Resumo

A presente pesquisa examina a presença do racismo em uma escola pública municipal do estado de São Paulo identificando, em sua recorrência, a geração dos dispositivos de invisibilização de certos corpos e culturas nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Tem no cotidiano escolar o seu lócus de atuação e, nas aulas de Educação Física, o seu foco prioritário de observação e análise. Acolhe também os demais ambientes escolares como espaços onde se perpetuam as relações desiguais de poder, produtoras dessa forma de discriminação racial. Analisa criticamente o fenômeno a partir de duas principais perspectivas: a primeira são os Estudos Culturais fundamentados em Hall (1997, 2000, 2006) e Silva (1996, 2000, 2004, 2008, 2010); e a segunda o multiculturalismo crítico a partir das ideias de McLaren (2000). No que tange ao racismo, os escritos de Munanga (2000, 2005, 2008), Telles (2003) e Carone e Bento (2007) compõem o suporte teórico orientador. O estudo tenciona o entendimento de alguns dos mecanismos de exclusão que desautorizam determinados sujeitos e todas as suas representações sócio-histórico-culturais. Identifica a presença de uma identidade-referência fundada no modelo branco, masculino e euro-estadunidense que há décadas permeia a construção das subjetividades de alunas e alunos, levantando a suspeita do desencadeamento do processo aqui conceituado invisibilização. Por ter no ambiente natural a sua fonte direta e mais importante de dados, sendo o pesquisador o instrumento principal e mantendo contato direto e afinado com a situação na qual os fenômenos ocorrem, levando em conta todas as perspectivas dos envolvidos e a imersão na realidade estudada, elegeu-se o estudo de caso como método. Para a análise de dados foi utilizada a hermenêutica crítica, dada a sua possibilidade de efetuar um aprofundamento na interpretação dos textos apreendidos na conjuntura e contexto pesquisados, entremeando os resultados imediatos de uma observação do legível e também o requisitado na intencionalidade dos seus produtores. Como resultados se destacam: 1) o entendimento por parte das(os) docentes e equipe gestora da falta de necessidade de ações equitativas para as(os) alunas(os) negras(os) por serem iguais enquanto seres humanos; 2) o entendimento de que não se deve levantar discussões que digam respeito ao comportamento racista, por conta dessa atitude estimular ainda mais o fenômeno; 3) a falta de interesse e preparo da escola para lidar com as questões raciais; 4) a existência de um processo coletivo de visibilização para a invisibilização das(os) alunas(os) negras(os) e suas culturas (corporais) nas aulas de Educação Física em específico, e nos demais espaços escolares, de uma maneira geral, regulado culturalmente; 5) a convicção de que a superação do racismo depende unicamente da vontade discente; 6) uma incidência mais sofisticada do fenômeno do racismo, fazendo com que docentes e equipe gestora reconheçam sua existência, sem, no entanto, o perceberem. Finalmente, chama a atenção para o multiculturalismo crítico como possibilidade insurgente tanto na desconstrução das hierarquias discentes vigentes na escola, quanto na contemplação das diferenças e dos diferentes.

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