Resumo
O documento de Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem para o Ensino Fundamental ciclo II de Educação Física, elaborado em 2007 pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, apresenta a área de conhecimento dentro da concepção cultural. A partir da análise deste documento, identificamos que a concepção defendida pela proposta curricular possui forte influência dos campos teóricos do multiculturalismo crítico e dos Estudos Culturais. De cunho qualitativo, o presente trabalho procurou investigar, por meio de entrevistas semi-estruturadas, as percepções de cinco professores/as de Educação Física, acerca das dificuldades e possibilidades no desenvolvimento de aulas fundamentadas na perspectiva cultural. Ao confrontar os dados obtidos nas entrevistas com a teorização curricular multicultural, foi possível compreender o currículo como um campo de produção cultural permeado de relações de poder, onde no cotidiano escolar, os/as docentes travam uma constante luta para romper fronteiras na viabilização do currículo oficial; já que hegemonicamente, a educação formal ainda é impregnada por práticas homogeneizantes, reprodutoras e monoculturais. As principais dificuldades apontadas pelos/as docentes referem-se à resistência dos/as estudantes, de outros/as professores/as e de profissionais que ocupam cargos de gestão quanto ao currículo cultural da Educação Física. Essa resistência é ocasionada por diferentes fatores, como por exemplo: a ausência de um projeto políticopedagógico voltado às questões multiculturais, a política de formação deficitária da SME/SP, a representação enviesada que os/as estudantes possuem acerca da área de conhecimento e a estrutura rígida da instituição escolar. Esses fatores proporcionam um isolamento dos/as docentes, demarcando uma região fronteiriça que necessita ser cruzada. Entretanto, nesse jogo de forças, a pesquisa identificou inúmeras potencialidades pedagógicas do currículo cultural da Educação Física, que podem estimular produções de docentes e pesquisadores/as radicais, envolvidos/as na batalha por uma educação mais justa, democrática e solidária. Entre elas, podemos destacar a valorização dos/as alunos/as em relação à Educação Física e sua importância no currículo escolar, a legitimação das múltiplas identidades que colorem a paisagem das salas de aula, a busca de alianças junto aos/às profissionais de outras áreas, a abertura de espaços para as famílias e comunidade em geral, a desconstrução de relações opressoras de qualquer natureza e a possibilidade dos/as estudantes reconhecerem-se como produtores de conhecimento