Resumo

Este estudo objetivou dialogar a teoria queer e o pensamento do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty no que concerne às categorias de corpo e sexualidade. A partir desse diálogo, delinearam-se outros objetivos, a saber:  identificar possíveis recorrências da experiência dos corpos e sexualidades queer, pensados sob uma perspectiva merleaupontyana, para o conhecimento da Educação Física e refletir sobre esse campo do conhecimento a partir das noções de epistemologia queer e da estesiologia. O estudo teve como moldura teórica a atitude fenomenológica proposta por Merleau-Ponty e a redução enquanto técnica de pesquisa. Na tentativa de entrelaçar e estabelecer relações entre esses pensamentos acionamos o cinema do espanhol Pedro Almodóvar como estratégia perceptiva, um exercício do olhar enquanto possibilidade de leitura do mundo e novas maneiras de perceber o ser humano. Apreciamos três películas do cineasta, a saber: Tudo sobre minha mãe (1999), A pele que habito (2011) e Má educação (2004), que nos colocam em contato com corpos e sexualidades queer, bem como com o corpo estesiológico, do êxtase, das sensações e experiências vividas, obra de arte inacabada cujos contornos não são fixos ou definidos, postulados por Merleau-Ponty. O filósofo, ao fornecer um panorama conceitual rico do corpo e de sua experiência sexual, amplia e inaugura horizontes de pensamento e reflexão para a experiência queer, uma experiência indeterminada e contingente enquanto forma singular de habitar o mundo. Tais horizontes inaugurados pelo filósofo e somados à perspectiva queer contribuem para problematizar os modos de produção do conhecimento e os saberes sobre corpo e sexualidade na Educação Física. Por fim, apontamos que essa conversação teórica nos ofereceu pistas para refletir sobre as reverberações de uma epistemologia queer para a Educação Física a partir de um conhecimento pautado na estesia e no sensível enquanto marcos de uma outra racionalidade científica.

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