Resumo

O transtorno do espectro autista (TEA) compreende um grupo de desordens do desenvolvimento de causas neurobiológicas, com anormalidades qualitativas e quantitativas que afetam os indivíduos de uma forma abrangente, porém mais evidente nas áreas de interação social, da comunicação e do comportamento. Embora a literatura aponte para repercussões motoras associadas aos quadros de TEA, a dimensão dessas alterações e sua relação com traços ou comportamentos autísticos ainda não são bem conhecidas. Os objetivos deste estudo foram avaliar o desempenho motor de crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA, compara-los aos seus pares com desenvolvimento típico, e investigar a correlação entre traços autísticos e o desempenho motor. Foram avaliados 28 indivíduos com idade entre 6 e 16 anos divididos em dois grupos: grupo caso (autista) n=14 (12 meninos e 2 meninas) e grupo controle (típico) com 14 indivíduos pareados por gênero e idade. Para o grupo caso foram incluídos indivíduos com diagnóstico médico para os TEA (código CID F84-0 ou F84-1), alunos do Instituto Ser (Campinas, SP), com idade entre 03 e 16 anos e que pudessem compreender e responder comandos verbais necessários para a aplicação da escala de avaliação Movement Assessment Battery for Children - Second Edition (M-ABC2). Para o grupo controle foram recrutados indivíduos saudáveis entre 03 e 16 anos que frequentavam escola regular e não realizavam qualquer tipo de tratamento especializado de saúde. Para avaliação motora foi utilizada a escala M-ABC2 que possibilita a avaliação da destreza manual, habilidades com bola e equilíbrio. Os traços autísticos foram avaliados pela escala de traços autísticos (ATA). Foram utilizados os testes de Mann-Whitney e de correlação de Spearman considerando um nível de significância de 5%. Os resultados indicaram que, em relação aos seus pares, o grupo com TEA apresentou um desempenho motor significativamente abaixo do esperado em destreza manual (p<0,001), habilidades com bola (p<0,001), equilíbrio (p<0,001) e desempenho motor global (p<0,001). No grupo TEA, o pior desempenho foi em habilidades que exigem equilíbrio, seguido de destreza manual e habilidades com bola e 12 (85%) dos indivíduos se classificaram abaixo do percentil 5 de desempenho indicando significativo comprometimento motor. Em relação ao comportamento autístico não foi evidenciada correlação entre traços autísticos e a destreza manual (r=0,27; p=0,927), habilidade com bola (r=-0,311; p=0,278), equilíbrio (r=0,059; p=0,842) e desempenho global (r=-0,059; p=0,842). O estudo permitiu concluir que as crianças e adolescentes com TEA apresentam déficits no desempenho motor global incluindo os aspectos de equilíbrio, destreza manual e habilidades com bola. No entanto esses déficits se mostraram independentes dos traços autísticos. O estudo aponta a necessidade de maior atenção ao desempenho motor em indivíduos com TEA e fomenta discussão sobre a contribuição de profissionais da fisioterapia integrando as equipes de tratamento

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