Desobstruir o Corpo: a Renegociação do Trauma no Processo do Bailarino-pesquisador-intérprete
Por Elisa Massariolli da Costa (Autor), Graziela Estela Fonseca Rodrigues (Autor).
Resumo
Este trabalho pretende recobrar um recorte de estudos apresentado na Tese de Doutorado “A dinâmica do parto no processo criativo do método Bailarino-Pesquisador-Intérprete (BPI): um aprofundamento sobre a relação entre diretora-intérprete e sua importância no nascimento da dança”, defendida e orientada pela primeira e segunda autoras desta comunicação, respectivamente. Dentre os diversos aspectos abordados no decorrer desta pesquisa, quer-se enfatizar, aqui, a importância do desenvolvimento pessoal do bailarino-pesquisador-intérprete e do papel da diretora na condução desse processo, visando-se alcançar uma qualidade artística de excelência. O método BPI, por ter uma abordagem fenomenológica nos seus laboratórios corporais, garante um espaço de acolhimento para o conteúdo inerente ao intérprete e, muitas vezes, no decorrer do processo, o corpo revela mobilizações sensíveis provenientes de experiências traumáticas. Abre-se, portanto, a possibilidade de desprocessamento e elaboração desses traumas, não com o intuito de transformá-los em cena mas, sim, diante da necessidade de liberar o corpo para o conteúdo criativo em si. Na Tese mencionada, ao olhar a relação diretora-intérprete a partir de diferentes pontos de vista, uma vez vivenciando-a como intérprete e sob a direção artística da profa. Dra. Graziela Rodrigues, a bailarina-pesquisadora-intérprete pôde experienciar um processo de desvelamento, desprocessamento e reelaboração de um trauma, apoiada por dinâmicas e laboratórios cuidadosamente planejados pela diretora. Nessa trajetória, ao explanar as diversas etapas de renegociação do trauma e o que isso proporcionou em termos do desenvolvimento do processo criativo, encontrou-se no método terapêutico Somatic Experiencing (SE), criado pelo Dr. Peter Levine, abordagens que levam a uma compreensão psicofisiológica do trauma a qual possui semelhanças na maneira como se compreende e se lida com esse tema no método BPI. A profa. Dra. Graziela Rodrigues, criadora do método BPI, já havia traçado paralelos entre essas metodologias em publicação anterior, nos Anais da ABRACE de 2013. Na presente comunicação, pretende-se retomar esses diálogos, levando-se em consideração os desdobramentos do processo criativo vivenciado durante a elaboração da Tese mencionada, preservando-se as devidas diferenças entre o propósito criativo trazido pelo método BPI e o propósito terapêutico que é o foco do SE.