Integra

Amigos:

Ontem à noite fui ver o show de Nana Caymmi denominado “Sem poupar coração” (*) e, confesso ainda me encontro em “estado de graça”…

          Como já comentei aqui em outro texto, embora eu consiga me entregar totalmente à vivência lúdica quando ela tem um significado muito especial para mim, é quase impossível não estabelecer um “diálogo” entre “o que é” e “o que poderia ser”, considerando a perspectiva da gestão da experiência de lazer. Ontem não foi diferente. Ao mesmo tempo em que eu era totalmente “envolto” naquele tempo/espaço privilegiado de celebração da vida, minha cabeça “borbulhava” para compreender o que Csikszentmihalyi escreveu em 1975 no seu clássico “Beyond boredom and anxiety” (tradução livre: “Além do tédio e da ansiedade”) que redundou na teoria “flow experience” (**). O autor estava dando destaque ao papel da motivação intrínseca dentro dos estudos do lazer, na perspectiva da psicologia positiva. No primeiro volume da Revista LICERE, editada pela UFMG, datada de 1998, quando convidado para explicitar meu conceito de lazer, inclui, pelo menos parcialmente, essa visão ao considerar que a experiência de lazer:

… É feita por amor, pode transcender a existência e, muitas vezes, chega a aproximar-se a um ato de fé…

       Voltemos a “colocar os pés no chão”: eu, como gestor de lazer, como posso, ao menos me aproximar dessa realidade, oferecendo oportunidades para que as pessoas vivenciem essa “experiência ótima de fluidez”, ou seja, aquela que não conseguimos nem descrever, que dirá explicá-la, mas simplesmente vivê-la e celebrá-la? O que você está propondo de inusitado ou mesmo “repaginando” o que existe, desde que, reconhecidamente seja uma experiência de qualidade?

          Aí vou saltar para o lado da gestão para refletir sobre um binômio que pode parecer modismo nesta sociedade do conhecimento, mas não é: inovação e criatividade. Considerando o conjunto de “ativos” de uma dada empresa (seja ela pública, privada ou mesmo do “terceiro setor”), especialmente no campo dos serviços (onde nós nos situamos), qual deles é o principal? A resposta é simples: gente. Somente as “pessoas” podem superar as “coisas” e estas, por mais modernas que sejam não conseguem prescindir das primeiras (felizmente!). Isso porque somente pessoas são capazes de criar e inovar.

          Quero, portanto concluir essa breve reflexão sobre a visão subjetiva de lazer, ligada a inovação e criatividade na gestão e o que o show da Nana Caymmi que assisti ontem tem a ver com isso (missão quase que impossível, mas tentarei).

          Há décadas que ela canta um repertório que prioriza a qualidade musical, independente do mercado. Para quem gosta dela, sua voz é inconfundível (pareceu até Mercedes Sosa ao cantar algumas canções em espanhol!). O “estado de fluidez” foi tamanho que mesmo vivendo essa mesma experiência em outra ocasião (essa foi a terceira!), ela nunca será a mesma (a próxima poderá até ser melhor, mas nunca igual).

          É dessa forma que administramos o lazer que propiciamos aos outros? É assim que selecionamos as nossas próprias vivências? Temos plena consciência, como gestores de lazer que somos, que pode ser que nunca mais teremos uma segunda boa oportunidade para tornar aquela primeira chance inesquecível?

          Fiquemos mais atentos a essa visão da psicologia positiva na qual a felicidade é possível ser vivida, especialmente no lazer, esse espaço/tempo privilegiado no qual, na maioria das vezes, ainda podemos eleger o que mais desejamos.

          Forte abraço.

Bramante

(*) Para quem não tiver a oportunidade de assisti-la no show, recomendo o CD, com o mesmo título.

(**) no link a seguir você poderá ter uma boa noção desse autor e outros que vem explorando os caminhos da psicologia positiva: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde…/kamei2_me.pdf

Acessar