Resumo
Este estudo objetivou investigar o desempenho motor, desempenho acadêmico e o senso de auto-eficácia de escolares das séries iniciais do ensino fundamental, de uma escola básica e municipal da cidade de São José/SC. Os participantes da pesquisa foram 406 crianças, matriculadas de segundas a quartas-séries do ensino fundamental, com idades entre 7 e 10 anos (8,75 anos; ±1,00), sendo 231 meninas (8,74 anos; ±1,02) e 175 meninos (8,77 anos; ± 0.99). Para coleta dos dados foram utilizados três instrumentos de medida: Bateria para Avaliação do Movimento da Criança (MABC; HENDERSON e SUGDEN, 1992); Teste de Desempenho Escolar (TDE; STEIN, 1994) e o Roteiro para Avaliação do Senso de Auto-Eficácia (RASAE; MEDEIROS e LOUREIRO, 1999). A caracterização dos participantes foi realizada por meio de consulta a Ficha de Registro dos Escolares, disponibilizada pela escola. Para análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva e inferencial. Com base nos testes de normalidade, optou-se por utilizar somente estatística não parametrica: U de Mann-Witney, Kruskal-Wallis, Qui-Quadrado (X2), V de Cramer, Gamma (_) e o _ de Spearman. Em todas as análises foi adotado um índice de significância de 5% (p<0,05). Verificou-se que o tipo de dificuldades de aprendizagem mais freqüente entre os participantes, foi em escrita (n=178, 43,8%), seguida, das dificuldades em aritmética (n=146; 36%) e leitura (n=101; 24,9%). A incidência de indicativo de dificuldades de aprendizagem geral foi de 31,3% (n=127). Não foram encontradas associações estatisticamente significativas entre os sexos, quanto ao desempenho em escrita, aritmética e leitura, porém, no desempenho geral as meninas obtiveram melhores resultados. Os valores totais do TDE apontam para uma maior prevalência de dificuldade por parte do sexo masculino, porém, não comprovada estatisticamente. Ao comparar o desempenho nas habilidades motoras entre os sexos, verificou-se que as meninas mostraram melhor desempenho nas tarefas que avaliaram o equilíbrio, enquanto que os meninos saíram-se melhor nas habilidades com bola. Estes resultados puderam ser verificados também, na análise por faixas etárias. As meninas com 7 e 8 anos apresentaram melhor equilíbrio, semelhante ao resultado total da amostra, além de se saírem melhor, também nas destrezas manuais. Os meninos, por sua vez em ambas as faixas etárias foram melhores nas habilidades com bola, em comparação com o sexo oposto. Referente à classificação do desempenho motor, embora a maior parte das crianças tenha apresentado habilidades motoras normais, verificou-se que o percentual de problemas motores definidos ultrapassou o índice apontado pela literatura (4-6% de incidência). Houve co-ocorrência de dificuldades de aprendizagem e problemas motores, sendo encontradas associações estatisticamente significativas nas dificuldades de aritmética, leitura e geral. Referente a auto-eficácia, pode-se dizer que neste estudo, quanto melhor o desempenho motor e acadêmico, melhor foi o senso de auto eficácia. Com base no alto número de escolares identificados com dificuldades acadêmicas e motoras, bem como a influência da auto-eficácia nestes fatores, sugere-se a realização de outros estudos, porém com cunho probabilístico, visando apresentar estimativas oficiais do número de afetados com estes problemas, em escolares brasileiros, bem como, meios para intervenção destes transtornos.