Resumo
Introdução: A literatura tem apresentado indícios de que o bom desempenho acadêmico se relaciona a um apurado desenvolvimento coordenativo e que esta mesma coordenação motora pode estar relacionada com determinadas características genéticas. Diante disso, este estudo teve como objetivo analisar as características dermatoglíficas, níveis coordenativos e de alfabetização de alunos do Ensino Fundamental 1. Materiais e Métodos: Pesquisa descritiva e transversal, de análise comparativa e correlacional, envolvendo 240 alunos (125 meninos e 115 meninas), com idades compreendidas entre 6 e 11 anos (7,51 ± 0,76), selecionados de maneira aleatória. Foram avaliados alunos regularmente matriculados nos 2º e 3º anos do Ensino Fundamental em 4 escolas da rede pública de ensino regular da cidade de Curitiba/PR. Inicialmente, a amostra foi subdividida em 2 grupos distintos, sendo eles: alunos sem dificuldades na alfabetização - N/DA (n=150), e alunos com dificuldades na alfabetização - S/DA (n=90), de acordo com seus resultados obtidos na Prova Curitiba e análise de portfolio individual. Foram aferidos a massa corporal total (kg) e a estatura (m) para cálculo do IMC. Para acessar o nível de coordenação motora dos grupos, foi aplicado o teste Körperkoordinationstest Für Kinder” – KTK, e para análise do potencial genético, foi utilizado o protocolo dermatoglífico proposto por Cummins e Midlo. Uma vez tabulados os dados, os mesmos foram submetidos ao teste de homogeneidade, a fim de assegurar um maior rigor científico ao tratamento estatístico. Os resultados foram então apresentados através de estatística descritiva. Para verificação de diferenças entre as variáveis, foram utilizados o teste t de Student e a análise de variância (ANOVA); já para verificação do grau de associação das variáveis foi utilizado o teste de correlação de Pearson. No intuito de assegurar a rigorosidade científica da pesquisa, foi considerado o nível de significância de p≤0,01. Resultados: A análise descritiva dos resultados do KTK apontou que 51,67% da amostra geral apresentava coordenação normal e que 42,91% apresentava insuficiência coordenativa, enquanto apenas 5,42% apresentou boa coordenação. Ao analisar a variância dos valores médios dos resultados do IMC e do KTK, foram observadas diferenças significativas entre as 3 classificações de IMC, tanto em relação ao QMT [F(2,237) = 7,867, p<0,01] quanto em relação ao escore total do KTK [F (2,237) = 7,948, p<0,01]. Tal variação foi mais pronunciada entre as classificações de peso normal e de obesidade (p<0,01), de modo que indivíduos com o IMC mais alto atingiram menores escores no KTK, e viceversa. Já comparando os resultados do KTK entre grupos, os resultados apontaram diferenças significativas (p<0,01) entre os grupos N/DA e S/DA em todas as 4 provas aplicadas, bem como no quociente motor total (z=0.258, p<0,01) e escore total (z=0.240, p<0,01). Dessa forma, os escolares com menor dificuldade no processo de alfabetização apresentaram melhor desempenho motor em relação ao grupo com menor desempenho na alfabetização. Não foram observadas diferenças significativas entre as variáveis dermatoglíficas A, L, W, D10 e SQTL entre os grupos, tampouco na correlação entre os resultados das 4 provas do KTK, bem como para o quociente motor e escore total de ambos os grupos. Somente os resultados do KTK apresentaram forte correlação com os grupos N/DA e S/DA (t (238) = 5,976, p<0,01, d = 0,79). Conclusões: Pela análise destes resultados, fica claro a relação inversa existente entre IMC e coordenação motora, bem como entre coordenação motora e alfabetização, o que implica em um olhar mais atento a estas variáveis dentro do processo educacional de crianças. Ademais, considerando que a dermatoglifia permite o reconhecimento do potencial genético de crianças para coordenação motora e, em vista do reduzido número de estudos acerca das relações entre dermatoglifia e dificuldades de alfabetização produzidos até então, recomenda-se o desenvolvimento de mais pesquisas envolvendo distintas populações, a fim de melhor compreender o papel da dermatoglifia no diagnóstico de possíveis dificuldades no desempenho acadêmico subsequente, especialmente no se refere à alfabetização.