Resumo

O objetivo da presente pesquisa foi descrever e comparar a demanda físico-laboral, as morbidades, as características sociodemográficas e as condições de trabalho entre policiais e bombeiros brasileiros do Estado do Paraná (PMPR) e militares da Guarda Nacional Republicana de Portugal (GNR). No capítulo introdutório, realizou-se uma breve descrição das raízes históricas as quais comprovam que as polícias militares brasileiras têm origem na GNR portuguesa, que, por sua vez, encontra espelho na gendarmerie francesa. No capítulo seguinte, traz-se uma revisitação na literatura, a qual teve como enfoque as características biopsíquicas de policiais e bombeiros militares. Nesse momento do estudo, dois pontos restaram comprovados, quais sejam a importância de investigar o tema e a inexistência, até então, de um questionário que, de forma sistêmica, permitisse iluminar uma visão holística das demandas físico- laborais, morbidades, características sociodemográficas e condições de trabalho, reunidas em um só espaço. Para alcançar o objetivo, uma vez aprovado o projeto de pesquisa pelo comitê de ética em pesquisa pela UTFPR, o capítulo dedicado a materiais e métodos detalha as três etapas percorridas para a criação, validação, reprodutibilidade, adaptação e aplicação de um questionário, o qual passou a ser denominado “QSP-PMBM – Questionário de saúde-performance para policiais militares e bombeiros militares”. Esse, por sua vez, alcançou a participação de 1.950 indivíduos, sendo 645 policiais militares, 152 bombeiros militares, e 1.154 militares da GNR. O tema foi delimitado em quatro objetivos específicos, a dizer: i) relatar a importância das demandas físicas laborais para o sucesso de uma operação; ii) descrever a vivência das demandas físico-laborais durante uma situação de serviço; iii) identificar as morbidades nos militares; e iv) examinar as características sociodemográficas e condições de trabalho, traçando ao final comparativos entre três grupos: policiais militares da PMPR, bombeiros militares da PMPR, e militares da GNR. Os dados foram compilados em planilha eletrônica, e as estatísticas (Qui- Quadrado) foram manipuladas junto ao programa SPSS, versão 25.0 para Windows, sendo adotado como nível de significância p<0,05. Os resultados manifestaram que das 20 demandas física-laborais questionadas houve associação significante em 13, ou seja, os militares da amostra não concordam em 65% dos casos. As maiores das discordancias estiveram presentes nas demandas “fazer exercícios de musculação” p<0,001, “fazer escavações” p<0,001, e “levantar objetos pesados por até 5 segundos” p<0,001. Os dados revelaram que das 18 demandas físico-laborais questionadas sobre a vivência houve associação significante em 17, ou seja, os militares da amostra não concordam em 94,4% dos casos. As maiores discordâncias que estiveram presentes nas demandas vivenciadas durante o serviço foram: “disparar arma de fogo contra suspeito” p<0,001, “adentrou num pântano ou rio para procurar ou perseguir um suspeito” p<0,001, “arrombou uma porta ou portão usando a força do próprio corpo” p<0,001, “usou de força para imobilizar um suspeito” p<0,001, e “adentrou numa mata de difícil acesso para procurar ou perseguir um suspeito” p<0,001. A investigação comprovou que em 8 das 15 morbidezes apresentadas não houve concordância, isto é, em 53,3% dos casos. As maiores divergências estiveram presentes nos questionamentos sobre: “Distúrbios psicológicos (ansiedade, estresse, depressão)” p<0,01, “Déficit de atenção ou hiperatividade p<0,01, “Deficiência auditiva/surdez” p<0,05, e “Entorse articular” p<0,05. Por sua vez, as doenças como “Lesão por esforço repetitivo (LER)” p>0,05, “Diabetes” p>0,05; “Deficiência visual/cegeira” p>0,05, e “Hipertensão ou pressão alta”p>0,05 tiveram um alto nível de concordância entre os militares. Por fim, as evidências constataram que das 14 características sociodemográficas analisadas houve associação significante em 12, o que significa que os militares da amostra não compactuam em 85,7% das interpelações feitas. As maiores discrepâncias estiveram presentes nos quesitos: “Como classifica o seu ambiente de trabalho” p<0,001, “Etnia” p<0,001, “Número de militares para atender a demanda diárias” p<0,001, e “Como você considera seu salário mensal” p<0,05. Por outro lado, não houve associação significante na indagação feita sobre a “Condição conjugal” do militar p>0,05, e “Com quem você reside a maior parte do tempo” p>0,05. Em conclusão, verificou-se que, não obstante serem originários de um tronco comum, policiais e bombeiros militares apresentam discordâncias em vários aspectos de demandas físicas laborais e biopsicossociais, semelhantemente ao raciocínio aplicável à GNR, a qual, apesar de sua história encontrar enlaces profundos com as polícias militares brasileiras, também apresentaram discordâncias em diversos pontos da investigação quando comparados aos militares brasileiros. Os resultados obtidos são uma rica fonte de informações para os gestores. O QSP-PMBM demonstrou ser instrumento útil para que os gestores obtenham uma visão ampla da realidade policial e bombeiro militar dos dois países, Brasil e Portugal, sendo que os dados ora coletados permitem uma infinidade de associações de variáveis em pesquisas futuras.

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