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Introdução

A inteligência, por um consenso intelectual, é caracterizada como a capacidade de resolver ou de elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários. Outra definição é a capacidade de conhecer, compreender, discernir e adaptar-se. A terceira definição para inteligência é a capacidade de fazer a melhor opção entre duas ou mais situações, portanto ser inteligente é escolher a melhor saída ou a melhor resposta, e esse conceito indica a capacidade de que dispomos para, através da seleção, penetrar na compreensão das coisas (Antunes, 2003).

Tomando-se como ponto de partida estas definições, a sociedade classifica os indivíduos em "inteligentes ou pouco inteligentes".

Apesar destas classificações, a inteligência já não é considerada única e geral, hoje ganha espaço a convicção de Howard Gardner e sua equipe da Universidade de Harvard de que todo ser humano é dotado de inteligências múltiplas, ou seja, todos nós possuímos pelo menos nove inteligências, ainda que uma ou outra apareça mais destacada. Estas incluem as dimensões lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésico-corporal, naturalista, pictória, intrapessoal e interpessoal (Antunes, 2003).

A inteligência intrapessoal está ligada ao autoconhecimento, percepção de identidade e conseqüentemente à auto-estima e compreensão plena do "eu", assim como a capacidade de discernir e discriminar as próprias emoções. A inteligência interpessoal se associa à empatia, relação com o outro e sua plena descoberta, respondendo adequadamente aos temperamentos, estados de humor, motivações e desejos de outras pessoas (Antunes, 2002).

Estas duas inteligências (interpessoal e intrapessoal), são conhecidas conjuntamente como inteligências pessoais, para Gardner (1996), e inteligência emocional, para Goleman (1996). A partir destes conceitos, surge o termo alfabetização emocional, que é a produção de experiências através de jogos e estratégias que abordam e estimulam a inteligência emocional (Antunes, 2003).

A aptidão física e o desenvolvimento motor têm sido as maiores preocupações dos professores de Educação Física em suas aulas. Não há a intenção em desprestigiar essas habilidades nas aulas de Educação Física, pois se correria o risco de descaracterizar a disciplina.

Porém, o fundamental é compreender que estas atividades são meios, e não fins. Devemos observar o ser humano sob seus diversos aspectos - afetivo, psicomotor e intelectual - não se pode aceitar o fato de, isoladamente, qualquer destes componentes manter-se incólume à ação dos demais (Oliveira, 1988).

No presente estudo será abordado o jogo como uma forma simples e natural para o desenvolvimento de um sentimento grupal e pessoal.

Já que o jogar é um elemento da cultura que contém maiores possibilidades para sociabilizar (tornar sociável) e também socializar (estender vantagens particulares ao grupo) e sendo o jogo uma das matérias primas fundamentais para o professor de Educação Física, em sua aula, como as crianças estão pré-dispostas ao jogo quando vão para a aula de Educação Física (Oliveira, 1988), os objetivos deste estudo são: 1) propor atividades de venham a estimular a inteligência emocional nas aulas de Educação Física; 2) oferecer oportunidades para o desenvolvimento da inteligência emocional nas aulas de Educação Física; 3) sugerir a abordagem da inteligência emocional como uma alternativa de trabalho para o desenvolvimento das aulas de Educação Física na escola.

As inteligências múltiplas

A teoria das inteligências múltiplas se apóia nas novas descobertas neurológicas procedidas na Universidade de Harvard e outras universidades dos Estados Unidos que mudam as linhas de conhecimento neurológico sobre a mente humana e colocam em questão processos anteriormente descritos para explicar sistemas neurais que envolvem a memória, a aprendizagem, a consciência, as emoções e a inteligência em geral. Este avanço científico do conhecimento do cérebro foi extremamente significativo não só para a medicina, mas também para a educação, lançando novas bases e diretrizes para a compreensão, por exemplo, do desenvolvimento de estímulos às inteligências e do cuidado de distúrbios ligados à atenção e criatividade (Antunes, 2002).

