Resumo
Este trabalho, situado na linha de pesquisa Transformações Sócio-Culturais e Educação Física desenvolvida no Mestrado em Educação Física da Universidade Gama Filho, teve como objetivos analisar as representações corporais de adolescentes urbanos de classe média e identificar os valores que as orientam. Evidenciou-se, nessas representações, a participação do corpo no processo de elaboração de identidade e a manifestação de valores como hedonismo, liberdade e autocontrole. A partir do método da Observação Participante, foram acompanhados e entrevistados adolescentes com idades variando entre 14 e 18 anos, pertencentes a dois diferentes grupos, ambos moradores da área de Jacarepaguá, no Município do Rio de Janeiro. Estabeleceu-se um cruzamento entre os depoimentos colhidos nas entrevistas direcionadas e os dados da observação participante, que levou em consideração aspectos relacionados ao corpo e aos mecanismos e códigos de construção da linguagem corporal, como: aparência física, roupas, adornos, movimentações e expressões corporais. Numa abordagem qualitativa, as representações foram analisadas a partir do contexto em que são reproduzidas e produzidas, numa concepção processual e dinâmica da cultura. Os dados coletados nos conduziram à auto-representação da adolescência como momento ideal para a realização dos desejos e o extravasamento das emoções no presente, onde há maior liberdade sem muitas responsabilidades, o que desencadeia a insatisfação pela perda desta condição no futuro. Por um lado, a construção do corpo no processo de elaboração de identidade expressa o desejo da diferenciação em relação ao adulto, para opor-se à imagem da responsabilidade, vinculada normalmente à formalidade, à seriedade e ao autocontrole do corpo e das emoções. Por outro lado, o corpo é representado enquanto poder, tanto no sentido da potência física da juventude, quanto das possibilidades sociais, ambas evidenciadas pelo elo entre disposição e disponibilidade para a realização de extravagâncias e espontaneidades corporais.