Resumo

A infância designa um conceito polissêmico que reenvia a uma multiplicidade de dimensões ou campos. Se esse conceito é reduzido ao termo "criança", entra-se no campo psicológico; ao termo "infância", no campo demográfico, o qual se revela ser também de ordem econômica; se se fala de "crianças", entra-se no campo propriamente antropológico ou socioantropológico. A área que essa última dimensão define constitui o verdadeiro objeto susceptível de ser abordado pelas ciências sociais no que diz respeito a essa faixa da população. As pesquisas referentes a esse assunto exigem métodos apropriados. Se no que diz respeito ao momento intersubjetivo relativo à sociedade, correspondendo este ao nível de análise microssociológica, tais métodos podem exigir do pesquisador que ele "se torne criança" a fim de poder reconstituir pela imaginação o universo das culturas infantis. No que diz respeito ao momento institucional, social, propriamente dito, correspondendo ao nível de análise macrossociológico, trata-se de levar em consideração os fenômenos estruturais, particularmente os que concernem à dominação, que afetam as crianças tanto quanto as outras faixas da população, e que se inscrevem numa perspectiva histórica. Esse processo geral de estruturação se aplica também ao universo infantil, e é ele que constitui a chave heurística de toda pesquisa sobre esse universo.