Integra

Não disponho de dados oriundos de uma pesquisa estruturada, com protocolos específicos de avaliação do desempenho motor de adolescentes que ingressam nos cursos integrados ao ensino médio no campus onde atuo como professor de Educação Física. Reconheço, portanto, que minhas observações podem conter certo viés empírico, suscetível de contestação por estudos mais sistematizados. Ainda assim, o cotidiano escolar tem revelado, de modo reiterado, uma deterioração significativa das habilidades motoras básicas entre os estudantes.

Ações simples, como correr, saltar, rolar ou equilibrar-se, que antes eram executadas de forma espontânea, tornaram-se, para muitos adolescentes entre 14 e 18 anos, verdadeiros desafios. Tal fenômeno levanta questionamentos sobre o papel que a Educação Física escolar vem desempenhando no processo de alfabetização motora, isto é, na formação de um repertório de movimentos fundamentais que sustentam a autonomia corporal e o acesso à diversidade de práticas corporais e esportivas.

Se a escola é, historicamente, o espaço de apropriação da cultura corporal, cabe perguntar se nossas práticas pedagógicas têm, de fato, cumprido essa função social. Em muitos casos, observa-se uma redução do tempo e da valorização curricular da Educação Física, associada a uma ênfase crescente em resultados acadêmicos cognitivos, o que tende a marginalizar o corpo e o movimento. Some-se a isso o avanço das tecnologias digitais e das formas de lazer sedentárias, que restringem experiências corporais espontâneas fora da escola.

Nesse contexto, a Educação Física, ao invés de garantir o direito ao movimento e à experimentação corporal, corre o risco de se tornar apenas uma disciplina formalmente presente, mas pedagogicamente esvaziada. A alfabetização motora, portanto, não se trata apenas de ensinar gestos ou habilidades técnicas, mas de formar sujeitos corporificados, capazes de compreender e usufruir criticamente das múltiplas manifestações da cultura corporal, da dança ao esporte, do jogo à ginástica, da luta à expressão corporal.

Assim, mais do que diagnosticar o empobrecimento motor de nossos estudantes, é preciso reafirmar a função emancipatória da Educação Física escolar: contribuir para o desenvolvimento integral, assegurar o acesso ao patrimônio cultural do movimento humano e possibilitar que crianças e adolescentes se reconheçam como corpos potentes, criativos e pertencentes ao mundo.

 É possível aprofundar os apontamentos que trago com alguns autores conhecidos da área como Gallahue, Go Tani, Bracht, Betti, Darido entre outros

 Mas precisamos aceitar que a educação física vem perdendo espaço pela falta de legitimidade especialmente na rede pública