Resumo
As investigações que procuram analisar o processo de desenvolvimento tático-técnico na formação esportiva de jovens em ambientes naturais têm aumentado nos jogos esportivos coletivos. Historicamente, as opções metodológicas se inserem em dois grandes paradigmas, tradicional/mecanicista e alternativos/intencionais/incidentais. A Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) vem promovendo atividades formativas, com enfoque nos jovens praticantes, para padronizar as formas de jogo adotado no naipe masculino, desde as categorias de base até o adulto. O evento denominado Acampamento Nacional de Desenvolvimento e Melhoria Técnica , realizado de forma concentrada, tem oportunizado estímulo ao desenvolvimento de atletas das categorias infantil (sub14), cadete (sub16) e juvenil (sub18). Assim, o objetivo geral da presente investigação foi analisar as estratégias utilizadas para o desenvolvimento tático-técnico nos Acampamentos Nacionais das categorias infantil (sub14), cadete (sub16) e juvenil (sub18), no naipe masculino, promovidos pela Confederação Brasileira de Handebol. Trata-se de um estudo ex-post facto de caráter descritivo e analítico. Para obtenção das informações foram utilizadas fontes documentais e o banco de imagens e vídeos da CBHb. Integraram o estudo atletas que participaram do Acampamento Nacional de Desenvolvimento e Melhoria Técnica, no ano de 2014, realizado na cidade de Blumenau/Santa Catarina. Como procedimentos para coleta de informações utilizou-se a análise documental e a observação sistemática, adaptada conforme proposta do instrumento Sistema Integral para el Análisis de las Tareas de Entrenamiento (SIATE). Na análise dos dados foram utilizadas a técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2011) e os procedimentos estatísticos descritivos (frequência e percentil) e inferencial (teste Exato de Fisher), por meio do Software SPSS versão 22. Os resultados revelaram que a realização dos Acampamentos Nacionais contribuiu para traçar diretrizes para o desenvolvimento esportivo por oportunizar experiências de aprendizagem ao longo dos dias de trabalho. Cada sessão de treino orienta-se para uma dimensão do padrão de jogo em fase de implantação sistematizado por Jordi Ribera. Um protocolo de aquecimento, com duração média de 12 minutos, foi realizado em todas categorias investigadas, especificamente para favorecer a ativação dinâmica musculomioarticular por meio de exercícios coordenativos, atividades balísticas e domínio de centro (CORE). Na parte principal do treino identificou-se uma importante participação dos postos ofensivos: lateral, central e pivô e defensivos: segundo, avançado e base; tendo em vista o sistema defensivo 5:1. Ocorre uma ênfase no jogo com o pivô (posicionado ou consequência de ações pré-organizadas chamadas de desdobramento ou circulação). Constatou-se a preocupação com o aumento de implicação progressiva dentro de cada sessão de treino e ações em predomínio de superioridade 2x1, 3x2 e 4x3 com ou sem apoio em detrimento a igualdade numérica. O espaço de jogo prioritariamente utilizado é a meia quadra e, quando as ações acontecem em um quarto, as atividades tendem a ser organizadas em alternância dos lados. A utilização de jogos (pré-desportivo, simples e complexos específicos) está presente 73,1% das atividades dos Acampamentos. A presença do goleiro ocorre em 87,5% das atividades e a oposição ativa compõe 75,6%. Há uma maior ênfase para o desenvolvimento de conteúdos ligados às condutas tático- técnicas ofensivas e defensivas de grupo (58,6%). Os meios de aplicação dos conteúdos a partir de jogos simples e complexos compõem 66,2% das atividades com significância estatística (p-valor=0,011); assim como os conteúdos gerais, tendo a conduta tático-técnica de grupo de ataque e/ou defesa presente em 63,8%, com significância estatística (p-valor=0,034) e; a fase de jogo é a mista, na relação defesa vs ataque, presentes em 65,6% do total das atividades, com significância estatística (p-valor=0,009), entre os acampamentos infantil, cadete e juvenil. Em todas as sessões de treino há o momento dedicado as ações dos postos específicos e compõem a parte final da sessão de treino, por meio de ações de jogador contra goleiro predominantemente 2x0, com a execução de passe anterior ao lançamento ao gol. Enquanto que na relação lateral/ponta ou ponta/lateral não haviam oponentes, na relação central e pivô envolviam tomada de decisão. Conclui-se que o processo de desenvolvimento dos aspectos tático-técnicos, por meio de acampamentos de formação, possibilita aprendizagens dos conteúdos propostos, apresentando-se como estratégia interessante comparada aos procedimentos de detecção/seleção via peneiras esportivas. A CBHb vale-se de sessões de treino, relacionadas com análise de vídeo e competição interna para organizar os Acampamentos Nacionais de Desenvolvimento e Melhoria Técnica. No entanto, sugere-se alteração de nomenclatura em função da grande presença de meios alternativos que privilegiam estímulos de condutas tático-técnicas orientados para o desenvolvimento da capacidade de jogo (técnica, física, tática, psicológica, teórica). Constata-se que as situações de jogo em estruturas funcionais reduzidas orientam as tarefas das sessões de treino do Acampamento Nacional, com preferência para situações de superioridade numérica. As tarefas seguem uma lógica, visando um padrão de ataque pré-fabricado, a partir do desdobramento do lateral, do central e da circulação do ponta. Os meios predominantes são os jogos simples e complexos para balizar as fases de desenvolvimento misto. A presença do goleiro e os níveis de oposição real também compõem as orientações estruturais das sessões de treino nas três categorias investigadas. O padrão de jogo presente nos acampamentos orienta para um comportamento defensivo a partir do sistema 5:1, tendo em vista um processo de recuperação da posse de bola por meio de deslocamentos sucessivos e ativos. O ataque visa construção de um padrão de jogo por meio de ações pré-organizadas a partir de movimentações de desdobramentos da armação e circulação dos pontas, baseado em conceitos de desmarque e oferecer-se e continuidade ofensiva, visando criar situações de superioridade numérica.