Estes paradigmas não mudam os tradicionais conceitos usados para definir inteligência, mas alteram sensivelmente a compreensão sobre como aprendemos ou não aprendemos e substitui a concepção de que possuímos apenas uma inteligência. Derruba-se o mito de que a transmissão de informações pode tornar pessoas receptoras mais inteligentes e descobre-se que na realidade, abrigamos um elenco extremamente diversificado de diferentes inteligências, cada uma delas sensíveis a estímulos que, se aplicados de forma conveniente nas idades certas, alteram profundamente a concepção que o ser humano faz de si mesmo e os limites de suas possibilidades (Antunes, 2002).

Daniel Goleman é psicólogo e também um estudioso na área das inteligências múltiplas. Este autor difere em alguns pontos de Gardner no que diz respeito às inteligências inter e intrapessoais. Estas diferenças começam na nomenclatura utilizada por ambos. Enquanto Gardner denomina as inteligências interpessoal e intrapessoal de inteligências pessoais, Goleman as chama de inteligência emocional.

Mas existem outras diferenças entre estes autores. Gardner separa claramente a competência intrapessoal da interpessoal e mostra que uma auto-estima e automotivação elevada nem sempre indicam o prazer em relações de empatia. Já Goleman parece integrar essas duas competências, mostrando que o estímulo a uma sempre conduz ao progresso da outra (Antunes, 2003).

O presente estudo adotará a nomenclatura de Goleman, por se tratar de um conceito mais conhecido e utilizado.

Considerando a colocação destes dois importantes autores, percebemos ainda que Gardner descreve essas inteligências de uma maneira amoral, aceitando que as mesmas, desde que amplamente desenvolvidas, possam ter uma ação para o bem ou para o mal; Goleman se preocupa principalmente com a educação da inteligência emocional e, conseqüentemente, com seu uso como instrumento de mudança comportamental das pessoas. Porém, os dois pesquisadores concordam que hoje há uma nova conceituação para o sentido do que é ser inteligente. E mostram que ninguém pode ser inteligente sob todos os ângulos, nem que ninguém é incapaz em qualquer das inteligências. Ambos propõe uma nova educação (Antunes, 2003).

Esta nova educação deve descobrir um ser humano holístico, com potencial para desenvolver múltiplas inteligências, e a escola tem um papel fundamental para explorar seus alunos em campos diversos e, até mesmo, fazê-los felizes em descobrir a si mesmos. Esse novo paradigma em relação à inteligência interfere, portanto, no tema da educação e traz novas linhas de procedimentos para que a escola convencional acrescente em suas funções instrucional, socializadora e preparadora para o mundo do trabalho uma outra, voltada ao estímulo e educação cerebral e assim, progressivamente, possa ir se transformando em um centro estimulador de inteligências (Antunes, 2002).

2.1 As inteligências múltiplas e os parâmetros curriculares nacionais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) têm o objetivo de orientar, de maneira coerente, as muitas políticas educacionais que existem em todo território brasileiro, contribuindo para melhorar a eficiência, atualização e qualidade da educação. Dentro dessa proposta buscam uma concepção de cidadania que ajuste o aluno e, conseqüentemente, o cidadão à realidade e demandas do mundo contemporâneo (Antunes, 2003).

Os PCN (1997, pg. 7, 8) indicam como objetivos do ensino fundamental, dentre outros, que os alunos sejam capazes de 1) compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de cooperação , solidariedade e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; 2) desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetivas, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania.

No que diz respeito à Educação Física, os PCN apontam a necessidade de a criança, ao longo do processo de aprendizagem, conceber as práticas culturais de movimento como instrumentos para o conhecimento e a expressão de sensações, sentimentos e emoções individuais nas re1ações com o outro. E indicam como objetivos da Educação Física no ensino fundamental a adoção de atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência.

