Da Avenida São João à Avenida Tiradentes Uma Análise das Representações Jornalísticas sobre a Reconfiguração dos Desfiles Carnavalescos da Cidade de São Paulo (1967-1977)
Por Denis Terezani (Autor).
Resumo
Das mais distintas áreas que fazem da Festa de Momo o seu campo de pesquisa, nosso interesse se reserva ao carnaval da cidade de São Paulo, mais especificamente aos Desfiles das Escolas de Samba. Nos meses finais de 1967, propostas foram elaboradas aspirando a organização do carnaval de 1968 na capital paulista; em vista disso, se estabeleceu um relacionamento entre o poder público e os representantes das entidades carnavalescas paulistanas, incluindo Blocos, Ranchos e Cordões. Nesse sentido, a problemática da pesquisa nos conduz a compreender como estes agentes envolvidos – poder público, dirigentes das agremiações, sambistas, imprensa e público - se posicionaram frente à remodelação dos desfiles? O estudo tem como principal objetivo discutir a reconfiguração do carnaval a partir das representações da imprensa escrita, fazendo uso das publicações dos periódicos: “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo”. Atentamo-nos ao fato da imprensa escrita não ser um órgão transmissor imparcial dos acontecimentos, levando-a a se posicionar de forma ideológica dentro da realidade política e socioeconômica a qual está inserida e, para tanto, tornou-se necessária a análise crítica tanto interna quanto externa desses documentos. Por se tratar de uma pesquisa histórica, a trajetória metodológica se serve do método discursivo, com vistas a estabelecer um amplo diálogo com os estudos culturais, fecunda área de investigação interdisciplinar, capaz de criar, difundir e ressignificar a multiplicidade que emerge da especificidade de cada cultura. A seleção e análise das matérias jornalísticas se pautaram no uso da palavra-chave “carnaval”. O levantamento se inicia no ano de 1967, momento da reconfiguração dos desfiles, e se encerra em 1977, com a consolidação da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) como órgão administrativo-representativo das agremiações e dos respectivos desfiles. Por fim, o carnaval paulistano ao se constituir por dois fatores simultâneos no final dos anos de 1960: a) Atividades administrativas dos desfiles carnavalescos - estas compartilhadas entre o poder público e o órgão representativo das agremiações; b) Técnico-estatutário - as reconfigurações pelas quais passaram as agremiações - despertou a desconfiança por parte da imprensa escrita, o que a levou a presumir o esvaecimento dos desfiles em pouco tempo. O abrandamento dessa desaprovação começou a cessar a partir da segunda metade dos anos de 1970, quando o modelo carioca deixa de ser visto como o ideal e, concomitantemente, se inicia a valorização dos desfiles paulistanos pelos periódicos, sambistas e espectadores, promovendo resultados que ecoaram pelas décadas seguintes. Portanto, sendo a capital paulista um dos polos da festa momesca brasileira, nos resultados obtidos ao discorrer sobre este tema, entendemos que apresentar as relações do carnaval a partir do universo específico das Escolas de Samba paulistanas, evidenciou sua trajetória histórica, tornou-se um importante desafio, bem como, academicamente, um avanço na construção de debates na área do conhecimento dos estudos do lazer.