Resumo

O objetivo do presente estudo foi analisar o documento intitulado "Nova Política para o Desporto Brasileiro - Questão de Estado", elaborado sob a égide do Ministério da Educação em 1985, procurando , nas suas oitenta indicações, evidenciar tergiversações ou/e ratificações sobre a participação do desporto no continuismo político, uma patologia social endêmica, que se entranhou na sociedade brasileira de forma melíflua mas absurdamente danosa e perversa. Algumas questões como a do Estado, a da função social que tem como paroxismo a inculcação dos valores dominantes e o aumento da produtividade no trabalho provocado por alterações fisiológicas significativas, foram abordadas de modo mais detalhista na medida em que a "lumpem-intelligentzia de licenciados" da Educação Física sempre e de forma servil preconiza uma certa "neutralidade" para o "agir-pedagógico" do fenômeno antropológico em questão, o desporto. Neste sentido, extrapolando tal preconício, procuramos enfatizar que esta "intelligentzia" atropela a história, hábito dos ideólogos pequeno-burgueses, estipendiados pelos mecenas modernos, quando atribui ao Estado uma função meramente paternalista de conjurador ou/e moderador de impasses entre as classes sociais. Mesmo porque a análise marxista do Estado nos propicia o conhecimento de que "ele", representado pelo governo, é um mecanismo de defesa e guarda necessário ao continuar da supremacia econômica e espiritual de uma classe sobre a outra. Por outro lado, buscamos demonstrar que, sendo imanente ao capitalismo periférico a exacerbação das contradições sociais, é hipostasiada a preocupação em resgatar uma "certa dívida social" que é diretamente proporcional ao quadrado da dívida externa, apregoada pelos beleguins da "Nova República", e se constitui numa ignorância lapidar que busca o acobertamento das causas que a determinam e das vias históricas de sua superação. Procuramos ainda apreciar a participação do desporto, na sua vertente fisiológica, no aumento da produtividade dos operários e trabalhadores num determinado lapso de tempo, o que, por sua vez, reduz o "tempo de trabalho necessário" a restauração da força de trabalho e, conseqüentemente, aumenta o "tempo de trabalho excedente" do qual se apropria o capitalista. Na verdade, o desporto é um coadjuvante, em sociedades capitalistas, do aumento da "mais valia relativa", pedra de toque dos suseranos modernos. Todavia, o objetivo mor deste trabalho é tentar demonstrar o atrelamento do desporto, enquanto mecanismo de enquadramento do aparato ideológico, à idiossincrasias e ao desiderato ignóbil da classe dominante em nosso país.

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