Resumo

A partir do século XVIII, a diferenciação sexual dos corpos impõe-se na sociedade francesa e, em sua esteira, surgem a teorização e a promoção de uma "natureza feminina" sistematizada. No século XIX, esta "natureza feminina" sistematizada cristaliza-se numa subordinação irremediável da mulher ao seu corpo e sua capacidade de gerar filhos. É, portanto, a puberdade que torna o corpo das mulheres socialmente útil; sua valorização, porém, é acompanhada de uma vigilância coercitiva para as moças, particularmente na primeira metade do século XIX. Os autores do período romântico respondem, assim, à euforização relativa do corpo juvenil feminino na literatura das luzes pela sua "eufemização", que se aproxima, na maioria das vezes, da inconsistência. Durante o Segundo Império, as críticas contra a educação das jovens é acentuada, pois se julga que essa educação as torna por demais estúpidas. As jovens ganham, notadamente através das práticas do flirt, espaços novos de liberdade dos quais a literatura e as imagens trazem certos ecos, por vezes excessivos a partir da Belle Époque. É preciso, assim, esperar o período "entre-guerras" para ver avançar a idéia de uma educação sexual para as moças e os anos de 1930, para que esta educação seja legitimada. Neste período, a expressão das mulheres em relação à sua sexualidade testemunha, sobretudo, a forte marca do catolicismo nas suas práticas, seu grau de ignorância que perpetua o modelo de l'oie blanche, seu desencantamento face à sexualidade conjugal, mesmo que algumas delas reivindiquem a legitimidade de um prazer compartilhado. Neste domínio, a emancipação é tardia e será somente na década de 1970 que ocorrerá uma verdadeira revolução sexual, notada mente com o controle da procriação.


 

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