Correlação Entre Diferentes Métodos Lineares e Adimensionais de Avaliação da Mobilidade Articular
Por Cláudio Gil Soares de Araújo (Autor).
Em Revista Brasileira de Ciência & Movimento v. 8, n 2, 2000.
Resumo
A flexibilidade é um dos componentes da aptidão física, podendo ser definida como a amplitude máxima fisiológica passiva de um dado movimento articular. Embora um certo nível de flexibilidade pareça ser relevante para a saúde, desconhecem-se quais são os níveis ótimos para um dado indivíduo. A flexibilidade tende a ser específica para um dado movimento e para uma dada articulação, de modo que os procedimentos de teste devem levar esses aspectos em consideração. Nos últimos 20 anos, temos trabalhado com o Flexiteste, que é um método de avaliação da flexibilidade passiva de 20 movimentos articulares, utilizando uma escala crescente de números inteiros, entre 0 e 4, para cada movimento. Contudo, desconhecemos a correlação entre os seus resultados, com aqueles obtidos em outros testes de flexibilidade, assim como os níveis de flexíndice [soma dos resultados dos 20 movimentos articulares] que melhor caracterizam hipo e hipermobilidade clínica. Visando a responder a essas questões, 30 indivíduos não-atletas, dos dois sexos e com idades variando entre 2 e 54 anos, foram submetidos aos seguintes testes de flexibilidade: a) sentar-ealcançar (TSA), b) toe-touch (TT), c) Beighton-Horan (BH), d) Rosenbloom e e) Flexiteste. Todos os testes foram realizados por um único avaliador experiente em sequência padronizada, para todos os indivíduos. Como todos os indivíduos tiveram sinal de Rosenbloom negativo (um critério de hipomobilidade), não foi possível avaliar, comparativamente, os resultados deste procedimento. Os resultados do Flexiteste (pontos) - mediana de 49, mínimo de 35 e máximo de 68 - correlacionaram-se com os dos demais testes (p<0,05), sendo os valores de r: 0,81 para o BH, 0,60, para o TT e de 0,40, para o TSA. Os resultados de TT e TSA foram também fortemente associados entre si [r = 0,91; p<0,01], indicando que os dois procedimentos tendem a medir os mesmos atributos da flexibilidade. Já os valores de r, entre estes dois testes e o BH, foram muito baixos [entre 0,1 e 0,4], sugerindo que atributos distintos estariam sendo avaliados. Apesar da associação significativa entre TSA e Flexiteste [r = 0,40; p=0,04], a dispersão dos resultados, ao longo da linha de regressão, inviabiliza a conversão prática dos resultados entre os dois procedimentos, já que, por exemplo, um valor de +10 cm, no TSA, ocorria em sete dos indivíduos, cujos flexíndices variavam entre 37 e 65 pontos. A análise dos dados individuais permitiu propor os pontos de corte de 6, para o BH e igual ou maior do que 60 pontos, no Flexiteste, para caracterizar hipermobilidade. Como a amostra possuía níveis médios relativamente altos de flexibilidade global, não foi possível sugerir pontos de corte para hipomobilidade no Flexiteste. Considerando as associações significativas com os outros testes, aqui estudados, conclui-se que o Flexiteste é um método válido para a avaliação da flexibilidade. Em adendo, a natureza da distribuição dos resultados do Flexiteste, através do flexíndice, sugere que este método mantém o seu potencial de discriminação nas mais diversas populações, além de permitir a avaliação e a comparabilidade direta da mobilidade dos 20 movimentos articulares testados. UNITERMOS: Flexiteste, flexibilidade, lassitude ligamentar, atividade física, hipermobilidade, qualidade de vida relacionada à saúde.