada demais para ela. Pediu ajuda a um amiguinho. Não foi suficiente. Chamou mais outro. Os três juntos ergueram a pedra e a colocaram onde o primeiro queria. Cooperaram em que momento? "

Segundo alguns participantes, quando se trata de aula, é preciso tomar cuidado com a ênfase que se dá às coisas, pois se a ênfase recair muito na competição, não haverá cooperação. No caso da brincadeira das crianças, houve quem achasse que as crianças cooperaram sim, por vários motivos. As crianças teriam cooperado quando passaram a ter o mesmo objetivo. De alguma maneira as crianças reconheceram a necessidade de cooperar e por isso assumiram uma atitude cooperativa.

Perguntei se quando aquilo que nos opõe resistência é fraco, precisamos de ajuda. Houve um participante que disse que a própria aula aberta era um exemplo de cooperação, precisava da ajuda de todos. Nesta aula não há competição, pois não há nota, nem cobrança de trabalhos, portanto, todos vencem.

Para algumas pessoas, cooperação e competição são complementares, e a linha que separa uma da outra é muito tênue. Porém, na sociedade em que vivemos, é comum privilegiarmos a competição em detrimento da cooperação.

De modo geral, os participantes acreditam na complementaridade entre competição e cooperação. Percebem que os meios de comunicação dão muita ênfase, quando se trata de esporte, à competição, ignorando que nos esportes, sempre existe cooperação. Muitos sugerem que a competição pode ser bastante educativa se soubermos lidar bem com isso em nossas aulas, pois, se o outro lado é a cooperação, tanto podemos ensinar a superar as adversidades como ensinar a unir esforços e agir coletivamente.

Volta e meia surgia um comentário lembrando que, no esporte, a questão do dinheiro destaca muito a importância da competição.

No esporte, seria tão grande o valor da competição que os competidores sequer perceberiam, na maioria dos casos, o trabalho em equipe, o valor do coletivo, da união das pessoas dessa mesma equipe. E isso é cooperação.

Na opinião de alguns, não é possível cooperar sem grupo, mas a competição poderia acontecer com uma só pessoa.

Cooperação, na opinião de alguns, levando-se em conta, inclusive, a definição que consta nos dicionários, não é só ficar juntos, mas operar junto com outros para o bem comum.

O que mais instigou os participantes da aula aberta foi a relação competição/cooperação como coisas complementares. Houve quem disse que elas não se opõem, compõem-se.

Citei Leonardo Boff, para alimentar a discussão. Ele afirmou que a igualdade "resulta da participação de todos. Cada um é singular e diferente. Mas a participação impede que a diferença se transforme em desigualdade"

Houve participantes que disseram que na competição há pessoas em lados opostos, mesmo que os objetivos sejam os mesmos. No caso da cooperação, todos estão em um mesmo time.

Algumas pessoas que trabalham com educação infantil levantaram o problema da dificuldade de trabalhar a cooperação com as crianças, pois elas clamam por atividades competitivas. Nota-se, nas crianças da educação infantil um comportamento egocêntrico, que dificulta a cooperação. O que será que produz esse comportamento competitivo em crianças tão pequenas. Será a sociedade em que vivemos?, perguntam alguns. Afinal, pergunta-se, a criança tem que ficar a serviço da atividade ou é a atividade que deve servir à criança?

Perder, em uma competição, pode ocasionar problemas para o perdedor, sempre que o vencedor é glorificado e o perdedor diminuído. Na educação, um dos problemas decorrentes disso é conseguir fazer a criança passar a bola para um companheiro melhor posicionado, se a valorização é só para quem faz o gol.

Nesse momento da aula citei a Profa. Nilda Teves: "Se não somos deuses, se por natureza somos carentes, se nossa liberdade esbarra sempre na liberdade do outro, se o homem só se isola em sociedade, o que nos resta senão com-viver?"

Os comentários mudavam constantemente, da questão da competição para a da cooperação, e vice-versa. Alguém perguntou se os adversários são criados por nós ou foram criados para nós.

A solução para o problema de equacionar competição e cooperação na escola seria, para algumas pessoas, deixar que as crianças e os jovens assumam suas responsabilidades, planejem suas ações, tomem atitudes que acharem mais adequadas. Ou seja, na prática pedagógica com crianças, não deveríamos fazer discursos sobre as virtudes da cooperação, mas fazê-las praticar jogos em que cooperar seja interessante para elas, inclusive, para o resultado do jogo. Nem sempre lembramos que na pedagogia com crianças, é preciso transformar os discursos em práticas. Por exemplo, o passe da bola é o elemento de ligação cooperativa nos jogos coletivos. Ou a roda de conversa final, que alguns fazem, quando os alunos falam sobre o que aprenderam, falam das dificuldades, das soluções.

