Resumo
Este estudo investigou o desempenho em habilidades motoras fundamentais e fatores associados em crianças indígenas e não indígenas. O Test of Gross Motor Development – Second Edition (TGMD - 2) foi utilizado para avaliar desempenho em locomoção (DL) e controle de objetos (DCO). O estado nutricional foi avaliado pelo IMC, de acordo com os critérios da OMS. Utilizou-se uma anamnese, com questões estruturadas relacionadas aos espaços físicos e sociais vivenciados pelas crianças. Foram realizados três estudos: 1) um primeiro estudo, realizado no estado do Amazonas com 135 crianças (46 indígenas residentes em áreas urbanas - IU; 64 não indígenas residentes em áreas urbanas - NI; 43 indígenas residentes em aldeia indígena – IA). A maioria das crianças dos três grupos mostraram eutrofia ao considerar as normativas da OMS. Crianças IA apresentaram características ambientais mais favoráveis para ações menos sedentárias que as demais crianças. Crianças IA apresentaram maior DL que NI e IU, e meninos apresentaram maior DL em relação às meninas. A análise também mostrou os mesmos resultados para controle de objetos. Fatores influenciaram de maneira distinta o DL e DCO nos grupos. 2) o segundo estudo foi realizado no estado de Minas Gerais com 94 crianças (71 não indígenas residentes em área urbana - NI; 23 indígenas residentes em aldeia indígena – I). As características ambientais onde vivem I apresentaram-se mais favoráveis para ações menos sedentárias que NI. Foi observada uma porcentagem significativa de crianças com magreza severa e magreza. Essa porcentagem foi maior no grupo I do que no grupo NI. Os resultados indicaram que I apresentaram maior DL e DCO que NI, e meninos NI apresentam maior DCO que meninas NI. Fatores associaram-se de maneira distinta o DL e DCO nos dois grupos (I e NI). 3) o terceiro estudo foi composto por 66 indígenas residentes em aldeias (43 do Amazonas - AM; e 23 de Minas Gerais – MG). Os resultados mostraram que MG apresentaram maior peso, estatura e IMC que AM. Além disso, os resultados mostraram que as características ambientais do grupo MG oportunizaram para mais ações fisicamente mais ativas que AM. Em relação ao desempenho motor, MG apresentou maior DCO que AM. Fatores associaram-se de maneira distinta o DL e o DCO de indígenas do Amazonas e Minas Gerais. De maneira geral, indígenas apresentaram maior desempenho de habilidades motoras fundamentais do que não indígenas, e características ambientais podem explicar esse desempenho. Nas aldeias indígenas, as características ambientais ofertam maiores possibilidades de envolvimento com ações menos sedentárias. Diferentes fatores foram associados ao desempenho motor de crianças indígenas e não indígenas, mostrando que alguns fatores direcionam para possíveis trajetórias de maior desempenho em habilidades motoras fundamentais que outros fatores, dependendo da inter-relação organismo e ambiente vivenciado.