Resumo

O século XX foi marcado pelo avanço da industrialização, pela transnacionalização econômica, pela bipolaridade entre capitalismo e socialismo, pela expansão da educação básica em meio à ampliação da barbárie capitalista. Sobretudo o século do espetáculo, um fenômeno que, sob a dinâmica da modernidade, formatou a compreensão do mundo e as relações sociais à lógica imagética frenética do capital, alterando as rotinas humanas em suas experiências práticas. Educação e esporte foram dois dos elementos centrais deste século enquanto a juventude, face às suas características de frenesi, euforia e inserção social, tornou-se o principal alvo do espetáculo. No âmbito dos projetos educacionais modernos, o esporte,como produção histórico-cultural da modernidade pautada na institucionalização de temas lúdicos da cultura corporal, foi apropriado como saber a ser escolarizado. Essa "escolarização do esporte" passou, a partir da década de 1950, com a solidificação dos meios de comunicação de massa e da reconstrução das tradições sob a forma do espetáculo, à sua exacerbação como conteúdo único, culminando com a "esportivização da escola", uma vinculação de toda a dinâmica escolar à lógica esportiva consubstanciada no controle, rendimento, selecionamento e eficácia. Em larga medida, tal processo sofreu interferências políticas, vicejou interesses mercadológicos, oportunizou inserções culturais e refletiu distintas práticas pedagógicas, intra e além-muros escolares. A explosão desse processo na escola teve como um dos pilares, os eventos esportivo-educacionais, os conhecidos jogos estudantis os quais, em Sergipe, enraizaram-se na memória social como "Jogos da Primavera". Desenvolvido ao longo do período de 1964 a 1995, com paralisações, enfraquecimentos e consolidações, os Jogos da Primavera materializaram as tensões entre as concepções de escola e esporte, a definição da prática pedagógica e os distintos projetos de formação humana no seio escolar, que levaram à questão: quais as dimensões, contradições e representações materializadas nos Jogos da Primavera de Sergipe, no âmbito do processo global de "esportivização" da escola? Objetiva, portanto essa tese, analisar o processo histórico de "esportivização" da escola pela compreensão da gênese, fortalecimento, contradições e representações dos Jogos da Primavera de Sergipe, mediando tradição e espetáculo. Caracterizando-se como uma pesquisa histórica que media a diacronia e a sincronia, assentada nos diálogos tensos entre materialismo histórico e história cultural, foram utilizadas fontes variadas: das fontes oficiais representativas dos interesses dos gestores educacionais às fontes que oportunizaram verificar as práticas e suas representações no limite das experiências dos homens, a saber; periódicos, iconografia e fontes orais. Concluiu-se que a "esportivização" da escola é a síntese educativa da sociedade do espetáculo. Tal síntese se consolidou, via jogos estudantis, com a contínua reconstrução das tradições ritualísticas esportivas em espetáculo, com a ênfase no caráter mercantil do esporte, inebriando o seio escolar com sua lógica de produtividade e selecionamento. Esse processo se instaurou com a resistência ativa de professores e alunos envolvidos nas práticas, tornando possível, nos tempos modernos, a projeção e construção de novas práticas assentadas em políticas culturais, voltadas para a formação humana.

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