Foi lembrado que a competição não deve ser tratada de maneira preconceituosa, pois ela tem aspectos positivos. E mesmo que tenha aspectos negativos, eles devem ser vivenciados para serem conhecidos e compreendidos. Viver adequadamente os aspectos positivos e negativos da competição pode ajudar a preparar para a vida. Nas aulas, é difícil abrir mão das atividades competitivas, o que daria para fazer é equilibrar competição com cooperação. Há objetivos na escola que destacam muito o aspecto competitivo, como o Enem e os vestibulares. Porém, os que insistem que a competição deve ser vivida, dizem que entender as relações entre vencedor e vencido é muito importante. Foi lembrado que há sistemas estaduais de ensino que estimulam o tempo todo a competição, com os jogos escolares. É sempre aquela questão de estimular o aluno a ser melhor que o outro.

Seria preciso, no entanto, como foi bem lembrado, compreender melhor o que é a competição e como ela deve ser situada na escola. A criança, enfim, competiria por qual motivo? Para ganhar medalhas? Para ganhar notas? Porém, como lembrou alguém, quando duas crianças brincam de amarelinha, elas competem e não está em jogo uma medalha ou um prêmio financeiro. O montanhista também pode querer subir a montanha, não para ganhar prêmios, mas pelo prazer de chegar ao topo.

Alguns professores presentes à aula aberta não vacilam em dizer que, em suas aulas, priorizam o aspecto cooperativo, pois o sistema educacional já está banhado de competição. Aqueles que priorizam em suas aulas a competição, acabam excluindo os alunos que apresentam maiores dificuldades motoras.

Foram citados dois autores. Novamente a Profa. Nilda Teves: "Com-viver, então, demanda reciprocidade, solidariedade, respeito ao próximo e, acima de tudo, generosidade.", do livro Cidadania, uma questão para a educação. E o Prof. Humberto Maturana: "A competição sadia não existe. A competição é um fenômeno cultural e humano, e não constitutivo do biológico. Como fenômeno humano, a competição se constitui na negação do outro".

A cooperação teria que ser uma prática. Os seres humanos são frágeis quando estão sós. Só se fortalece quando se junta com outros.

Enfim, a aula aberta chegou ao seu final, por volta das vinte e uma horas, com os alunos concluindo que a aula aberta constituiu uma espécie de cooperativa de conhecimentos, em que todos puderam colocar suas opiniões livremente.

Vale destacar o ambiente amistoso, mesmo com tantas divergências de pontos de vista.

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SEGUNDA AULA ABERTA

17 de novembro de 2011

Das vinte às vinte e uma horas

Tema: Cooperação e Competição

 

Os dados descritos abaixo não levam em conta os participantes que apenas “curtiram”, ou assistiram a aula, portanto, certamente foram mais de 69 os participantes dessa primeira aula aberta.

 

Participantes

Total de intervenções

1

João Batista Freire

70

2

Alexandre Dezen Arena

32

3

Denise Jovê Biba

26

4

Elisabeth Maier

26

5

Biba Renata Barreto

24

6

Márcia Bravo

22

7

Ronaldo Assis

21

8

Marcos Antonio Fari Jr

17

9

Luiz Fernando

15

10

Everton Celeste Faustino

14

11

Fernanda Feliciano

14

12

Thais Caliari Tagliari

14

13

Cristina Oliveira

12

14

Paulo Silva

12

15

Guilherme Marsin Junqueira

10

16

Rogério Zaim de Melo

10

17

André Pinduka

9

18

josé Luiz Costa

9

19

lívia Resende

9

20

Fábio Trackinas

7

21

Marta Lancafilo

7

22

Polyana Alencar

7

23

Davi Silva

5

24

Katiana Karlla

5

25

Maria Patrícia

5

26

Raquel Franco

5

27

Doris Line

4

28

HudsonPpablo

4

29

josemar Paixão

4

30

Maria Georgina Tonello

4

31

Nilton Campos

4

32

András Vörös

3

33

Claudio Marcelo de Almeida

3

34

Edson reis

3

35

Elias da Silva

3

36

Jacson Nunes Santos

3

37

Juliano Costa

3

38

Reginaldo Fernandes

3

39

Rosi Beraldi

3

40

Cícero Adriano

2

41

Douglas Eduardo

2

42

Gilvan Alves da Silva

2

43

Marcos Rodrigues Gomes

2

44

Rafael Dias de Carvalho

2

45

Shirlei Cardoso

2

46

Aline Faria

1

47

Andrea /Ramacciotti

1

48

Antonio Luiz

1

49

Camila Tenória Cunha

1

50

Cibele Venâncio

1

51

Claudia Zancheta

1

52

Diogo Diogão

1

53

Dionízio Dizzy

1

54

Fabrício Souza Chegar

1

55

Frederico Ribeiro

1

56

Flávio Rui Jr

1

57

Gabriela Valverde Pena

1

58

Helen moral

1

59

Jéssica  Vilas Boas

1

60

Jessyca Oliveira F. Araruna

1

61

Julio Paiva

1

62

Mara Medeiros

1

63

Monica Beatriz S. SantAna

1

64

Rafael Rodrigues Lima

1

65

Raquel Stefanini Romero

1

66

Renata Lacerda

1

67

Rosa Brito

1

68

Tatiana Maria

1

69

Thiago Mendes

1

 

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