Resumo

Considerando a complexidade que permeia a crise como fenômeno peculiar da existência humana e compreendendo-a para além do estado negativo de descontinuidade e da manifestação de sentimentos destrutivos, este artigo ocupa-se de refletir sobre as interfaces e oportunidades presentes em uma atmosfera de crise e de dimensionar o nível de consciência e a concepção dos professores de Educação Física quanto à existência histórica da crise na área e sua influência na constituição dos saberes deste campo curricular. Apresenta-se, inicialmente, uma espécie de fenomenologia da crise em busca de uma compreensão mais elaborada do fenômeno e as implicações que ele traz à consciência e ao comportamento humano, em especial o comportamento docente. A seguir, traça-se o percurso histórico dos caminhos da constituição da identidade da Educação Física escolar no Brasil tendo em vista diferentes contextos e influências, com destaque para o processo de redemocratização a partir dos anos 1980 – um “divisor de águas” – que suscita debates, instaura uma crise epistemológica na área e convida a inovações pedagógicas no âmbito do currículo, até então sob a égide do paradigma da aptidão física ou das aspirações do movimento de esportivização. Uma investigação junto a professores de Educação Física da rede pública do Estado de São Paulo, sujeitos cuja formação é atravessada pelo momento histórico em que a crise se estabeleceu na área, evidenciou o que a literatura especializada tem apresentado: ou um desconhecimento, ou uma consciência vaga sobre a incidência da crise, com repercussões para a prática pedagógica docente, carente de um alargamento das fronteiras epistemológicas.

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