Resumo

Esse trabalho tem o objetivo de compreender aspectos simbólicos do boxe inserido em academias de fitness. A idéia surgiu da minha vivência, como professor e praticante, e também da análise de trabalhos que se preocuparam em entender esse esporte. A partir desses elementos, identifiquei uma prática com características marcantes, como: uma luta oriunda do gueto, símbolo de resistência de um núcleo social desfavorecido, e um meio predominantemente masculino. Esse boxe é diferente do que tive contado durante os anos que freqüentei uma academia de Porto Alegre. Ali, encontrava-se um grupo mais heterogêneo com alunos experientes e avançados dividindo o mesmo espaço, homens e mulheres ocupando os mesmos horários de treinamento e praticantes que vêem o esporte como atividade física, luta, defesa pessoal, entre outros. Para entender essas diferenças, recorri à Sociologia do Esporte representada por autores que entendem o esporte como uma manifestação heterogênea. Como metodologia, utilizei a etnografia, pela preocupação em investigar as questões simbólicas de um universo cultural específico. Para tanto, empreguei duas ferramentas: a observação participante e as entrevistas semi-estruturadas. A apresentação dos dados inicia pela descrição do local, que se caracteriza por ser uma academia de musculação em que diversas questões simbólicas se manifestam no comportamento dos alunos e estão relacionadas com a distribuição e utilização dos equipamentos. Ao descrever a sala em que acontecem as modalidades, apresento a distribuição espacial e as rotinas relacionadas às dinâmicas de funcionamento e à organização dos treinamentos de luta. Ao perceber que as aulas de boxe são realizadas, algumas vezes, em duplas, direciono meu olhar para a temática do gênero, que dará sustentação para a primeira categoria do trabalho. Ao perguntar: como elas fazem? O que eles esperam? Percebi que é esperado um comportamento relacionado ao fazer boxe para o emagrecimento e condicionamento, e que as questões de luta são mal vistas para elas. Esse discurso se distancia das representações relatadas pelas mulheres que, apesar de se preocuparem com a estética corporal, também têm interesses em lutar. O surgimento de características das academias de ginástica conduz a pergunta título do próximo capítulo: aula de fitness ou treino de boxe? A partir disso, discorro sobre características do fitness e do boxe tradicional e concluo, também relacionando meus dados com a heterogeneidade do esporte, que a academia pesquisada é um meio híbrido, que apresenta elementos das duas práticas e especificidades do local. O último capítulo diz respeito às minhas modificações enquanto docente e é intitulado: do prático ao empírico: reflexões etnográficas de um professor de boxe. Assim, ao perceber a diversidade de apropriações do boxe, alterei minha maneira de atuar diversificando as atividades no intuito de direcioná-las aos objetivos dos freqüentadores. Após essa trajetória, concluo que o boxe ainda é permeado por representações de violência e brutalidade. Por isso, considero importante que outros estudos no campo sociocultural se debrucem sobre essa temática.

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