Resumo
Atletas de futebol sofrem pressões por elevado desempenho e rotinas de treino intensas. Esses jovens também têm de lidar com as suas próprias expectativas em relação à sua carreira, bem como as expectativas de seus familiares. A rotina destes jogadores é caracterizada por cobranças tanto na prática esportiva quanto nas obrigações escolares e em muitos casos estes têm pouca interação social, além de estarem fisicamente distantes de sua família e cidade natal. A vida destes jovens é permeada por muitos fatores de risco, ao mesmo tempo em que os fatores de proteção podem estar diminuídos. Esta dinâmica justifica a necessidade de programas de intervenção de cunho preventivo e com foco em habilidades sociais e de coping. Neste sentido, este estudo desta dissertação de mestrado teve como objetivo compreender o significado do futebol na vida de jovens atletas de um clube de futebol do Brasil, bem como desenvolver uma intervenção baseada na Terapia Cognitivo-Comportamental e na Psicologia Positiva para esta população e foi apresentado em dois manuscritos. O delineamento do manuscrito I foi qualitativo transversal, e foi realizada uma entrevista individual semiestruturada com quatro atletas do clube de futebol, visando a conhecer as percepções destes para, posteriormente, respeitar e contemplar estas demandas no desenvolvimento da intervenção. A análise dos dados foi realizada através da Análise de Conteúdo. Os resultados do manuscrito I apontam para as muitas adversidades que estes atletas passam para alcançar o sonho de ser jogador de futebol. Assim, ressalta-se o importante papel da Psicologia neste contexto, que deve reconhecer, para além dos fatores de risco, os significados pessoais que estes jovens atribuem a sua prática e papel enquanto atletas de futebol. A partir dos resultados do manuscrito I, foi planejada uma intervenção cujo impacto foi avaliado e descrito no manuscrito II. O manuscrito II teve delineamento quantitativo quase experimental com avaliação pré e pós-intervenção. Vinte atletas de futebol com idades entre 15 e 16 anos foram alocados em um grupo de intervenção (n=10) e um grupo de comparação (n=10). Os manuscritos I e II contaram com participantes diferentes. A intervenção teve 8 encontros de 90 minutos, com freqüência semanal. Os elementos do bem-estar da Psicologia Positiva, resiliência, habilidades sociais, distorções cognitivas e habilidades de coping foram o foco da intervenção. Os participantes responderam ao Inventário de Habilidades Sociais para Adolescentes, Athletic Coping Skills Inventory, Screen for Child Anxiety Related Emotional Disorders, Escala Global de Satisfação de Vida e à Escala de Afetos Positivos e Negativos para Adolescentes, antes e após a intervenção. O grupo de comparação não passou por nenhuma forma de intervenção. Os atletas do grupo de intervenção apresentaram diferença significativa nas habilidades de coping “Desempenho sob pressão”, “Confiança” e “Liberdade de preocupações”, e aumento significativo da freqüência total das habilidades sociais, bem como da habilidade “Abordagem afetiva” após a intervenção. Não houve diferença significativa pré e pós-intervenção entre os grupos de intervenção e comparação. Os resultados deste estudo apontam para a importância de intervenções que visem a aprendizagem de outras habilidades para a vida além das esportivas para estes atletas, como a promoção de sua saúde mental.