Integra

Introdução

Trata-se de pesquisa realizada nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, cidades litorâneas localizadas no norte do Espírito Santo, distantes 250 km da Capital, Vitória. Na região encontram-se diferentes formações étnicas que constituem um vasto campo cultural, onde pelas observações e participações junto aos Grupos Culturais possibilitaram identificar múltiplas formas de relações sociais. Imigrantes europeus, negros e índios constituem a formação dos Municípios de S. Mateus, Conceição da Barra, Nova Venécia, Linhares e Aracruz, onde á implantação de determinadas empresas na Região, acarretou uma diáspora temporária das diversas manifestações locais. Isso fez com que grupos folclóricos fenecessem e os seus atores buscassem em outras manifestações, guarida que possibilitasse a permanência de seus grupos e a continuidade de suas manifestações.

Do objeto de estudo

A pesquisa centrou-se em estudar um grupo de pescadores que reside nas proximidades da região da Meleira, nas proximidades do Rio Cricaré que faz confluência com o Rio Marirucu, situada na zona rural de Guriri, local de praia e balneário do município de São Mateus. Tal comunidade denomina-se Vila Mamoeiro e seus moradores vivem da pesca de peixes e camarões de água doce e suas terras descendem dos antepassados, sucedendo a mais de cem anos.

Objetivos e propostas de estudos

Buscamos através desta pesquisa identificar traços culturais presentes em manifestações artísticas/religiosas praticadas na Vila Mamoeiro, que perduraram frente á extinção de outras, constituindo uma plasticidade que a distingue dos demais grupos da região. Como destaque temos a festa religiosa denominada Folia-de-Reis, na qual analisamos, que devido ás suas singularidades interage em suas apresentações, elementos sagrado-religiosos e componentes considerados profanos, de entretenimento e diversão. Além de incorporar e absorver, resquícios e integrantes de outras festas religiosas e folguedos que extinguiram-se, como a marujada e as pastorinhas, pelos diversos fatores sociais e econômicos. Esse grupo vai adquirindo características regionais possibilitando uma plasticidade e amálgama de cores e personagens não encontrados em outros grupos. No decorrer de nossos estudos, geraram-se reflexões acerca da origem, preservação e continuidade, as quais deram-se graças á devoção de fiéis que mantém intacto em seu imaginário a verdadeira essência destas práticas religiosas, expressadas através da dança, de teatralizações e de cantorias. O estudo possibilitou identificar que a Folia de Reis possui conotações diferentes em dois sentidos: a) possui a predominância e apresenta características de atores das religiões afros e do catolicismo popular; b) Possibilita a entrada de outras manifestações ainda existentes ou que se extinguiram, tornando-a e fazendo apresentar uma plasticidade não identificada em outras danças culturais. O Estudo possibilitou ainda identificar que o Congo se difere da Folia de Reis, pois não permite a inclusão de personagens diferentes a tradição dessa manifestação, no entanto outras manifestações dele se derivaram, como o Ticumbi, manifestação que predomina a dança em forma de confrontos guerreiros.

Metodologia

Utilizamos de observações etnográficas registrando os ensaios e apresentações do Grupo de Folia-de-Reis na Vila Mamoeiros. Num segundo momento com os moradores da Vila e com as principais lideranças, realizamos entrevistas abertas a fim de obter/coletar informações pertinentes a problemática de nossos estudos.

Referencial teórico

Para conceituar e categorizar as terminologias pertinentes ao estudo usamos BALANDIER (1999) e (1998) e buscamos em autores das Ciências Sociais para dar suporte a teorização como BASTIDE (1978). A partir das informações colhidas acrescentamos dados contidos na literatura científica, o que muitas vezes gerou controvérsias devido ao que alguns autores teorizam acerca dessas manifestações culturais. Identificamos a falta de rigor conceitual quanto á distinção das danças e o descrédito das fontes bibliográficas em apontar que determinadas manifestações se encontram extintas, no entanto, foram por nós identificada em determinadas localidades da região analisada.

Proposta de estudos

No segundo momento desta pesquisa procuraremos desenvolver um diálogo com a Educação Física e propor meios de pedagogizar as práticas corporais encontradas nestas celebrações, construindo novas possibilidades de aprendizagem e meio de perpetuar a tradição através das aulas de educação física. Para tanto apresentamos alguma hipótese que iremos procura responder: o que permanece no imaginário dos atores sociais que impulsiona os eixos que estabelecem relações mútuas e duradouras mesmo diante de situações e intempéries sociais? Quais são as forças contidas individualmente em cada ator mas que une, estabelece e cria formas e modelos coletivos de ações? Que expressões os atores que compõem os grupos populares de festas religiosas ou folguedos manifestam coletivamente?

Os autores, J. Luiz dos Anjos e Romena Olívia de Souza são da Universidade Federal do Espírito Santo e membros do Grupo de Pesquisas em Sociologia das Práticas Corporais e Estudos Olímpicos - GPSCEO

Bibliografias

  • Atlas Folclórico do estado do Espírito Santo. Funarte, MEC/SEC, 1987.
  • Bastide. Roger. As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma Sociologia das interpenetrações das civilizações. São Paulo: EDUSP, 1978.
  • Bastide. Roger. As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma Sociologia das interpenetrações das civilizações. São Paulo: Enio Matheus Guazelli, 1960/b.
  • Caillois, Roger. O homem e o sagrado. Lisboa: Editora 70, 1950.
  • Carvalho, Murilo et alli. Artistas e festas populares. São Paulo: Brasiliense, 1977.
  • Castro, Zaïde Maciel & Couto, Aracy do Prado. Folia de reis. Rio de Janeiro: Secretaria da Educação e Cultura: Rio de Janeiro, 1961.
  • Consorte, Josildeth Gomes. Em torno de um manifesto de Ialorixás baianas contra o Sincretismo. In: Faces da tradição afro-brasileira. (org.) Caroso, Carlos & Bacelar Jéferson. Rio de Janeiro: Pallas, 1999.
  • Ferretti. Sérgio Figueiredo. Sincretismo afro-brasileiro e resistência cultural. In: Faces da tradição afro-brasileira, (org.) Carroso, Carlos & Bacelar, Jéferson. Rio de Janeiro: Pallas, 1999.
  • Fonseca, Hermógenes Lima. Tradições populares no Espírito Santo. Vitória: Depto de Cultura, Divisão de Memória, 19991.
  • Valente, Waldemar. Sincretismo religioso afro-brasileiro. São Paulo: Brasiliana, 1976.