Resumo

Desportistas de renome, um pouco por todo o lado, têm vindo a despir-se de
preconceitos nos últimos anos. Até já os escandinavos - tradicionalmente liberais
no que toca à nudez - começam a tecer comentários. No presente trabalho
analisam-se as causas e consequência deste fenómeno, encaradas à luz da
contemporaneidade. A exposição da nudez dos desportistas iniciou-se nos
calendários para fins de beneficência, tendo evoluído para os calendários
destinados à recolha de fundos para apoio à actividade desportiva dos próprios
retratados, dos seus clubes ou federações. O movimento cresceu e as pessoas
começaram a reparar nos corpos treinados. Mesmo as culturas mais
conservadoras como a portuguesa compreenderam e aprovaram. Quando
finalmente chegámos à abordagem fotográfica do corpo atlético e entrámos
no domínio da arte, toda a gente aplaudiu.A censura surgiu não com a exposição
da nudez, mas quando os atletas encarnaram poses e encenações consideradas
desmerecedoras do seu estatuto de desportistas, ainda que a maioria oferecesse
a sua nudez por uma causa que não é individual mas colectiva. Como o grupo
de sete esquiadores noruegueses de elite que resolveu retratar-se num calendário
de 2005 com vista a obter fundos destinados a financiar o esforço da Associação
Norueguesa de Sky na promoção da modalidade. Segundo os atletas retratados,
o calendário «é arte, não é especulativo [...] é incrível o que um bom fotógrafo
consegue extrair de corpos cansados». Parece que de repente toda a gente se
apercebeu de que os atletas têm corpo. Numa época em que a tendência para
a imaterialização é irreversível, lembramo-nos subitamente de que o corpo
existe. No nosso entender, parece ser esta consciencialização do corpo dos
atletas a maior consciência cultural deste fenómeno. Na causa da censura social
mais ou menos velada diríamos que reside uma intolerância em que o corpo
desportivo seja usado para fins não desportivos.

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