Resumo
O presente trabalho tem por objetivo atribuir significado e analisar, à luz da teoria, às experiências docentes baseadas na dança e no futebol com alunos e alunas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em uma escola pública estadual. Enquanto procedimento metodológico, a pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa, e como estratégia de pesquisa, a narrativa de experiências. As experiências narradas ocorreram durante as aulas de futebol e dança, em uma escola pública estadual em São Paulo, com alunos de primeira a quarta série do Ensino Fundamental. Na trilha teórica, lançamos mão de obras, em especial relacionadas a gênero, escola, currículo e Educação Física, que apresentassem uma visão crítica do assunto. Observamos que a sociedade atual é marcada por profundas desigualdades, principalmente as formadas pela tríade de dominação-exploração: capitalismo, racismo e patriarcado. Tais desigualdades também estão presentes no dia-a-dia escolar. Não obstante a simbiose que formam, voltamos o nosso olhar destacando as desigualdades de gênero. Podemos considerar o gênero como um campo de estudos que teve, entre muitas outras funções, a intenção de mostrar que o ser homem e o ser mulher são construções sociais que, além de diferentes, são desiguais. Na escola, as discriminações de gênero estão presentes em várias instâncias do currículo. A escola e o currículo representam o mais bem acabado aparelho ideológico do estado que a classe dominante utilizou para garantir e perpetuar o seu domínio. Através de uma série de mecanismos e protegida pela penumbra ideológica da neutralidade, a escola vai definindo a identidade dos sujeitos, vai mostrando o que cabe para meninos e meninas, mostra o que se deve aceitar e rejeitar através de processos de reforço e punição. Entretanto, esse processo começa desde o nascimento do ser humano, quando a sociedade já vai mostrando o papel esperado para homens e mulheres, e o que foge daquilo que é esperado, é considerado como um desvio. A Educação Física, por uma série de quesitos, é uma área privilegiada para discutirmos as discriminações de gênero. Essa disciplina, desde a sua criação, tem apresentado duas fortes características: a sua utilização pelas classes dominantes em benefício das suas aspirações e o seu caráter discriminatório, via de regra, contra as mulheres. A mulher era tida como um ser fraco e fisicamente incapaz, sendo-lhe proibida a prática de vários esportes. A mulher hoje, mesmo não sendo legalmente impedida de praticar esses esportes, não deixa de sofrer uma série de violências. Atualmente, muitas crianças estão sendo discriminadas nas aulas de Educação Física e estão sendo privadas de uma série de estímulos por serem homens ou mulheres. Mediante as teorizações que fizemos das aulas, percebemos que apesar de alguns avanços, o futebol e a dança ainda são atividades generificadas, mas, por outro lado, se o docente assumir a função de intelectual transformador através do diálogo, da conscientização e de intervenções pedagógicas, poderá proporcionar aulas mais equânimes para meninos e meninas, diminuindo as discriminações. Defendemos, assim, que os pontos abordados neste estudo possibilitam um repensar ao fazer pedagógico no tocante à temática de gênero