Resumo

Este trabalho analisou, por meio de um estudo exploratório, transversal e caso-controle, o desempenho psicomotor de crianças com hipotireoidismo congênito (HC) acompanhadas nos Ambulatórios do Serviço de Referência em Triagem Neonatal (SRTN) do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, comparadas a crianças típicas sem HC. Participaram do estudo 90 crianças, 50 do grupo HC (idade média de 21,3 meses) e 40 do grupo controle (idade média de 24,2 meses) avaliadas quanto ao desempenho cognitivo, linguagem receptiva e expressiva e motricidade fina e grossa. Foi utilizada a escala de triagem das Bayley Scales of Infant and Toddler Development III que possibilitam classificar o desempenho em competente (baixo risco para atraso no desenvolvimento), em risco emergente ou em risco. Pesquisada a associação entre as categorias de desempenho e os grupos por meio do teste de Contingência ou Qui-quadrado. Para a análise da associação de risco de dados categóricos utilizou-se o Índice Razão de Chances Prevalentes ou Odds Ratio (OR). Nas análises de correlação empregou-se o teste de Spearman. Os resultados indicaram que 75% das crianças com HC fizeram o teste do pezinho até o 6º dia pós nascimento, 75% fizeram o exame confirmatório até o 24º dia, e 50% iniciaram a medicação até o 21º dia e 75% em até o 31º dia de vida. A classificação desempenho em risco só ocorreu em crianças do grupo HC e em todos os domínios avaliados. Não foi observada associação entre os grupos para o desempenho psicomotor nos domínios cognitivo, linguagem receptiva e expressiva e motricidade grossa (p>0,05). Entretanto foi observada associação significativa para o desempenho em motricidade fina entre os grupos (p=0,036). Evidenciada associação de risco de desempenho não competente na motricidade fina para o grupo HC (OR=4,36, IC95%1,32-14,38). Crianças do grupo HC estavam 4,36 vezes mais expostas a apresentar desempenho não competente em motricidade fina do que crianças típicas sem HC. Não foi encontrada associação de risco entre os grupos e o desempenho nos demais domínios avaliados. Houve correlação fraca e negativa entre o nível de TSH no exame confirmatório e desempenho cognitivo e correlação fraca e positiva entre nível de T4L no exame confirmatório e desempenho motor grosso. Os resultados permitiram concluir que crianças acompanhadas em SRTN com bons indicadores de idade de diagnóstico e início do tratamento estão em maior risco para alterações do desempenho em motricidade fina, o que pôde ser evidenciado em idade precoce. Adicionalmente, a ocorrência de desempenho em risco apenas no grupo HC e as correlações observadas sugerem a necessidade de triagem para problemas de desenvolvimento, complementarmente ao acompanhamento de rotina que ocorre nos SRTN.

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