Resumo

Esta pesquisa buscou investigar o significado do corpo no carnaval atual do Rio de Janeiro, em específico, no desfile das escolas de samba. Tal pesquisa, centrada numa perspectiva sociológica, é relevante para a Educação Física, uma vez que aponta subsídios para a compreensão dos sentidos da transmutação dos papéis assumidos pelo corpo na história do carnaval carioca. O carnaval, enquanto festa popular, caótica, barroca, sempre nos impressiona e, apesar deste ritmo frenético e caótico, apresenta uma dimensão ritualística e fortemente padronizada. Assim é o carnaval carioca, uma grande festa permeada por intensa rivalidade, em que o trabalho, o talento e a energia de milhares de pessoas se consomem em alguns dias e horas de intensa e memorável experiência corporal. O protagonista dessa festa é o corpo humano. No carnaval o folião utiliza-se de seu corpo para dar produzir um texto repleto de corpos de personagens que compõem seu discurso corporal. Um momento dedicado ao culto à beleza do corpo, principalmente o feminino, à alegria e à diversão sem meios termos. A pesquisa parte de uma análise histórico-cultural da natureza espetacular do desfile das escolas de samba no carnaval carioca, identificando os significados do corpo nesta evolução. Corpo e o carnaval estão intimamente inter-relacionados. Apesar de ser um evento local, o carnaval carioca é “levado” a todo o Brasil e, atualmente, transmitido para o mundo, via televisão. Para muitos, geograficamente distantes do sambódromo, o carnaval é um momento de estirar-se diante da televisão e vislumbrar o maior espetáculo da terra, lotado de gente salpicada de purpurina, plumas, paetês e lantejoulas. Para tantos outros, o carnaval é a oportunidade de colocar o “corpo em forma” através de muita “malhação”, modificar a alimentação e aumentar o estoque de preservativos. Hábitos que possivelmente serão abandonados após o carnaval. É o carnaval, o tempo de oportunidades. Oportunidade de brilhar, se mostrar de fato! Oportunidade de conseguir o tão sonhado contrato com alguma revista masculina. É, ainda, a oportunidade de protestar. Surgiram diversas composições de protestos, como “E por falar em saudade” com seu inesquecível refrão “tem bumbum de fora pra chuchu... qualquer dia é todo mundo nu”, denunciando o nudismo cada vez mais presente nos desfiles. Foi necessário reinventar-se. As escolas de samba contornaram as dificuldades financeiras oriundas, inicialmente pela falta de recursos públicos e posteriormente recursos do “jogo do bicho”. Nas últimas décadas as mesmas se mercantilizaram, o que trouxe novos sentido e novos significados para o corpo. A figura do sambista foi subjugada à modelos impostos pela televisão que detém o controle do festival. Corpos sarados, esculturados, fabricados de fato, se tornaram referenciais. O corpo, de “brincante”, assume o papel de “vitrine”. Nesta perspectiva o carnaval exalta a vitória do “merchandising”. E, nós, vamos acreditando que a felicidade está ao alcance da mão, malhando sempre às vésperas do carnaval e dourando o corpo no calor do verão carioca enquanto que no copo, brilhante e refrescante, nos saciamos de cerveja nesse calor tropical.

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