Resumo
A presente pesquisa tem como eixo orientador as relações estabelecidas entre o esporte e uma organização não governamental - o Instituto Ayrton Senna. Podemos afirmar que se trata de um processo de compreensão/esclarecimento acerca das relações estabelecidas entre o esporte e as ONGs na esfera da sociedade capitalista contemporânea. Para tal, adotamos como objeto de estudo o programa "Educação pelo esporte" da citada ONG. Nossa pergunta de partida foi a seguinte: quais os pressupostos político-pedagógicos que permeiam os projetos esportivos/sociais voltados para a infância e juventude no âmbito do Instituto Ayrton Senna? Buscamos, assim, abordar os fundamentos, finalidades, aspectos pedagógicos e sociais do esporte, e as implicações de tais aspectos no que se refere ao cumprimento dos objetivos da citada ONG face aos aspectos contemporâneos que englobam a sociedade capitalista. No que tange aos pressupostos teórico-metodológicos, adotamos a análise documental de caráter qualitativo, tendo como principais fontes: 1) o site do Instituto Ayrton Senna e 2) o livro "Educação pelo esporte", publicado pelo mesmo Instituto. Como ferramenta metodológica, a escolha recaiu sobre a hermenêutica-dialética, propondo, dessa maneira, um diálogo entre as categorias teóricas (capitalismo; organizações não governamentais; esporte e cidadania); e as categorias empíricas (desenvolvimento humano; infância e juventude; co-responsabilidade social; esporte/educação). Sobre os resultados da presente investigação, podemos afirmar que os pressupostos político-pedagógicos adotados pelo Instituto Ayrton Senna estão expressos na proposta de educação para o desenvolvimento humano e na ética da co-responsabilidade social. No que diz respeito ao desenvolvimento humano, podemos dizer que tal proposta é fundamentada na concepção de educação da UNESCO, expondo uma tendência neoliberal de educação, voltada para a adequação dos sujeitos ao projeto neoliberal de sociabilidade, sendo marcada por características como o individualismo, a auto-responsabilização, o pluralismo indiferente às diferenças de classe e a insensibilidade com relação ao atual mundo do trabalho. No que tange a co-responsabilidade social, implicitamente, as ações do Instituto corroboram para que, gradativamente, as questões sociais sejam deslocadas da esfera pública para o campo das empresas privadas e organizações da sociedade civil. Assim, os direitos sociais a serem assegurados pelo Estado, passam a ser serviços prestados no âmbito da sociedade civil organizada ou, talvez, mercadorias a serem consumidas, acarretando em uma espécie de banalização da cidadania. Também pudemos destacar que os objetivos sociais do esporte propalados por ONGs, e mesmo pelo Estado, deixam de considerar uma série de questões pertinentes no que se refere à cidadania, saúde, profilaxia ao uso de drogas, inclusão social, entre outros. Nossa hipótese é que tais projetos acabam, mais, mistificando os processos sociais e banalizando os mesmos, e menos contribuindo efetivamente para seus objetivos propostos.