Resumo

No debate acerca do objeto e da função social da prática pedagógica chamada Educação Física, podemos destacar, a princípio, dois momentos. O primeiro, pautado sobre o discurso da racionalidade científica, representado pelo conhecimento da biologia e da medicina, compreendeu o corpo e o movimento como algo puramente biológico, tendo a intervenção da Educação Física o objetivo de controlar o comportamento desse corpo, agindo sobre o mesmo. No segundo momento, a Educação Física buscou fundamentar sua prática pedagógica no conhecimento das Ciências Humanas, concebendo o corpo como uma construção social e discursiva, tendo o objetivo de sua intervenção denunciar os controles sociais sobre o corpo, apresentando as práticas corporais produzidas socialmente e historicamente pela humanidade. No entanto, mesmo havendo uma diferença entre os conhecimentos que fundamentam estes dois momentos, o corpo e o movimento são considerados o “objeto” da ação, seja do controle da natureza (primeiro momento) ou do “controle social” (segundo momento). Porém, recentemente vemos surgir um conjunto de concepções que buscam no próprio corpo possibilidades para não somente resistir a estes controles, mas produzir novos modos de subjetivação, sendo o corpo, portanto, ativo em frente a esses processos. Assim, é nesse terceiro conjunto de concepções que a presente dissertação está inserida. Neste sentido, nossa dissertação teve o objetivo de colocar o debate acerca do teorizar em Educação Física e sua função social/pedagógica em termos da problemática da percepção e produção comum a partir de um determinado circuito de afectos. Para isso, buscamos implicações nas obras de Deleuze e de Spinoza, sobretudo em conceitos como afectos, afecções, noções comuns, potência, conatus, gêneros de conhecimento, desejo e Corpo-sem-Órgãos. Isso nos levou a considerar que o objeto e a função social/pedagógica da EF, nesta perspectiva, consistem em criar um plano que torne possível a percepção e produção daquilo que é comum aos corpos em movimento numa determinada prática corporal: a potência de movimento. A esse plano chamamos de cultura corporal de movimento, ou seja, um plano de composição que não torna possível apenas o movimento já encarnado, na sua dimensão extensiva que são as práticas corporais, mas, também, a própria potência que fabrica o movimento (a potência de movimento), isto é, sua realidade intensiva. Assim, a cultura corporal de movimento seria o plano que possibilita a percepção e produção do movimento e da potência de movimento. Acreditamos que esse modo de problematizar dá à Educação Física a condição de conceber o corpo como condição para a produção de novos processos de subjetivação e outros modos de existência, em um horizonte ético-político do encontro nas práticas corporais.

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