Resumo
A obesidade é um transtorno de incidência crescente no Brasil e no mundo, considerada importante fator de risco para desenvolvimento de comorbidades metabólicas e doença cardiovascular. A fim de orientar o gerenciamento adequado da doença e desenvolver estratégias preventivas, a obesidade deve ser diagnosticada precoce e precisamente através de um método acessível e facilmente aplicável a toda a população. Métodos de referência para análise precisa da adiposidade, como a absorciometria por dupla emissão de raios X (DXA), são de difícil acesso a nível populacional, mas amplamente utilizados na validação de outros métodos mais simples e de fácil aplicabilidade. Vários métodos de fácil aplicação se propõe avaliar a adiposidade, no entanto, não há consenso sobre o desempenho dos mesmos na população de adultos jovens brasileiros. Um melhor entendimento sobre o desempenho dos métodos preditores de obesidade se faz relevante para a promoção e manutenção da saúde, portanto, o presente estudo objetiva investigar a validade e desempenho de diferentes métodos antropométricos para avaliação da adiposidade em adultos jovens brasileiros. A presente dissertação contempla dois artigos distintos, sendo os objetivos específicos: a) verificar a validade da equação massa de gordura relativa (MGR) na estimativa do percentual de gordura corporal (GC) em adultos brasileiros; b) verificar o desempenho dos métodos antropométricos índice de massa corporal (IMC), circunferência de cintura (CC), relação cintura-estatura (RCE), índice de adiposidade corporal (IAC) e MGR em avaliar a adiposidade, e identificar os valores de corte ideais para obesidade em adultos jovens brasileiros tendo a DXA como referência. Foram avaliados 233 adultos jovens universitários, 132 homens (22,6 ± 2,6 anos) e 101 mulheres (23,0 ± 2,7 anos). Para desenvolvimento do primeiro estudo, foram realizadas as medidas antropométricas estatura e perímetro do abdômen para cálculo da MGR. Para testar a associação entre o %GC estimado pela MGR e o medido pela DXA foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman. A concordância e reprodutibilidade entre os métodos foi avaliada através do procedimento de Bland-Altman. A MGR apresentou valor médio de 27,8 ± 7,3 %GC enquanto pela DXA o valor médio foi de 25,8 ± 9,9 %GC. A correlação entre MGR e DXA foi de r = 0,86 (p<0,001). Houve diferença estatisticamente significante entre os métodos. A concordância avaliada pelo teste de Bland Altman entre o método proposto e a referência foi baixa, apontando um viés de - 2,0 %GC, com limites de concordância variando de 8,34 a -12,34. Para desenvolvimento do segundo estudo foram realizadas as medidas antropométricas estatura, perímetro de cintura, abdômen e quadril e massa corporal para posterior cálculo do IMC, RCE, IAC e MGR. Para testar a associação entre os métodos antropométricos e a referência (DXA), foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman. Análises de Curvas ROC foram utilizadas para avaliar a capacidade de predição de obesidade dos índices e para definir os pontos de corte que melhor identificam a obesidade. A MGR apresentou melhor correlação com o percentual de gordura corporal aferido por DXA entre os homens (0,809) e quando analisada a amostra total (0,860), também apresentou maior valor de AUC entre os homens (0,935). Entre as mulheres o IAC apresentou maior valor de correlação com o %GC por DXA (0,772) e maior valor de AUC (0,892). Os pontos de corte 24,3 %GC para os homens na MGR e 29,5 %GC para o IAC entre as mulheres apresentaram melhor relação entre sensibilidade e especificidade para determinação da obesidade. Devido às limitações observadas no primeiro estudo na utilização da MGR, o método não é indicado em estudos de base populacional com indivíduos de características similares aos do presente estudo. No entanto, no segundo estudo, comparado aos demais métodos, a MGR foi o que obteve melhor desempenho geral dentre os analisados, especialmente entre os homens. Com base nos resultados obtidos é possível concluir que em contexto de inacessibilidade a exames tidos como referência na análise da composição corporal e adiposidade, a utilização do IAC entre as mulheres e da MGR ente os homens adultos jovens brasileiros fornecem estimativa válida da adiposidade corporal para acompanhamento da saúde populacional, apresentando superior desempenho quando comparados ao IMC, CC e RCE