Resumo

Resumo Apontando a relação conflituosa ou de silêncio da academia sobre os saberes populares, que exprime uma grande "obscuridade epistemológica", este estudo interroga o imaginário científico dos pesquisadores em relação à pressuposta "transparência da razão", o culto da matemática e os efeitos da ciência. O autor desenvolve o conceito de "sobrecontextualização" na produção de conceitos, em face da descontextualização platoniciana habitual, e chama a atenção para o nascimento de novos modelos de racionalidade nas ciências experimentais, que dão um status "matematicamente digno" à particularidade das pesquisas qualitativas. No diálogo entre os saberes populares e acadêmicos encontra-se o conceito de "dupla ruptura epistemológica" segundo Boaventura S. Santos. Essa ruptura epistemológica pode ser favorecida pela criação, proposta em nosso texto, de uma "sociopoética", que valoriza os saberes populares, aceitando a polifonia dos conceitos, trabalhando com os elementos de análise da situação aqui e agora, utilizando técnicas que revelam o poder de sonhar e lembrar do povo. Daí precisarmos reavaliar a obra de Bachelard, ao confrontá-la com uma epistemologia do caracol e uma pedagogia do barqueiro, aqui propostas (inspiradas por culturas não-brancas e pela obra de François Tosquelles), que são o ponto de partida da ciência barroca em criação. Palavras-chave: saberes populares, imaginário científico, epistemologia, criatividade.