Resumo
O futebol profissional se constituiu em categoria regulamentada nos principais centros urbanos brasileiros em 1933, ano que alguns clubes se organizaram para fundar entidades privadas de gestão do referido esporte. O marco oficial da regulamentação do futebol profissional, não pode, contudo, ser compreendido como momento que a profissão de jogador se originou. Entendemos a categoria sociológica “profissão” como função social especializada ofertada frente uma demanda existente. Nesse sentido, a gênese da profissão de jogador de futebol se insere no conjunto de transformações do significado social da prática e do consumo dessa modalidade esportiva, caracterizando-a como uma indústria do espetáculo esportivo e via de ascensão social para praticantes das camadas menos favorecidas da sociedade. O objeto de pesquisa desta dissertação foi o significado sociológico da regulamentação da profissão de jogador de futebol e sua repercussão no cenário nacional, e particularmente a reação do America Futebol Clube de Belo Horizonte. A partir da análise documental de periódicos e de memórias de atores sociais daquele contexto, discutimos o contexto das políticas sociais préEstado novistas (1930-1937) estabelecendo relações com o movimento de profissionalização do futebol, as disputas políticas dos dirigentes esportivos na organização do futebol local junto às entidades de gestão dos esportes da cidade, sobretudo as discussões acerca da profissionalização do futebol, e as estratégias dos clubes belo-horizontinos em conformar o futebol uma “indústria do espetáculo esportivo”. Frente à crescente demanda social caracterizada pela conformação da identidade clubística, os dirigentes esportivos alcançavam prestígio social e conquistas políticas por meio da atuação no futebol. Além disso, a Liga local e os principais clubes de Belo Horizonte inseriram o futebol nas engrenagens do sistema capitalista através da oferta de disputas futebolísticas durante a década de 1920. Para aprimorar a mercadoria jogo de futebol, passou-se a se exigir cada vez mais dos jogadores, produtores do espetáculo esportivo em questão. Por isso, antes mesmo da regulamentação profissional, constatamos a existência de jogadores especializados, mesmo que de forma incipiente, no campo futebolístico, sendo pagos extraoficialmente para praticarem o futebol, já que a Liga reconhecia apenas o amadorismo esportivo. A criação da Divisão Profissional em 1933 rompeu com a indefinição do status do jogador daquele contexto, inscrito como amador e que atuava como profissional, garantindo-lhe direitos básicos. Entretanto, as fontes apresentam o fato como uma iniciativa dos dirigentes esportivos e não como conquista dos “trabalhadores da bola”.