Resumo
Este texto parte da tese acerca do movimento curricular, no curso de licenciatura em Educação Física, da Universidade Federal do Acre (Ufac) e sua vinculação aos saberes, experiências, expectativas, dimensões de ensino, de pesquisa e de extensão, que orientam a produção do conhecimento. Como recorte, preocupa-se com a articulação dos saberes de corpos-docentes, em contexto de prática, com modos outros de existir acreano. Dessa forma, é assumido, como pressuposto, que o movimento curricular em investigação concebe modos de existir, ser, saber e poder, os quais foram homogeneizados no conhecimento pedagógico-científico, produzido pelas práticas de formadoras/es. Por sua vez, a lógica termina por negligenciar diversidades/diferenças de experiências corporais no contexto, reforçando a normatização do currículo, relativamente negando as diversas linguagens (desumanizadas no tempo histórico) e as configurações de sentidos outros dos corpos em formação. Em consequência, as práticas curriculares acabam naturalizadas por meio da colonialidade, sendo produzidas pelos atos de currículo. Nesse âmbito, o objetivo geral configura-se em compreender, no contexto de prática curricular dos corpos-docentes, na formação do curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Acre (Ufac), a articulação dos saberes com os modos outros de existir acreano. Os objetivos específicos alinham-se em caracterizar a configuração dos elementos estruturantes do currículo e os modelos epistêmico-pedagógicos da formação de professoras/es em Educação Física na Ufac; compreender, na formação de professoras/es em Educação Física da Ufac, a articulação dos saberes dos corpos-docentes em contexto de prática; analisar, nos saberes dos corpos-docentes, a articulação com os modos outros de existir acreano. A dinâmica constituiu-se sob a companhia de teóricas/os, entre outras/os, escolhidas/os durante o processo de construção da pesquisa e impulsionaram o diálogo que envolve discussões em torno: da interculturalidade, com apoio em Walsh (2009, 2009a); do movimento curricular, com base em Macedo (2017), Sacristán (2017); da formação de professoras/es, apoiada por em Freire (2016, 2018, 2019), Nóvoa (2009, 2020); e área de Educação Física, com auxílio de Grando (2014, 2015, 2019), além da análise de potencialização e identificação dos modos outros de ser acreano, Morais (2016), Brasil (2003), Acre (2020, 2022). A investigação, sob o ponto de vista teórico-metodológico, foi caracterizada como um estudo de caso, de corte empírico e participante, em razão de ter sido realizada em local pontual e pela autora fazer parte desse coletivo. Participaram do estudo 21 corpos-docentes atuantes no curso de licenciatura em Educação Física Ufac, sendo das áreas de conhecimento específica, afim e pedagógica. Quanto aos procedimentos metodológicos, constituem-se na combinação de dois procedimentos, um de natureza teórico-conceitual, no qual encontra-se a base teórica desta pesquisa, em um conjunto de autoras/es, pesquisadoras/es, filósofas/os, educadoras/es, que discutem o tema de currículo, formação e culturas. Junto dessa revisão, estão alguns referenciais da elaboração do estado do conhecimento. A outra técnica concerne à natureza empírica e contempla as seguintes estratégias: Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), Entrevistas, Rodas de Conversa e Estudo de Base Documental (compreendendo o Projeto Pedagógico do Curso, os Planos de Curso/Ensino, os Projetos de Pesquisa e Extensão) referentes à atuação docente no período de 2018 e 2021. Tais opções priorizaram atender à necessidade de sensibilização do coletivo de corpos-docentes, sujeitos da pesquisa, de modo que se sentissem seguros, respeitados e pudessem falar e ouvir acerca das experiências na/da formação, sem hierarquização, tornando possível a articulação de suas próprias histórias de vida, culturalmente diversas, com os modos outros de ser acreano, convergindo para um conjunto de práticas culturais expressas no movimento curricular do curso.