Resumo

Introdução: A dependência do exercício, definida como um padrão de exercício
multidimensional inadaptado, que leva a um enfraquecimento ou angústia
clinicamente significantes, pode vir a representar um problema na promoção do
papel do exercício na saúde. Poucos estudos, no entanto, têm procurado analisar
qual será a sua prevalência nos cenários de ginásios ou academias (G), bem como na
prática desportiva de competição (D). O objectivo deste estudo foi o de analisar
numa população praticante nestes cenários qual a freqüência da ocorrência dos três
grupos de risco de dependência definidos por HAUSENBLAS e SYMON-DOWNS (2002):
em risco; sintomáticos e assintomáticos e se existiriam algumas variáveis demográficas
que se associassem a esta freqüência. Método: Foram estudados 984 sujeitos (564 de
G; 384 de D; 52% género masculino) com idades de 26.1±9.3 anos e IMC 22.7±2.8
kg/m2 (peso e altura auto-reportados). A freqüência média de prática semanal foi
de 4.8 no D e 4.0 no G (p<.001) e o volume em horas semanais foi igualmente
superior (p<.001) no D (9.8) do que no G (6.8). A Escala de Dependência do
Exercício (PALMEIRA, 2003) é a versão portuguesa da EDS-21 (HAUSENBLAS & SYMONDOWNS, 1999), contendo 21 itens, avaliados numa escala de Likert de 5 pontos,
permitindo a classificação nos grupos de risco supra-citados (α =.91). Osquestionários
foram aplicados em vários locais da zona de Lisboa.Resultados: O chi-quadrado
revelou a existência de diferenças (p<.001), com 27.4; 60.4 e 12.2% de sujeitos no
grupo em risco, sintomáticos e assintomáticos, respectivamente no D versus 12.0;
67.2 e 20.9% no G. Face a estes resultados estudaram-se as restantes variáveis
separadamente por cenário de prática. Sendo assim, nem o género, nem a idade,
nem os grupos de IMC revelaram estar associados aos grupos de risco. Por último,
a correlação de Pearson mostrou que, quer no D, quer no G, os valores de dependência
do exercício se associaram fortemente à frequência e ao volume do exercício
(p<.001).Conclusões: A dependência de exercício, operacionalizada através do
modelo de dependência de substâncias do DSM-IV, é mais frequente no cenário D
do que no G. Não houve diferença na frequência e volume de prática, nem nas
variáveis demográficas analisadas na distribuição dos grupos de risco. Propõem-se
análises futuras sobre os mecanismos que estarão subjacentes às diferenças dos
grupos de risco, especialmente sobre os aspectos motivacionais (teoria da autodeterminação)

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