Portanto, buscar o desenvolvimento e estimular a inteligência emocional nas aulas de Educação Física escolar estão de acordo com as propostas dos PCN e com as necessidades atuais para a formação do cidadão ético, autônomo e participativo.

Metodologia

O presente estudo é um projeto de pesquisa qualitativa que será realizado com alunos da quarta série do ensino fundamental de escola da rede pública municipal de ensino do Rio de Janeiro.

O estudo se desenvolverá baseado em um questionário proposto por Antunes (2003, pg.246), que será respondido pelo professor avaliando cada aluno, individualmente.

Os alunos também participarão respondendo ao mesmo questionário, cujo objetivo será diagnosticar o autojulgamento (o que o aluno sabe dele mesmo) e o hetero-julgamento (o que o professor acha dele).

Após o preenchimento deste questionário começaremos a intervenção através de aulas que serão realizadas durante três meses, uma vez na semana, com duração de 45 minutos por aula.

Nas aulas serão realizados jogos propostos pelos autores da teoria das inteligências múltiplas que apontam para a estimulação da inteligência emocional. Ao final dos três meses, professor e alunos responderão novamente ao mesmo questionário. Serão comparadas as respostas dadas antes e após as aulas, para se constatar ou não a influência efetiva das atividades na mudança de postura e crescimento pessoal e coletivo do grupo em estudo.

Também serão realizados relatórios de observação sobre o que ocorreu durante a realização das atividades.

Apresentação dos resultados

Os resultados serão apresentados através de interpretações das respostas dadas ao questionário antes e depois das aulas. Deste modo, poderemos comparar as concepções dos alunos após participarem da pesquisa e o nível de influência das atividades propostas.

4.0 Conclusão

Como o presente trabalho é um projeto de pesquisa, ainda não podemos avaliar seus resultados. Porém em relação aos textos e autores pesquisados na revisão de literatura nota-se a importância e a urgência de se trabalhar a inteligência emocional nas escolas nos dias atuais.

Com as novas concepções sobre a mente humana, onde se propõe um ser humano dotado de inteligências múltiplas, a escola de hoje não pode trabalhar com seus alunos como se estes fossem apenas sujeitos passivos de um processo ensino-aprendizagem que valoriza na maior parte dos seus objetivos o aspecto cognitivo. Essa escola deve ser mais que uma instituição que prepara seus alunos para o mercado de trabalho, ela deve ser um centro estimulador das múltiplas inteligências. Deve incluir também em seus objetivos a formação de um cidadão ético, autônomo e capaz de se relacionar com os outros e consigo mesmo.

A Educação Física não pode ficar de fora deste projeto, pois tem um espaço privilegiado para explorar as relações inter e intrapessoais, contribuindo para essa formação holística do ser humano que envolve seus aspectos afetivo, cognitivo e motor.

Obs. Os autores, Fábio Henrique Ribeiro Tavares (fabio.hribeiro@ig.com.br) é posgraduando na UCB e a Dr. Sissi A. Martins Pereira (sissimartins@terra.com.br) é professora do DEF - UFRRJ

Referência bibliográfica

  • Antunes, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 12.ed. Rio de Janeiro: Vozes,2003.
  • ¬¬¬__________. Alfabetização emocional - novas estratégias. 10. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
  • ¬¬¬__________. A inteligência emocional na construção do novo eu. 11. ed. Rio de
  • Janeiro: Vozes, 2003.
  • ¬¬¬__________. Como desenvolver conteúdos explorando as inteligências múltiplas. 3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
  • Brasil. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
  • ¬¬¬__________. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos Temas Transversais e Ética. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
  • ¬¬¬__________. Parâmetros curriculares Nacionais: Introdução. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
  • Goulart, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 20. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
  • Oliveira, Vítor Marinho.O que é Educação Física. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.
  • Thomas, Jerry R., Nelson, Jack K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2002.