Resumo
Traçando linhas de fuga frente aos sistemas modelizantes da subjetividade capitalística (GUATTARI), pessoas e grupos libertários, saturados de relações sociais heterogestoras, constroem espaços e situações de convívio coletivo em que suas vidas possam de fato ser autogeridas. Os movimentos autogestionários contemporâneos reinventam revoluções, operando no domínio do molecular, de sorte a questionarem o sistema em sua dimensão de produção da subjetividade e a construírem, no cotidiano, formas diferenciadas de estar no mundo. A autogestão, nestas práticas dos coletivos libertários atuais, é um corpo movediço reinventando-se ao sabor das experiências particulares; entretanto, estes coletivos libertários não estão isentos de serem atravessados por situações de centralização de poder, pela emergência de práticas autoritárias, por momentos heterogestores, pela eclosão de armadilhas da representatividade e pela instalação de microfascismos (FOUCAULT). Esta pesquisa trata dos conceitos de autogestão produzidos por pessoas vinculadas a grupos libertários contemporâneos, dentro da cena anarquista de Fortaleza, Ceará; e aponta para a emergência de conceitos diferenciados e singulares sobre a autogestão que tracem linhas de fuga (DELEUZE; GUATTARI) frente às concepções instituídas. A pesquisa foi realizada a partir de duas abordagens metodológicas: a Sociopoética (GAUTHIER) e o Diário de Itinerância (BARBIER). O Diário de Itinerância, de caráter etnográfico, é o registro escrito dos processos de produção e análises dos dados, e das situações existenciais experimentadas pelo pesquisador institucional, vinculadas ao tema proposto. A Sociopoética institui o grupo-pesquisador, corpo coletivo da pesquisa; é o grupo-pesquisador sociopoético, enquanto filósofo coletivo, que produz novos saberes sob a forma de confetos – expressão híbrida entre conceito e afeto (PETIT; ADAD). A produção de dados da pesquisa ocorreu a partir de duas vivências de imersão na natureza (Mangue do rio Cocó – Fortaleza/CE; e serra da Pacatuba – Pacatuba, CE). A pesquisa apontou uma polissemia de conceitos sobre autogestão, produzidos pelo grupo-pesquisador, que a percebem não como um modelo idealizado nas experiências libertárias do passado; ao contrário, ela amplia as possibilidades conceituais da autogestão, para além de uma matriz cristalizada do conceito; os confetos e os devires produzidos pelo corpo-coletivo refletem um desejo de experimentação de conceitos singulares sobre práticas autogestionárias contemporânea