Resumo

A pesquisa descreve as intervenções dos especialistas, com destacada participação dos médicos, na construção da família e da saúde da criança entre 1940 e 1960 em revistas do Brasil, especialmente em Fon Fon, Cigarra, Vida Doméstica e Vamos Ler. Em seus artigos, respostas a cartas e entrevistas os especialistas procuravam regularizar, controlar e normatizar as condutas dos pais no modo de criar, educar e garantir a saúde do filho. Chegou-se a essas revistas através do resultado de opiniões obtidas por meio de entrevistas com mulheres, de mais de sessenta anos, sobre as preferências de leitura, especialmente em relação a revistas que abordavam os cuidados com as crianças. Juntamos a essas respostas a opinião de um funcionário e pesquisador da Biblioteca Nacional sobre a existência nos arquivos de outras revistas que viessem complementar e ampliar a amostra para consulta. A partir dessas informações, delimitamos para início da pesquisa o ano de 1930, onde não encontramos nada até o ano de 1939. Os artigos que faziam algum tipo de referência sobre os cuidados e a rotina da criança começaram a aparecer em 1940, chegando até os nossos dias. Optamos por analisar os primeiros vinte anos de intervenção dos especialistas. Os especialistas desautorizam o saber da família e de todos aqueles que não se guiam pelos preceitos da ciência, impondo sua verdade sobre criança e pais ao mesmo tempo que criam um ambiente no lar cercado de dúvidas sobre o que fazer, quando fazer, como fazer e principalmente como ser pai e mãe no trato com o filho. Cabe aos pais, principalmente a mãe, seguir os variados modos de controle dos hábitos da criança, procurando não torná-la sem saúde ou fora dos parâmetros de normalidade. Os especialistas falando da criança dirigem e controlam os pais, existindo uma única verdade, a verdade científica, representada dominantemente pelo saber médico. O resultado de tão incisiva massificação de valores e idéias, é o favorecimento da insegurança dos pais diante do que acreditam ou acreditavam como certo no modo de educar e criar o filho, confundindo o antigo pelo novo, o leigo pelo científico, neurotizando toda relação familiar.

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